Papa: Que não haja violência doméstica nas famílias, mas paz e unidade

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Na Missa desta segunda-feira, 4, Francisco dirigiu seu pensamento às famílias trancadas em casa por causa da pandemia e rezou para que não haja violência, mas paz, paciência e criatividade

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante homilia da missa realizada na Casa Santa Marta no Vaticano/ Foto: Vatican Media

O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta segunda-feira, 4, da IV Semana da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu pensamento às famílias. “Rezemos, hoje, pelas famílias: neste tempo de quarentena, a família, trancada em casa, busca fazer muitas coisas novas, muita criatividade com as crianças, com todos, para seguir adiante. E tem também outra coisa, que, às vezes, se tem a violência doméstica. Rezemos pelas famílias, para que continuem em paz com criatividade e paciência nesta quarentena”.

Na homilia, o Pontífice comentou a leitura do dia retirada do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 11,1-18) em que Pedro, repreendido pelos irmãos ainda atrelados às normas mosaicas por ter comido numa casa de pagãos, conta que o Espírito Santo desceu também sobre eles. Pedro – afirmou o Santo Padre – o fizera, porque o Espírito Santo o tinha guiado. Mas na Igreja – observou Francisco – há sempre esse sentir a si mesmos justos e considerar os outros pecadores. Essa é uma doença da Igreja que nasce das ideologias. É um pensar mundano que se faz intérprete da Lei. São ideias que criam divisões, a ponto que a divisão se torna mais importante do que a unidade. “O Senhor quer a unidade”.

No Evangelho (Jo 10,11-18), Jesus afirma que tem também outras ovelhas que não são deste redil e também a elas deve conduzir. “Escutarão a sua voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. Diz ser pastor de todos: grandes e pequenos, ricos e pobres, bons e maus. Veio para todos, morreu por todos. Também pelas pessoas que não creem n’Ele ou são de outras religiões: veio para todos. Temos um só Redentor. Todavia, a tentação é dizer eu sou desta ou daquela parte. As diferenças são lícitas, mas na unidade da Igreja. Temos todos um só pastor, Jesus. Que o Senhor nos liberte da psicologia da divisão e nos mostre que somos todos irmãos em Jesus”, foi a oração conclusiva do Pontífice.

Íntegra da homilia

Quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis o repreenderam. Repreenderam-no, porque tinha entrado na casa de homens não circuncisos e comido com eles, com os pagãos: isso não se podia, era um pecado. A pureza da Lei não permitia isso. Mas Pedro o fizera, porque tinha sido o Espírito Santo a levá-lo ali. Sempre há na Igreja – havia muito na Igreja primitiva, porque a coisa não era clara – este espírito de “nós somos os justos, os outros (são) os pecadores”. Este “nós e os outros”, “nós e os outros”, as divisões: “Temos propriamente a posição justa diante de Deus”. Ao invés, há “os outros”, se diz também: São os já “condenados”. E essa é uma doença da Igreja, uma doença que nasce das ideologias ou dos partidos religiosos. Pensar que, no tempo de Jesus, havia ao menos quatro partidos religiosos: o partido dos fariseus, o partido dos saduceus, o partido dos zelotas e o partido dos essênios, e cada um interpretava “a ideia” que tinha da Lei. E essa ideia é uma escola fora da Lei quando é um modo de pensar, de perceber o mundo que se faz intérprete da Lei. Até Jesus era repreendido, porque entrava na casa dos publicanos – que eram pecadores, segundo eles – e comia com eles, com os pecadores, porque a pureza da Lei não permitia isso; e antes da refeição não lavavam as mãos… Mas sempre aquela repreensão que cria divisão: isto que eu gostaria de ressaltar é importante.

Há ideias, posições que criam divisão, a ponto que a divisão é mais importante do que a unidade. A minha ideia é mais importante do que o Espírito Santo que nos guia. Tem um cardeal emérito que mora aqui no Vaticano, um pastor muito bom, e ele dizia a seus fiéis: “A Igreja é como um rio, sabem? Alguns estão mais desta parte, alguns da outra parte, mas o importante é que todos estejam dentro do rio”. Essa é a unidade da Igreja. Ninguém fora, tudo dentro. Depois, com as peculiaridades: isso não divide, não é ideologia, é lícito. Mas por que que a Igreja tem essa amplitude de rio? Porque o Senhor quer assim.

O Senhor, no Evangelho, nos diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”. O Senhor diz: “Tenho ovelhas em todos os lugares e eu sou pastor de todos”. Este “todos” é muito importante. Pensemos na parábola do banquete nupcial, quando os convidados não queriam ir: um porque tinha comprado um campo, outro tinha se casado… cada um deu o seu motivo para não ir. E o proprietário enraiveceu-se e disse: “Ide, pois, às encruzilhadas e trazei todos à festa”. Todos. Grandes e pequenos, ricos e pobres, bons e maus. Todos. Este “todos” é, de certo modo, a visão do Senhor que veio para todos. “Mas morreu também por aquele desgraçado que me tornou a vida impossível?: morreu também por ele. “E por aquele bandido? morreu por ele. Por todos. E também pelas pessoas que não creem n’Ele ou que são de outras religiões: morreu por todos. Isso não significa que se deve fazer proselitismo: não. Mas Ele morreu por todos, justificou todos.

Aqui em Roma, há uma senhora, uma boa mulher, uma professora, a professora Mara, que, quando se encontrava em dificuldade… e havia partidos, dizia: “Cristo morreu por todos: vamos pra frente! Aquela capacidade construtiva. Temos um só Redentor, uma só unidade: Cristo morreu por todos. Ao invés, a tentação… também Paulo a sofreu: “Eu sou de Paulo, eu sou de Apolo, eu sou desse, eu sou daquele…” E pensemos em nós, cinquenta anos atrás, no pós-Concílio: as coisas, a divisões que a Igreja sofreu. “Eu sou desta parte, eu penso assim, você assim…” Sim, é lícito assim, mas na unidade da Igreja, sob o Pastor Jesus.

Duas coisas. A repreensão dos apóstolos a Pedro, porque tinha entrado na casa dos pagãos, e Jesus que diz: “Eu sou o pastor de todos”. Eu sou pastor de todos. E que diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho”. É a oração pela unidade de todos os homens, porque todos os homens e as mulheres… todos temos um único Pastor: Jesus.

O Senhor nos livre desta psicologia da divisão, de dividir, e nos ajude a ver isto de Jesus, esta coisa grande de Jesus, que n’Ele somos todos irmãos e Ele é o Pastor de todos. Que hoje esta palavra “todos, todos!”, nos acompanhe ao longo do dia.

Comunhão e adoração

O Papa convidou aqueles que não podem comungar sacramentalmente a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração: “Aos vossos pés, ó meu Jesus, prostro-me e vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito, que mergulha no seu nada na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, a inefável Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que meu coração vos oferece; à espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós. Amo-vos. Assim seja”.

O Santo Padre terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal: “Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia! Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia! Ressuscitou como disse. Aleluia! Rogai por nós a Deus. Aleluia! D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia! C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!”.

Fonte: CNBB