Mês da Bíblia: “A Bíblia é essencialmente instrução, ensino e sabedoria, arte de viver”

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Padre Johan Konings participou recentemente de uma livre promovida pela Edições CNBB sobre o tema do Mês da Bíblia 2020. Com a mediação do padre Thiago Faccini, a conversa abordou desde o processo de tradução oficial da Bíblia da CNBB como também sobre a importância da interpretação da Sagrada Escritura.

Padre Johan Konings participou da equipe de coordenação de tradução e revisão da Bíblia Sagrada da CNBB. O projeto teve início ainda em 2007 e o lançamento oficial se deu em 2018, na sede da Conferência, em Brasília (DF).

Durante a live, padre Johan explicou que a equipe seguiu as recomendações do Concílio Vaticano II, e que com isso, a atual tradução oficial da Bíblia se baseia nos textos originais hebraicos, aramaicos e gregos, comparados com a Nova Vulgata – a tradução oficial católica.

Assim como a Nova Vulgata, a nova Bíblia leva em conta novas descobertas documentais e a crescente valorização das antigas traduções gregas, siríacas, egípcias e latinas, às vezes mais antigas ou de maior importância para a Igreja que os textos comumente considerados como os mais originais.

Mês da Bíblia – Na live, padre Johan também contextualizou o Mês da Bíblia e sua importância pastoral. De acordo com ele, por iniciativa de um grupo, foi considerado que a cada mês de setembro, que é o mês da Festa de São Jerônimo, o grande tradutor da Bíblia para o latim, fosse estudado um livro da Bíblia, de modo especial para acostumar as pessoas mais simples a ler a Bíblia diretamente e não em torno dela. “Esta é a intenção do mês da Bíblia”, salientou.

Cartaz oficial do Mês da Bíblia 2020
Cartaz oficial do Mês da Bíblia 2020

Padre Johan citou que este ano é dedicado ao livro do Deuteronômio que não é “um livro fácil, mas com uma boa metodologia”: “No livreto que foi apresentado em cinco sessões pode-se ter acesso ao próprio texto do livro do Deuteronômio que para os antigos judeus e, portanto, também para Jesus era o principal livro da lei de Moisés”, salientou.

Segundo padre Johan no livro do Deuteronômio tanto o conteúdo quanto o prefácio são importantes. “O Livro foi o quinto atribuído a Moises, então é uma espécie de síntese do Torá ou da Lei para o povo de Israel”, disse. Aqui, ele também enfatizou que a Bíblia é “essencialmente instrução, ensino e sabedoria, arte de viver”.

O estudioso também alegou que a Bíblia tem que ser lida em correlação com a nossa vida. “A Bíblia serve em certo sentido de critério para ler a Bíblia da nossa vida (…). A primeira revelação de Deus é a nossa vida. E a Bíblia nos ajuda então a descobrir esse Deus que se revela dentro da nossa vida”. disse.

Como ler e interpretar a Sagrada Escritura, evitando o fundamentalismo? – De acordo com padre Johan, é preciso utilizar dois pés para se ficar diante da Bíblia. Um pé, segundo ele é a oração e o outro pé é o espírito de Discípulo, “ver Jesus como o nosso grande mestre”.

“Esse mesmo mestre assimilou a sabedoria do seu povo, que é o Antigo Testamento, por isso também que devemos ler o Antigo Testamento através da compreensão que Jesus nos ensina. Muitas coisas do Antigo Testamento Jesus nem quis tocar porque não tinha mais nenhuma atualidade do tempo dele. Já outras coisas continuaram muito atuais, como a fidelidade ao matrimônio”, explicou. Por isso, padre Johan aconselha a não darmos tanto peso ao Antigo Testamento.

Segundo ele, o significado de fundamentalismo é procurar uma fundação inabalável. “Ora gente, o inabalável é Deus, não somos nós! Procurar o inabalável na letra da Bíblia não dá, porque a letra da Bíblia é relativamente nova. Ainda assim Jesus só usou uma pequena parte do Antigo Testamento para os seus ensinamentos. Muitas vezes ele também inventava outros ensinamentos que eram mais acessíveis ao povo através das Parábolas, por exemplo”, explicou.

Para padre Johan pegar uma frase da Bíblia totalmente fora do contexto e querer provar algo é fundamentalismo. “A única coisa que nos é provado na Bíblia é o amor de Deus e Jesus Cristo que dá a vida por nós, então devemos entender toda a Bíblia como uma revelação, uma preparação da revelação do amor de Deus que se manifesta plenamente em Jesus Cristo e que é coroado por Deus na ressurreição de Jesus”, afirma.

Ainda, conforme padre Johan, a Bíblia tem uma certa hierarquia. “Nem todas as frases da Bíblia tem o mesmo valor, o mesmo peso. Jesus nunca quis que carregássemos sobre os ombros todo o peso da Bíblia”, disse.

Evangelhos e o tempo da pandemia – Conforme padre Johanos Evangelhos são a parte mais importante da Bíblia para os discípulos de Jesus. O restante, de acordo com ele, serve para compreender, para ambientar Jesus nos Evangelhos. “A presença de Jesus na Bíblia, especialmente na leitura litúrgica, é tão real quanto na Eucaristia, já dizia o papa Bento XVI. E isso é muito importante nesta época em que por causa da pandemia, do isolamento social, do distanciamento, muitas pessoas só podem receber regularmente o Cristo da Eucaristia”.

Padre Johan acentuou que assim como a memória da morte e ressurreição de Jesus na Eucaristia e na Comunhão torna Cristo presente onde reina a fé, a caridade e o amor, também a proclamação da Palavra de Jesus, traz Jesus presente e faz com que ele se torne uma presença em nossa vida. “Isso é presença real (…). Há muitas pessoas que pensam que real significa físico e não é. Físico são os objetos, mas ali é real por ser invisível. Jesus está presente quando a sua palavra toca em nosso ouvido, principalmente quando estamos de alma aberta recebendo as Palavras que são lidas na liturgia”, disse.

Veja a live na íntegra em: https://www.youtube.com/watch?v=RZ4sQhNfKjo.