Homilia
MISSA DE ABERTURA DO ANO JUBILAR NA DIOCESE
Luz, 29/12/2024
ACOLHAMOS O ANO SANTO DA ESPERANÇA, DESDE A MANJEDOURA E A CRUZ
I – Um Ano Santo entre duas manjedouras…
Não por acaso, o Santo Padre “postou” o ano Santo da Esperança – sua abertura e clausura – justo na festa da Sagrada Família – portanto compreendido entre “duas manjedouras”, do ano 2024 e do ano 2025.
O Papa quis, assim, foi fixar-nos o olhar e um olhar alongado, na Sagrada Família – para durante este Ano Santo, comtemplarmos (no sinal da criancinha frágil, humilde, pobre de Belém, envolta em panos na manjedoura), o misericordioso amor de Deus pela humanidade, traduzido no grandioso mistério da Encarnação!
1.1 Providencial! Pois sem compreendermos e acolhermos o profético sinal da humildade e do esvaziamento com que Deus vem ao nosso encontro, jamais nós seriamos capazes de esvaziamento e humildade, condições imprescindíveis para o permanente encontro com Deus e os irmãos. Disso, precisamente, é que depende nossa tão pedida conversão e a disposição para um coração manso, próximo, sereno e misericordioso, livre de arrogância e ganância de prestígio e poder.
1.2 Além do mais, Francisco, está inquieto pela forte sedução da atual cultura da “liquidificação” e do descarte dos valores humanos e espirituais junto às famílias, incluídas as “boas famílias cristãs”. Esta questão foi um dos temas do último Sínodo, especialmente, as famílias que não aceitam mais ter filhos, o que é grave ameaça para o futuro de qualquer sociedade). Assim o Papa, podemos intuir, está sinalizando, a importância fundamental e primordial das famílias para a humanidade e para o Reino, na continuidade da história da salvação!
Por isso é que este Ano Santo, nos coloca na escola da Sagrada Família; na escola de José, com sua humildade, responsabilidade e valentia, como esposo e pai guardião; na escola de Maria, mãe atuante e atenda à sua família, mas também silenciosa em oração, à escuta para entender o que Deus vai realizando!
Que neste ano Santo, a Sagrada Família revele muitos segredos que, hoje, tanto necessitam nossas famílias, para permanecerem fiéis à sua vocação e missão (recordemos que, os termos FAMÍLIA e SERVIÇO vêm da mesma raiz latina, famulus), sua vocação primeira é, pois, acolhida e serviço à vida!
II- Ano Jubilar – um Ano Santo para renovar a grande família: a Igreja inteira e as Igrejas Locais (Dioceses)
2.1 Deus, à imagem de si mesmo – uma relação trinitária em família, e da Sagrada Família, onde gerou seu Filho, assim quis Ele formar para Si uma grande família, – espalhada por todo o mundo – e que se encarna em cada Igreja Local: são 3.026 (Arqui)Dioceses em todo o mundo.
Em cada Igreja Local, e aqui entre nós – este território sagrado do Centro Oeste Mineiro, Jesus Cristo, com seu Evangelho chega, toma carne, ganha nome e rosto, olhos, voz, coração, habita casas, cidades, bairros, comunidades, famílias; aqui Cristo ganha mãos e pés para o serviço e a missão evangelizadora. São dezenas de centenas de comunidades, formando Paróquias em redes; são 54 Paróquias tecendo 7 Foranias, e Foranias em rede, tecendo a Diocese; e isto, através da corresponsabilidade dos vários Conselhos, em todos os níveis! Eis o nosso belo corpo eclesial, que através de seu Plano de Evangelização, sonha melhor se articular, se sintonizar com Francisco, como Igreja do Concílio Vaticano II, sempre mais participativa, sempre mais sinodal dentre si mesma, e com a Igreja Inteira – em comunhão com o Papa e o Colégio Episcopal de todo o planeta.
