Padre Pedro Lacerda Gontijo completa 96 anos de vida

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Padre Pedro Lacerda Gontijo completou nesta terça-feira, 03 de outubro, 96 anos de vida. Os amigos e padres da cidade de Bom Despacho, onde o padre residia há mais de 50 anos, não deixaram passar despercebida a data.

Padre Pedro é natural de Moema e ordenou-se sacerdote em primeiro de novembro de 1945, em Belo Horizonte, pelas mãos de Dom Antônio dos Santos Cabral – o primeiro arcebispo de belo Horizonte. Neste ano, ele fará 72 anos de vida sacerdotal, destes, 51 ele está na cidade de Bom Despacho.

Padre Pedro foi para a cidade de Bom Despacho ainda quando era padre religioso, e depois foi Capelão Capitão da Polícia Militar e Capelão da Capelania da Santa Casa de Bom Despacho, onde mora atualmente.

PEDRO LACERDA – O PADRE FELIZ!

            Existem pessoas que se tornam ícones. São presenças tão expressivas que marcam seu espaço e se transformam em referência, modelo para os demais. Tal sua intensidade de vida e presença, que se transmudam em verdadeiros mitos, e geradores de mitos.  Tornam-se assunto, motivo de conversa, agenda de reunião e, isso somente para os mais agraciados, pauta de jornal! Motivam casos e causos, e não há quem não tenha uma história, um causo, uma palavra para dizer sobre tão expoente figura.

            Entre estes baluartes bondespachenses, nome forte na santa Igreja, na sociedade e nos rincões eclesiásticos está  Pe. Pedro Lacerda! Não há bondespachense que se preze, que não tenha algo a dizer sobre ele, seja mito ou verdade, causou vivência factual, experiência própria ou de outrem, mas ninguém, ouso reafirmar, nenhum bondespachense existe que não tenha recebido em sua vida, em algum momento qualquer, a visita deste mito – Pe. Pedro.

            Como bondespachense devoto que sou, também eu me atrevo, nestas humildes linhas, dizer algo sobre este homem que, desde a minha mais tenra infância, marcou-me tão profundamente que até hoje carrego, em minhas lembranças mais infantis, sua figura, seu jeito e, de modo mais recente, suas palavras de ordem: “Seja padre, mas padre de verdade! Para fazer coisas de padre e honrar a Igreja com o seu sacerdócio!”

            Tive a grande graça, como tantos, de ser batizado por ele. Ele me viu criança, me ungiu pela primeira vez. O crisma que no dia 29 de julho de 2017 foi solenemente derramado sobre  as minhas mãos, outrora fora antecedido pelo mesmo Santo óleo que Pe. Pedro marcou minha fronte, como participante do múnus sacerdotal de Cristo. Na simples Capela da Santa Casa, também ele marcou a vida dos meus pais, unindo-os em nome de Cristo e da Igreja, no sagrado matrimônio.

            Fui crescendo ali, em torno daquele homem de fé. Levado quando criança para participar da devoção da primeira sexta-feira de cada mês, via-o horas e horas a fio, no pequeno confessionário colocado à direita de quem entra na capela, enquanto as irmãs conduziam a adoração ao Santíssimo Sacramento. Depois rezava com devoção a fórmula da bênção, abençoava o povo e, com notória piedade, celebrava a Santa Missa. Ah, por falar na Santa Missa! Tantos e quantos acorriam diariamente ao alimento da Palavra e da Eucaristia vindo das mãos deste homem, todos os dias às 17 hs, e aos domingos, às 09 hs! A princípio sendo levado, depois, com minhas próprias pernas, tornei-me discípulo assíduo das pregações, homilias e celebrações de Pe. Pedro. Seu saber sempre me seduziu, sua fé me fazia brilhar os olhos. Por vezes,  atrevia-me a visitá-lo e sempre me impressionava, um menino-adolescente que era, vê-lo lendo, estudando incansavelmente, e sempre, sempre, rezando e consultando seus livros em latim.  Hoje, temos livros escritos a respeito dele. Muitos dos bons escritores bondespachenses já lhe dedicaram seu tempo, suas páginas e versos.

            Os tempos mudaram, o calendário correu, os anos se foram. Quanta coisa mudou! Como mudamos nós! Mas lá continua ele, para quem quiser ver, sentado em sua tradicional poltrona, com sua batina bege, rezando seu breviário, vezes o terço, ou lendo, estudando. Para todos nós, povo das colinas dedicadas à Senhora do Sol, católicos ou não, Pe. Pedro representa um homem que deu certo, alguém realizado, que se encontrou e, por isso, soube ajudar os outros, a sociedade, e marcou com sua existência a vida de um povo! Professor, militar, assessor do bispado, nada disso se compara ao homem de Deus, devoto da Santíssima Virgem e amante do sacerdócio, sobretudo do que lhe é mais próprio: a Eucaristia e o Sacramento da Reconciliação. Homem da Igreja! Entre os muitos batizados pelo Pe. Pedro estão os padres que ele gerou, conheço pessoalmente três.

             Peço licença para partilhar com os caros leitores a experiência recente que vivi com ele: às vésperas de minha ordenação presbiteral, fui à casa dele levar o convite. Como sempre, me recebeu, me ouviu, deu suas razões para uma possível ausência e ao final me disse: “Meu filho, seja padre, padre! Hoje os padres querem se meter em muitas coisas e se esquecem do que lhes é próprio. Celebre missas, ouça confissões, esteja com seu povo, estude muito, honre a Igreja! Eu sou um padre muito, muito feliz. Se eu pudesse hoje, escolher mais uma vez, eu escolheria ser padre!” Após estas palavras ele me abençoou. Nem preciso dizer o que estes vocábulos me causaram. Saí de lá entre lágrimas, prometendo a mim mesmo honrar a vida e a memória deste homem, sonhando em ser um dia um pouquinho como ele e, sobretudo, ser um padre feliz!       Possivelmente, ao lerem estas letras, muitos podem pensar que se trata de mais um caso ou causo, um conto ou estória, referente a esta figura nobre de Bom Despacho. Talvez seja! Eu sei que da verdade eu não sou dono, quase nada sobre ele eu sei. Se perguntam o que posso dizer a respeito dele, é que um dia este sacerdote entrou em minha vida e me marcou de tal modo, que o levarei em minha memória e coração para sempre! Talvez ele nem saiba quem eu sou, certamente não se lembra de mim, mas eu sei quem ele é – Pe. Pedro Lacerda, um homem de Deus, amante da Igreja, um padre! Um padre muito feliz.

Pe. Douglas Rodrigues Xavier

Propter Christum et pro amore ecclesiae