São José do Canastrão, Tiros e o Seminário do Jacu

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Após a emancipação política em 1923 e a posse dos primeiros vereadores em 1924, finalmente o Aterrado passou a ser conhecido como cidade de Luz. No entanto, para o Vaticano a sede do bispado ainda era Diocese do Aterrado. A batalha política de Dom Manoel era a elevação da cidade à comarca para atrair novos moradores e criar condições para um crescimento econômico e desenvolvimento social. Aos poucos as promessas de Dom Manoel iam sendo cumpridas. Ser bispo não significava apenas cuidar da sede episcopal, mas de toda diocese, cuja extensão territorial era do tamanho de alguns países da Europa. Cada visita durava de três a quatro meses e no retorno ao Aterrado Dom Manoel era recebido com festas, banda de música, saudação pelas crianças, pelo Apostolado da Oração e Vicentinos. A presença das autoridades municipais e eclesiásticas eram registradas, porém, voltar ao Aterrado não significava dias de descanso. Era o momento de reuniões, redigir os relatórios das visitas, editar as cartas apostólicas e imprimi-las no jornal da diocese. Ao seu lado, sempre presente, estava Monsenhor Vicente, Vigário Geral da Diocese. Encontro com os bispos de Belo Horizonte, Diamantina, Uberaba, Campanha e Guaxupé eram feitas anualmente. As visitas pastorais eram feitas por região e a locomoção era feitas pelas conduções disponíveis na época, algumas vezes em automóveis, locomotivas e muitas a cavalo. As dificuldades encontradas por Dom Manoel nunca foram empecilhos em suas visitas. Seguia o exemplo de Padre Parreiras, de Dom Silvério e otimista seguia em frente rezando: “Com Nossa Senhora da Luz e guiado por São Rafael iremos vencer todas as dificuldades.” Voltemos às décadas de 1920/1930 e as visitas pastorais de Dom Manoel passando pelo Campinho, Melo Viana, Serra da Saudade, Vila Funchal e Tiros.

São José do Canastrão

A Serra do Canastrão é ramificação da Serra da Canastra também conhecida por Serra da Marcela, da Saudade, do Indaiá. A primeira visita ao Canastrão, capela da Paróquia de Morada Nova, se deu no mês de junho de 1925. Para atravessar o Rio Abaeté existia uma canoa dirigida pelo hospitaleiro Matusalém Cardoso, o “Matus” como era chamado. Diz a história que ao ser apresentado a Dom Manoel, “Matus” ficou tão emocionado que quase deixou a canoa afundar, pois, nunca tinha visto um bispo. Os senhores João Pio, Francisco de Almeida, Higino de Melo e a senhorita Geralda Pereira recepcionaram Dom Manoel e o conduziram à casa onde ficaria hospedado. Recepcionado pela população local com faixas de boas vindas: “Viva Dom Manoel, Dd Bispo do Aterrado” e outra com os dizeres “Ecee Sacerdos Magnus”. No segundo dia da visita foi realizada a procissão de Corpus Christi abrilhantada pela banda de música local. Durante a visita foram realizadas crismas, confissões, comunhões, batizados, casamentos e outras atividades. A Capela do Canastrão foi construída por iniciativa de José Alves, Reginaldo Lopes e João Bernardes e foi benta pelo Padre Antônio Baptista, que ali veio a falecer. Os padres José Francisco e Miguel Calábria prestaram, durante anos, assistência espiritual aos moradores do Canastrão. Com a contribuição para a OVS em cerca de Doze Mil Réis, doado pelo senhor José Justino, foi possível a criação da Paróquia de São José do Canastrão cuja contribuição ajudou na ordenação de um padre no Seminário de Diamantina. Em sua homilia no encerramento da visita disse Dom Manoel: “Se houvesse em todas as paróquias, como em Canastrão, um grupo de homens abnegados e generosos como o Sr. José Justino, estariam aplainadas todas as dificuldades e o Seminário Diocesano estaria há muitos anos em franca prosperidade.” Distante cerca de 30 km ficava a capela de São José da Rapadura, pertencente ao Canastrão. Ao final da visita, depois de quatro dias, Dom Manoel se despediu com a bênção apostólica pedindo a Nossa Senhora da Luz e a São Rafael proteção aos moradores do Canastrão proferindo: “Benedicat vos omnipotens Deus, Pater et Filius et Spiritus Sanctus”, e se dirigiu à Paróquia de Santo Antônio dos Tiros acompanhado dos senhores Barbosa de Abaeté e Victor Genésio onde se hospedou às margens do Rio Borrachudo.

