Serra da Canastra recebe a 2ª Pré-Romaria das Águas e da Terra de MG

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No domingo 05 de agosto, próximo à Cachoeira Casca D’Anta, na Serra da Canastra, MG, no município de São Roque de Minas e Vargem Grande, foi realizada a 2ª Pré-Romaria da XXI Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais.


O evento iniciou às 9h30, com a acolhida das comunidades, na Pousada e Restaurante Dois Irmãos, com um café partilhado. Em seguida, houve a celebração da Santa Missa, ao lado do Córrego do Luciano, um dos muitos afluentes do Rio São Francisco. A Missa foi presidida pelo bispo emérito Dom Mauro Morelli e concelebrada pelos padres da Forania de Piumhi. O vigário geral diocesano, padre Antônio Campos Pereira e o Frei Gilvander, da CPT, MG, também estiveram presentes.

A animação musical ficou por conta do grupo do Terço dos Homens.

Durante a homilia, Dom Mauro Morelli alertou para a beleza da cultura canastreira e das comunidades tradicionais. Recordou que o Parque Nacional da Serra da Canastra, decretado em 1972, foi imposto a ferro e fogo pelo governo federal que, com o exército e a Polícia Federal, expulsou sumariamente mais de 3 mil famílias, sem pagar a elas nenhum centavo. O Parque compreende 200 mil hectares dos quais 86 mil já estão demarcados. Os proprietários que puderam judicializaram a perda da terra e, após 20 anos de demanda judicial com o Governo Federal, receberam uma indenização injusta. Os pequenos perderam a terra sem receber nem um centavo. Hoje, há um esforço para se efetivar um acordo que garanta o direito sagrado das famílias tradicionais canastreiras de continuarem morando na área do Parque, em sintonia com a preservação do mesmo. Todos são contra as investidas de Mineradoras que estão de olho gordo na área da Serra da Canastra, porque ali está a maior jazida de diamante do Brasil, explicou o bispo.

Em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT), frei Gilvander ressaltou o sentido e a mística da Romaria das Águas e da Terra de MG que está sendo realizada anualmente há 21 anos. “Sagrado não é apenas a hóstia consagrada e os santuários. A terra é sagrada e é mãe. Á água é sagrada, é irmã e fonte de vida. A Romaria das Águas e da Terra objetiva contribuir para percebermos a sacralidade que está na mãe Terra e na Irmã Água, nos povos e em todos os seres vivos. Não podemos tolerar mais o sistema capitalista que, como uma máquina de moer vidas, está nos levando a um Apocalipse final e inviabilizando o futuro da humanidade e de todos os biomas. Precisamos frear o progresso, o desenvolvimento econômico e barrar a cultura do individualismo, do consumismo e do usar a terra, a água e todos os bens naturais como mercadoria. O Deus da vida não criou nenhum tipo de monocultura, nem agronegócio, nem mineradora e nem cidade. Dezenas de cidades da Diocese de Luz, em 2017, passaram por racionamento de água, disse o frei.

Ainda durante seu discurso, Frei Gilvander, reforçou o convite para todos participarem da XXI Romaria da Águas e da Terra de Minas Gerais, no dia 16 de setembro, n Paróquia São Francisco de Assis, em Lagoa da Prata.

Padre Antônio ainda acrescentou, que nos últimos 100 anos acabaram com o Cerrado, nos 33 municípios da Diocese de Luz. Se não houvesse monocultura da cana, teríamos mais preservação ambiental e a vida seria melhor. Não podemos continuar tratando a terra e a água como mercadoria. O desafio é grande e está em nossas mãos, comentou o vigário geral diocesano.

Após a cerimônia, houve apresentação de um grupo de tocadores e cantadores canastreiros, que gravaram um DVD com 11 músicas em defesa da Cachoeira Casta D’Anta e de toda a Serra da Canastra.

Houve almoço e após, os presentes percorreram até a Cachoeira Casta D’Anta.

Romaria das Águas e da Terra

Há 20 anos as Romarias das Águas de da Terra são promovidas nas dioceses de Minas Gerais, neste ano de 2018 será a primeira vez na Diocese de Luz, na cidade de Lagoa da Prata.

As Romarias é uma iniciativa da Comissão da Pastoral da Terra – CPT. Elas são tradicionais, têm um caráter ecumênico e ainda mais macro-ecumênico, incorporando ritos e símbolos de outras religiões ao universo católico. As Romarias da Terra valorizam o religioso, e não falham na sua contribuição profética. Nelas se busca mais que confortar o coração, se busca a transformação da sociedade, a construção do Reino de Deus.

As Romarias da Terra tem como foco o coletivo e a realidade do povo. “A romaria contribui para transformar a mística e a espiritualidade em gesto e compromisso concretos”.

A CPT realiza Romarias da Terra desde 1978. As primeiras se deram no Rio Grande do Sul e em Bom Jesus da Lapa, Bahia. Há grande diversidade de Romarias, tanto pela periodicidade com que são realizadas, quanto aos locais.