2.2. Mas, a Família Igreja é sempre “um canteiro em obras”, jamais acabada! E como há sempre o risco do cansaço e da rotina, um Ano Santo cai como um tempo de graça para nos dar conta da graça de ser os escolhidos.
Há no cinema americano, já traduzindo para o Brasil, um belíssimo seriado chamado “The chosen”, (os escolhidos), já disponível também no YouTube. São cenas de muitas passagens dos evangelhos, com base nos relatos, mas com expressão mais livre, mostrando a misteriosa liderança e ação de Jesus nas vidas das pessoas, com suas buscas e dúvidas, questões e dificuldades, mas Jesus com estrema paciência e sabedoria, os conquistou e os fez “os escolhidos”, sua Igreja.
2.3. Um Ano Santo, além de oportunizar nossa ação de graças devida a Deus pelos seus inarráveis benefícios, ele objetiva-nos sacudir para nos darmos conta da absoluta novidade que Jesus aporta à nossas vidas; e nos deixarmos, assim, nos intrigar e nos entregar nas mãos dele, e nos deixando conduzir como seus “escolhidos”, sua Igreja.
Exatamente, é por isso e para isso um ano Santo, para nos despertar para a incrível responsabilidade de carregar tão grande segredo e mistério de Jesus Cristo e sua salvação para a humanidade, é que, continuando a experiência do Velho Testamento, a Igreja vem celebrando Jubileus, ininterruptamente, desde 1300; e desde 1475, de 25 em 25 anos, fora os extraordinários.
III – O Ano Santo Jubilar 2025 – tema, lema e proposta
Francisco, na bula, “spes non confundit – a esperança não decepciona”, propõe o tema “Peregrinos de Esperança”, e como lema inspirador Romanos 12,12: “alegres na esperança, perseverantes na tribulação e constantes na fé”.
A proposta deste ano jubilar nos aponta um duplo movimento:
3.1 Um movimento é para o INTERNO, isto é, para dentro de nós mesmos e das nossas comunidades eclesiais, para um tempo forte de conversão, de avaliação e aprofundamento da fé, da esperança e da caridade, tanto no pessoal, como no comunitário: é apelo a renovarmos nosso ato de fé e adesão a Jesus e ao seu projeto:
- Onde estamos diante de nossa grave responsabilidade de levar, história-a-dentro, a memória viva e o conteúdo de misteriosa e grandiosa graça da encarnação e da redenção em Jesus Cristo?
- Como estamos vivenciando e testemunhando a fé, a esperança e o amor-caridade, o amor social e a solidariedade?
Noutras palavras, somos questionados: onde estou, onde estamos na conversão a Cristo e ao Evangelho, condição de verdadeiro seguimento, para que nossa fé, esperança e amor sejam visíveis, fecundos, produzam frutos de santidade, de paz, de justiça, de fraternidade, de unidade, comunhão e missão. E como algum disse: “a paz que sonhamos vem o do amor que nos falta”! Pois, a nossa Paz é Cristo! A nossa esperança é Cristo! O nosso amor é Cristo!
Eis que Francisco nos convoca a ser peregrinos de esperança, nas pegadas do Crucificado – de olhos fitos e fixos n’Ele pendente da cruz (João3,14-15), pedindo-lhe misericórdia para curar nossas feridas do pecado, como o antigo povo eleito mordido das serpentes do deserto, era curado, ao fitar a serpente de Bronze.
Mas, por mistério insondável de Deus, seu amor por nós extrapolou toda medida, Ele se fez UM AMOR LOUCO! Pois, pendente desta cruz nós fitamos é o próprio Deus, em seu Filho Amado, não poupado pelo nosso resgate.
Assim, junto com a manjedoura (a encarnação), o crucificado (a redenção) é a nossa fonte renovadora, neste jubileu, penhor de nossa esperança e impulso missionário para “esperançarmos” os crucificados de hoje!
