Seminarista Pedro Alaércio participa de missão na Diocese de Araçuaí

O seminarista Pedro Alaércio vivenciou a II Ação Missionária com seminaristas na Diocese de Araçuaí, entre os dias 13 a 22 de janeiro de 2024, em Berilo-MG.

Foi um momento profundo de escuta, partilha e convivência com seminaristas e religiosos provenientes de várias regiões e dioceses, realizado nas 37 comunidades da paróquia Nossa Senhora da Conceição.

O tema proposto para ação missionária deste ano foi: Vocação, Sinodalidade, Pertença. Três palavras que podem ser resumidas no lema: “Muitos membros, um só corpo” (1Cor 12, 12).

Pedro Alaércio foi designado para a comunidade rural Barbosa, uma das mais próximas, 15 km da cidade. Na comunidade residem aproximadamente 27 famílias. As casas não são próximas, para chegar em algumas teve que ir de carro, outras a pé, subindo e descendo ladeiras de estrada de chão, trilhas ou atravessando o córrego.

Relato do seminarista na íntegra

“Em cada casa que cheguei ouvi: ‘bem-vindos, a casa é simples, mas o coração é grande’, parecia que tudo era muito comum e ao mesmo tempo uma grande novidade. Que riqueza de acolhida! Na simplicidade de cada lar, um grande sinal de Deus. E logo a prosa acontecia.” Relata o Seminarista Pedro Alaércio.

Vivenciei a II ação missionária com seminaristas na Diocese de Araçuaí entre os dias 13 a 22 de janeiro de 2024, em Berilo-MG. Foi momento profundo de escuta, partilha e convivência com seminaristas e religiosos provenientes de várias regiões e dioceses, realizado nas 37 comunidades da paróquia Nossa Senhora da Conceição.

O tema proposto para ação missionária deste ano foi: Vocação, Sinodalidade, Pertença. Três palavras que podem ser resumidas no lema: “Muitos membros, um só corpo” (1Cor 12, 12). A vocação é de todos os batizados, é graça de Deus, por isso é força que nos desinstala para sairmos em missão. A sinodalidade, que não é moda nova, é o específico da Igreja povo de Deus. É caminhar juntos, indicando uma Igreja cada vez mais participativa e corresponsável. A pertença, que nos leva a refletir o tema, diz do específico da fé do povo do Vale do Jequitinhonha. Uma fé encarnada, que tem movimento e marcas profundas das inúmeras lutas e situações vividas. A presença ativa dos leigos reforça um dinamismo próprio e o serviço zeloso e comprometido. Sabemos que os membros do corpo, embora diferentes, precisam agir em unidade para o bem do corpo, assim deve caminhar a Igreja: cada um, com seu carisma e função, formando um só corpo e um só Espírito, no amor.

Fui designado para a comunidade rural Barbosa, uma das mais próximas, 15 km da cidade. Na comunidade residem aproximadamente 27 famílias. As casas não são próximas, para chegar em algumas tivemos que ir de carro, outras a pé, subindo e descendo ladeiras de estrada de chão, trilhas ou atravessando o córrego.

Em cada casa que cheguei ouvi: “bem-vindos, a casa é simples, mas o coração é grande”, parecia que tudo era muito comum e ao mesmo tempo uma grande novidade. Que riqueza de acolhida! Na simplicidade de cada lar, um grande sinal de Deus. E logo a prosa acontecia. Não foram conversas rápidas, ficamos até mais de hora em algumas casas. Em certos dias, voltamos a noite pela estrada, só com a luz da lua e das estrelas. Me convenci de que as vezes é preciso tirar o relógio do braço para poder escutar, para ser presença e não somente estar ali. Se engana quem pensa que na missão se leva Deus a alguém, não somos colonizadores, talvez sejamos colecionadores de boas sementes. Deus já está lá, na simplicidade da casinha, no cafezinho, ou no pouquinho de água para os missionários.

Água é um problema na região, chove pouco. Devido ao assoreamento fruto do garimpo e destruição das nascentes dois importantes rios que passam por Barbosa estavam secos. Percebi, nas casas, algumas caixas grandes de cimento e placas para contenção d’água das chuvas. Uma solução do governo que até funcionou, porém, muitas estão danificadas e acabam vazando. Os moradores fizeram uma rede que vem do rio Araçuaí para abastecer as casas, tiveram bastante trabalho. Mesmo assim, a água chega só uma vez por semana, isso quando a bomba não estraga ou as águas do rio estão sujas. Experimentamos o drama para concertar a bomba e o pedido pela chuva foi constante nas orações do povo.

Nas conversas, ao me apresentar, alguns conheciam Pains e outras cidades da nossa região. Os mais jovens e até os adultos, pela falta de oportunidade, vão em busca de trabalho no sul de Minas e em São Paulo. Por aqui, ficam por vezes esposas, pais, avós, estes não deixam seu pedacinho. Os jovens que vão, quando conseguem estabilidade, se casam, formam suas famílias, mas sempre voltam as fontes. É bonito ver a chegada dos que foram trabalhar. Também estes dão testemunho da luta, da fé e esperança. Um e outro falavam: “tivemos que ir, hoje conseguimos ajudar aqui em casa, mas não é fácil viu”, “se aqui está assim, arrumadinho, é porque Deus ajudou que deu certo lá”. É bonito ver que valorizam cada pequena coisa, cada pequena conquista. Tudo é um dom.

O povo sofre com o descaso dos governantes. Estradas totalmente danificadas. Quando a chuva vem, não passa nada e durante a seca o carro e as motos atolam na poeira. Sem contar algumas pontes sem beiral e de tabuas.  Em Barbosa passa a BR 367, uma via federal. Nos documentos ela é toda asfaltada, mas na realidade não tem nem sinal, tudo terra, pedra, buraco. A ponte do rio Barbosa, o rio que está seco, caiu em 2004, até hoje está jogado no chão. Quando chove, na região ou na cabeceira do córrego, os moradores ficam ilhados porque o rio enche e não dá para atravessar.

Visitamos todas a famílias, católicas e os irmãos evangélicos. Quanta riqueza nas partilhas, histórias bonitas de superação, recomeço, trabalho, doação. Sentimos juntos e as lagrimas foram, por vezes, nossa oração. Por mais que tenham suas vidas marcadas pelo tempo, saudade e dificuldades, nada disso impede o povo de conservar o sorriso no rosto. Sinal de quem acredita e tem esperança. Aqui o povo quase não murmura e muito me ensinou sobre isso.

Celebramos juntos São Sebastião, padroeiro da comunidade. O povo se reúne para celebrar, não esperam as coisas virem prontas. Com pouco fazem muitas coisas, não tem preguiça. Se querem cantar eles dão jeito, se precisam das coisas eles vão atrás, existe uma liberdade criativa maravilhosa, fruto de uma consciência de comunidade muito profunda. Nas preces a vida sempre aparece. A capela é extensão das casas, e o povo exerce seu sacerdócio com maestria e solenidade. O entusiasmo e alegria ritmado pelos tambores do congado, e a tradição de cantar o terço, causaram em mim uma emoção muito forte.

Enfim, só posso agradecer, Deus tem sido generoso comigo, permitindo que eu vivesse tais experiências. Foram dias intensos, levo comigo o testemunho, as histórias, as famílias que visitei e que me deram hospedagem, levo comigo uma riqueza. Encontrei tantos, mas, no fim, fui encontrado.