Com Pedro e Sob Pedro: A Missão de Servir na Igreja Mãe

Um breve relato sobre o voluntariado no Jubileu

Daniel Ribeiro Vieira

 

Peregrinos de Esperança: Eis o chamado que o Senhor tem nos dirigido constantemente, mas, de maneira especial, neste ano 2025 da incarnação de Jesus Cristo, Seu filho amado. Deixar para trás a terra natal em direção ao novo e desconhecido é se tornar peregrinante, colocando-se à disposição dos irmãos naquilo que é necessário, e desse modo, vivendo propriamente a experiência que o ano jubilar convida a todos os cristaos, isto é, reforçar os laços com Deus e se reconciliar com a comunidade cristã, abrindo as portas para uma convivência pacífica e harmônica. Assim, a já tradicional saudação de Sua Santidade, o Papa Leão XIV, “a paz esteja convosco” é a voz que do coração da Igreja ecoa para todo o mundo como um convite a trilharmos juntos esse caminho de comunhão.

No último mês, desde o coração da Igreja, como voluntário, foi possível viver esse chamado de disponibilidade aos irmãos e irmãs que peregrinam até o túmulo do apóstolo Pedro. Essa experiência se torna mística ao conseguir, apenas pelo espaço que nos situamos, correlacionar a espiritualidade e o serviço gratuito àqueles que precisam. Assim, na vivência privilegiada do Ano Jubilar, foi possível conhecer a Basílica de São Pedro como um servidor-peregrino que trilhou nos passos dos outros peregrinos, fazendo com que suas experiências fossem ainda melhores.

 

I   – O Voluntariado

 

Durante eventos extraordinários, como o Ano Jubilar, a Igreja de Roma, por meio do Dicastério para a Evangelização, convoca de todo o mundo cristaos-católicos que possam se dispor a fazer com que a experiência jubilar seja uma realidade na praça de São Pedro e na Basílica Papal. Desse modo, ao ser aprovado para tal vivência, fui simultaneamente convocado para, ao viver minha experiência de peregrino, fazer com que a experiência de outros fosse melhorada. Essa foi, em minha vida, a primeira oportunidade de conhecer Roma, e a Cidade do Vaticano, então se pode perguntar: Pode um cego, guiar outro cego?

Antes da chegada à cidade eterna fui tocado pela mesma pergunta. Como poderia eu ser capaz de acolher, orientar, e direcionar peregrinos de tantas línguas se sequer conhecia o local que iria desempenhar este ministério. Então, as respostas do Senhor sempre maiores que nossas perguntas foram capazes de me formar e enviar, de modo, a agir de maneira brilhante com os demais irmãos. Assim, quando fui apresentado como voluntário recebi uma introdução e, a partir dessa, fui enviado para o trabalho.

Enquanto voluntário, nos tornamos parte de uma comunidade bastante diversa, a comunidade da Domus Spei. Essa é a residência oficial daqueles que servem no jubileu, e, como era de se esperar, está sempre cheia de servidores-peregrinos das mais diversas nacionalidades; éramos, na primeira semana, dois brasileiros, em um mar de europeus, latinoamericanos, e asiáticos, e posteriormente na segunda semana, éramos quatro brasileiros em meio a também muitos outros. Apesar das origens bastante diversas, um único motivo nos unia naquele lugar: o amor de Cristo.

Assim, entre a vida na Domus Spei, e a Basílica de São Pedro, desenvolvemos diariamente os turnos de serviço. De modo geral, os Voluntários são posicionados em lugares estratégicos para orientarem, organizarem, e direcionarem os milhares de peregrinos e turistas que diariamente visitam a Basílica Papal. Durante diversas vezes, estive perto do túmulo de São Pedro, em que acredito ser a experiência mais bela, naquele lugar se recebia os grupos de peregrinos que partiram da Praça Pia, e como último ato de sua peregrinação, recitavam a profissão de fé diante dos restos mortais do apóstolo. Portanto, ao se juntar a cada um desses grupos, se é possível fortalecer a vida espiritual em meramente acompanhar tantos e tantas que queriam somente viver sua fé, expressando em sua própria língua o desejo de união a Cristo.

Por fim, ressalta-se quão belo é viver a fé católica, em meio a diversidade de línguas, raças e nacionalidade, isto é, apesar de tantas coisas que nos diferem enquanto seres humanos, temos um único motivo que nos torna próximos independentemente de quaisquer outras coisas, este é: CRISTO!

 

II   – O Jubileu dos Seminaristas
 

O tempo de peregrino me permitiu viver, também do coração da Igreja de Roma, o jubileu dos Seminaristas. Neste evento jubilar se reuniram mais de 4000 jovens de todo o mundo que buscam escutar o chamado do Senhor, e discernir a vocação que são de fato chamados a responderem no seio da comunidade. De maneira a favorecer também entre nós o sentimento da unidade, a programação contava com uma experiência musical e a meditação do Santo Padre.