Mas povo de Deus, um alerta, um risco! Por estarmos já tão “domesticados” ou “familiarizados” à imagem do Crucificado, ela pode perder sua força interpeladora e questionadora, e não mais nos “incomodar”!
E, não nos interpelando, tampouco nos inspira como deveria à generosidade de amor; à perseverança resiliente, ao amor de sacrifício e às renúncias exigidas por nossas responsabilidades pessoais, comunitárias, familiares, eclesiais e sociais.
Exatamente por isso, é que as crises, dificuldades, cruzes, perturbações, provações, facilmente, nos desanimam, porque, simplesmente, nos esquecemos do que o Mestre Divino nos dissera ao nos chamar: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga” (Mt. 16,24).
Neste sentido, é que o ano jubilar traz uma enorme variedade de propostas para avançarmos na fé, no amor e na esperança, alcançando as indulgências que nos limpam das feridas dos pecados passados e das tendências de recaída, pela condição de pobres pecadores.
Haverá assim, múltiplas celebrações, peregrinações e atividades nos lugares santos e nas paróquias, e até temos, entre nós, os Missionários da Misericórdia, nomeados diretamente pelo Papa, se acaso necessitarmos nos penitenciar dos pecados reservados à Santa Sé (informe-se!).
Nossos lugares Santos de peregrinação na Diocese: Catedral – Igreja Santana de (Bambuí) – Nossa Senhora do Patrocínio (Abaeté), Santuário Nossa Senhora das Dores (Dores do Indaiá), Nossa Senhora do Bom Despacho (Bom Despacho), São Carlos Borromeu (Lagoa), Nossa Senhora do Carmo (Arcos), São Vicente Ferrer (Formiga), Nossa Senhora do Rosário (Piumhi) e Santuário Nossa Senhora Aparecida (Campos Altos).
3.2 O outro movimento do jubileu é para FORA, é missionário, e faz voltar o olhar para o mundo ao nosso redor, para o que acontece na vida, no mundo, na nossa sociedade, no meio ambiente, nossa “casa comum”.
- É perguntar-se como, e em que medida, nossa vivência da fé repercute na sociedade;
- É perguntar-nos como melhor propor a Boa Nova de Cristo, quais desafios e quais oportunidades hoje oferecidas ao Evangelho. É a chamada “leitura dos sinais dos tempos”, como o Vaticano II já ensinou.
- É ainda perguntar-nos qual nossa contribuição como Igreja, para enfrentar os desafios à paz, à justiça, à vida, aos direitos humanos fundamentais, ao meio ambiente!
- Por isso é que o Papa Francisco, nos aperta, sem abraçar: “serão reconhecidos como peregrinos de esperança todos os que se fizerem próximos dos que estão solitários e excluídos da sociedade, vivendo em situações degradantes ou de grande desolação” (Spes non confundit).
ORAÇÃO MARIANA PARA O ANO SANTO:
Mantra inicial: “Vem Senhora, vem! Vem nos ajudar. Vem Senhora, vem! Vem conosco caminhar”.
Ó Maria, Senhora da Luz, Mãe e Estrela da Esperança, ajude-nos, à escola da Sagrada Família, a viver, frutuosamente, este Ano Santo Jubilar, a crescermos, pessoalmente, em família e comunidade, na santidade e na fé, na esperança e no amor, pela graça de Teu Divino Filho, Amor crucificado, nosso Mestre e Salvador.
Vem, Senhora, peregrinar conosco a jornada evangelizadora, nesta Centenária Igreja de Luz. Abençoa-nos e protege-nos, oh mãe, e nos ensine a ser autênticos peregrinos de esperança e missionários da misericórdia e da alegria, estando sempre próximos e prontos para “esperançar” a quem mais necessite de amor, esperança e fé. Amém.
Dom José Aristeu Vieira
Bispo Diocesano de Luz