Visitas Pastorais de Dom Manoel de Tiros para São Gotardo
São Gotardo teve inicio com a chegada dos primeiros habitantes da região da Mata da Corda e adjacências, compreendendo também a faixa territorial em que se acha localizado atual município. A fundação do primitivo arraial deriva, certamente, das expedições que penetravam o sertão, não só visando à fiscalização da cata do ouro e comércio de pedras preciosas, como também povoando os lugares por onde passavam, construindo fazendas, erigindo capelas. O nome do município se deve ao seu fundador Joaquim Gotardo de Lima, que chegou à região por volta de 1830 e fixou residência no Arraial das Carrancas. Levou uma vida meio selvagem e morava numa casa coberta de folhas de uricanga, vestia-se e toda a família de grosseiras roupas tecidas em teares antigos. Com o correr dos anos ao redor das terras de Gotardo vieram outras famílias em busca de riqueza e sobrevivência. Como a maioria era católica e como não existiam tantos padres foram até Tiros e convidaram o Padre José Francisco para celebrar uma missa no paiol do Gotardo. Por infelicidade, ao voltar para Tiros, o Padre José Francisco veio a falecer repentinamente, sendo sepultado em Francisco das Chagas.
O povoado do Gotardo ficou sem assistência de padre por mais de oito anos. As famílias de Lopes e Rodrigues chegaram ao povoado e trouxeram os padres Antônio Estêvam e João Paulino que, durante anos, prestaram assistência espiritual aos moradores do povoado. O paiol do Gotardo se tornou uma capela onde as missas, batizados, casamento eram celebrados. Quando Padre João Paulino faleceu, foi substituído pelo Padre Cidrão, que ficou pouco tempo na freguesia e partiu para outra região. Desmembrando-se da Diocese do Pernambuco e sendo anexada à Diocese de Mariana foi então designado padre João Gonçalves de Freitas.
Em 1852 o povoado, devido ao seu crescimento, foi elevado a distrito com o nome de São Sebastião de Pouso Alegre, perdendo o nome de Arraial da Confusão. Dom Viçoso, Bispo de Mariana, em visita pastoral celebrou missas, crismas , confissões no Paiól do Gotardo. Hospedou na casa do Joaquim Gotardo e permaneceu por três dias no povoado. Com os esforços do Padre Miguel Querdóle e influência do bispado de Mariana o nome do distrito passou a ser São Gothardo, em memória de fundador o fazendeiro Gotardo. Segundo o Anuário de Minas em 1908, São Gotardo ganhou uma escola denominada Instituto Minerva, fundada pelo Professor Mario Chaves.
O Instituto foi importante no desenvolvimento de São Gotardo porque agregou muitos alunos de toda a região. São Gotardo foi elevada à cidade em 1915, nas proximidades da Mata da Corda, e seu território faz divisa com Luz, Rio Paranabía, Ibiá, Dores, Tiros.
Em 1921 com a criação da Diocese do Aterrado a Paróquia de São Gotardo foi desmembrada da diocese de Mariana e passou a pertencer à nova diocese.
A visita de Dom Manoel à Paróquia de São Gotardo
Depois de visitar Tiros, Dom Manoel fez o caminho de volta e foi para São Gothardo (grafia original) onde permaneceu por mais de uma semana. Dizia Dom Manoel: “è insuportável o pó por causa do terreno e da quantidade de carro de bois que passam por aqui. Vencer as sete léguas que separam Tiros de São Gotardo e a cavalo só com a ajuda de São Rafael e Nossa Senhora da Luz.” O médico Dr. Cunha Lima colocou o seu carro à disposição do senhor bispo para levá-lo até São Gotardo, amenizando um pouco o seu sofrimento. Assim Dom Manoel ia visitando as paróquias da Diocese. Depois de uma cansativa viagem Dom Manoel foi recebido com festas pela população que havia enfeitada as estradas e as pequenas ruas da cidade.
A banda de música local entoava o hino de São Rafael e o “Ecce Sacerdos Magnus”. Seguiu pela Rua 11 de junho até a casa paroquial onde os fiéis esperavam o senhor bispo para receber a bênção do pastor. Era o Pastor, com todas as dificuldades do caminho, em busca do seu rebanho. Dom Manoel rezou o Pai Nosso e a Ave Maria e a oração de São Rafael pedindo proteção para todos. À noite dirigiu-se à Igreja Matriz onde celebrou a missa com a bênção do Santíssimo acompanhado do coral e da banda de música ao cântico do “Te Deum laudamus”. Durante a visita foram crismadas quase duas mil pessoas, atendidas várias confissões e realizado alguns casamentos. Na homilia durante a missa na Igreja Matriz Dom Manoel dizia aos fiéis: “Uma cidade tão rica como a de São Gotardo precisa de fazer doações melhores para as Obras da Vocações Sacerdotais para aumentar os padres na diocese.” Dom Manoel visitou as capelas de Santa Cruz, Pimentas, da Preta, de Perobas e Santa Rita do Cruzeiro.
Na ocasião da visita a paróquia tinha aproximadamente 18.000 habitantes e Padre José Batista era o vigário e ali trabalhou por mais de cincos anos. Estiveram à frente da Paróquia de 1925 a 1940 os padres: Sinfrônio Batista, Padre Jacinto, Pelegrino Guarino e Padre José Batista. Nesta época eram cinco os cemitérios existentes na paróquia.
As Missões religiosas e Associações Religiosas
Padres Redentoristas fizeram missões na Paróquia e capelas pertencentes a São Gotardo nos anos de 1932 e posteriormente em 1940 comandadas pelos Padres Avelino e Teodósio. As missões foram de grande proveito espiritual para a paróquia. Existiam na ocasião da visita, na década de 1930, as seguintes Associações Religiosas na Paróquia: A Congregação dos Vicentinos fundada em 1923 pelo senhor Major Gontijo presta uma assistência espiritual e material aos pobres da região. A dos Congregados Marianos, Filhas de Maria, Damas do Sagrado Coração de Jesus e Associação de Santa Terezinha que ajudavam na parte espiritual da Igreja, sendo orientadas pelo vigário Padre Omar Nunes.
O Patrimônio da Paróquia e das Vocações Sacerdotais
O patrimônio da paróquia é composto de uma casa paroquial no valor de dez contos de réis; patrimônio na Fazenda Valadares no valor de quatrocentos mil réis; a capela de Perobas tem cinco alqueires que valem três contos de réis; o de Pimentas e o de Preta valem em torno de cento e cinquenta mil réis. As cadernetas das vocações sacerdotais contam com os seguintes valores: Cidade dez mil réis; Pimenta três mil réis e Perobas dois mil e setecentos réís. Segundo ainda relato de Dom Manoel não existe templo protestante na cidade e nem jornais anti-católicos. Circulam na região os jornais: O Diário, O Lutador, Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus e a Luz do Aterrado. As festas religiosas são as de: São Sebastião, Mês de Maria, do Rosário, São Vicente e São Rafael, Nossa Senhora da Abadia, de São José.
Ao final das visitas que aconteciam de quatro em quatro anos, Dom Manoel se despediu dos fiéis com uma missa festiva e os abençoou com a oração: “Sob a proteção de Nossa Senhora da Luz, guiado por São Rafael e protegido por São Gotardo desça sobre vós a Bênção do Pai do Filho e do Espírito Santo”.
A banda de música entoou o hino a São Rafael enquanto Dom Manoel dava o adeus de despedida e seguia viagem para outras paróquias.
Fontes: arquivos da Mitra e Prefeitura de São Gotardo. Atualmente São Gotardo faz parte da Diocese de Patos.