Então, na segunda-feira (23/06), na Basílica Papal de São Paulo fora dos Muros, os Seminaristas tiveram um profundo momento de interioridade com a meditação dos mistérios do Santo Terço. Conduzidos a cada mistérios por seminaristas de diferentes nacionalidades foi possível testemunhar a comunhão que a Igreja no mundo vive, e mesmo com línguas diferentes, o espírito de oração era mantido de maneira ímpar. Ao findar dessa imersão, os Seminaristas receberam as boas vindas a Roma pelo Exmo. Dom Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, que se dirigiu a todos com afeição pedindo que abrissem os corações a viver a bela experiência de reconciliação que o Ano Jubilar propicia a todos. Ainda na Basílica de São Paulo, o Coro da Diocese de Roma, regido pelo Revmo. Monsenhor Frisina, entoou belas canções católicas numa apresentação magnífica que certamente tocou aos presentes.

Na manhã de terça-feira (24/06), a Basílica de São Pedro foi pequena para o mar de Seminaristas que aguardavam a chegada do Papa Leão XIV. Após uma peregrinação em grupos desde a Praça Pia até a Basílica, todos alegres e com cantos receberam a Sua Santidade que dirigiu uma meditação carregada de sentimentos a todos ali presentes, entre tantas belas palavras, o Santo Padre agradeceu os Seminaristas: “obrigado por terdes aceitado com coragem o convite do Senhor para o seguir, para serdes discípulos, para entrardes no seminário. Deveis ser corajosos, não tenhais medo” (Meditação do Santo Padre Leão XIV, por ocasião do Jubileu dos Seminaristas, em 24.06.2025).

Assim, impelidos pelo testemunho do Romano Pontífice, o Jubileu dos Seminaristas se findou, e certamente todos presentes foram enchidos do desejo de continuar a com fidelidade responder a essa bela trilha vocacional.

 

III   – Outras experiências de comunhão
 

Enquanto peregrino pude também visitar a Vila Papal de Castel Gandolfo, lugar em que o Papa descansa durante parte do verão. Naquele pequeno vilarejo, carregado de história e belezas, era possível se observar nos locais a alegria em tornar a receber o Santo Padre nesta experiência de repouso. Em algumas horas visitei o Palácio Pontifício que está repleto de objetos e histórias desde quando o Papa Urbano VIII transformou a antiga fortaleza dos Barberini num local de descanso papal. Ali foi possível estar na mesma janela que por diversas vezes Sao João Paulo II proclamou o Angelus aos domingos para a comunidade que se reunia. Assim, acredito que essa oportunidade favoreceu minha experiência pessoal de comunhão com o Santo Padre.

Por outro lado, ainda quando me deslocava para Roma, antes mesmo de iniciar a viver a bela experiência já relatada, pude passar algumas horas em Lisboa. Nesta cidade fica a Igreja de Nossa Senhora da Luz em Carnide que segundo conta a tradição Pero Martins, natural de Carnide, estava preso na África quando, por diversas vezes, lhe apareceu a Virgem Maria, aureolada de luz, lhe garantindo que o tiraria do cativeiro e recomendando que, no regresso à terra natal, mandasse erguer, sobre o lugar duma fonte milagrosa, uma ermida com a invocação de Santa Maria da Luz, cuja imagem encontraria no local. Pero Martins foi libertado e regressou a Carnide em 1463. E ali perto da fonte, encontrou a imagem mariana e obteve autorização do bispo para construir a ermida, o que realizou com as contribuições dos vizinhos. A imagem miraculosa de Nossa Senhora da Luz foi solenemente entronizada a 8 de setembro de 1464.

Durante a visita foi possível conhecer esse trecho da história que está diretamente ligado a nossa Igreja Diocesana. Em Luz, na Catedral Diocesana, existe uma imagem da Senhora da Luz que foi doada pela Câmara de Lisboa simbolizando, assim, a ligação que pela devoção à Virgem da Luz une ambas as Igrejas. Então, a mim essa foi também uma experiência carregada de significados, uma vez que pude, uma outra vez já bastante próximo de iniciar a missão, reforçar meus laços de proximidade com a Igreja Luceatina que me enviou a realizar essa missão junto a Igreja de Roma.

E, por sua vez, quando da partida de Roma pude retornar dessa experiência junto com o grupo peregrino de nosso Clero que, acompanhados de nosso Bispo Diocesano, fizeram também uma experiência de viver o Jubileu nas Basílicas Papais. Assim, acredito que ambas oportunidades favoreceram minha experiência pessoal de comunhão com nossa Igreja Diocesana de Luz.

 

“Onde está Pedro, aí está a Igreja; Onde está a Igreja não há morte, mas a vida eterna” (Santo Ambrósio, Psalmus XL, 30)

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