Seminário de Jacu

Talvez, inspirado pelo Colégio do Caraça, Padre Joaquim de Souza adquiriu um pedaço de terra da Fazenda Jacu,na região de Tiros, e fundou naquele lugar um Seminário que ficou conhecido como Seminário do Jacu. Como pertencia à Diocese de Olinda em Pernambuco e para auxiliar Pe. Joaquim na formação dos candidatos, o bispado de Pernambuco enviou Frei Henrique, especialista em teologia, para lecionar no seminário. Os frutos foram colhidos e em 1858 foram ordenados padres pelas mãos de Dom João da Purificação Marques Perdigão (1831-1864), bispo de Olinda os seminaristas formados em Jacu: Luiz Ferreira da Silva Luz, Miguel José de Morais, Manoel de Morais, Elias e Camilo (sem sobrenome). As ordenações sacerdotais se deram durante a visita pastoral de Dom João da Purificação na Igreja de Tiros. Alguns anos depois assumiram o curato de Tiros os padres: Luiz Ferreira da Silva e Miguel José de Morais que estudaram no Seminário do Jacu.

Paróquia de Santo Antônio dos Tiros

A história registra que o nome Tiros surgiu de um incidente entre garimpeiros vindos para o Rio Abaeté ou para ele se dirigindo e soldados do Quartel D’Assunção, junto a um córrego localizado nas proximidades da atual sede do município. Houve uma grande batalha entre os mineradores e os militares com forte tiroteio, ficando o córrego conhecido como “Ribeirão dos Tiros”, expressão que se estendeu a toda a região. Antes de se tornar um município independente chegou a se chamar Santo Antônio dos Tiros, em homenagem ao seu padroeiro. Se tornou curato no século XVIII e em 1832 se desmembrou de Dores do Indaiá. Foram vigários em Tiros os padres: Manoel Antônio da Silva, José Francisco Lopes, Joaquim de Souza, Olegário Ribeiro Caldas, Luiz Alberto, José Miguel de Morais, Rafael Palmério, Vigilato Pinto Fiúza Miguel Kerdole Dias Maciel. Este devido ao seu dinamismo recebeu elogios de Dom Silvério, Bispo de Mariana, e mais tarde se tornou Deputado Estadual. Padre Salvador Zorgno se destacou na paróquia por sua caridade, pois acolhia em sua casa doentes, pobres como um verdadeiro hospital. São as seguintes capelas na Freguesia de Tiros: Capão Preto, Espinha do Peixe, São Sebastião da Lagoa, Água Limpa, Santa Cruz.

A visita Pastoral de Dom Manoel

Após a visita pastoral ao Canastrão Dom Manoel se dirigiu a Tiros e durante o trajeto ele recebeu o carinho do povo que o esperava nas estradas que passavam pelas fazendas. Tomava café numa casa, almoçava em outra até atingir o Curato de Tiros. A emoção era visível nos rosto da população que não era acostumada com a visita de um bispo. A todos que esperavam nas estradas Dom Manoel parava os abençoava e deixava uma imagem de Nossa Senhora da Luz, em outras ocasiões de São Rafael e pedia a todos que rezassem pelas vocações sacerdotais. Uma comissão especial distante mais de seis quilômetros aguardava o senhor bispo para acompanhá-lo até a vila. À frente da comissão estavam o Padre José Coelho e o jovem professor Leôncio Ferreira, um dos defensores da mudança da vila para um lugar mais seguro. Dom Manoel dirigiu-se à matriz onde foi saudado pelos alunos das escolas e pela Banda de Música que executou o hino: “Tu es Sacerdos in aetenum”. Dom Manoel constatou a bondade e religiosidade do povo Tirense que contribuiu com grandes quantias para as vocações religiosas. Recebeu as diversas associações religiosas: Sociedade São Vicente, Pia União das Filhas de Maria, Mães Cristãs, Apostolado da Oração, Irmandade Nossa Senhora das Vitórias e outras. Verificou que não existe Templo Protestante, Centro Espírita e nem Loja Maçônica. Os jornais que circulam pela cidade são: Correio da Manhã. Folha de Minas, O Lutador, Lar Católico e outros. Ao final da visita, depois de uma semana, na missa de despedida Dom Manoel agradeceu a participação nas festividades religiosas com mais de 2000 comunhões, 1.100 crismas, vários casamentos e batizados. Ao abençoar o povo Tirense rezou: “Ó Nossa Senhora da Luz, derramai a vossa bênção sobre o povo de Tiros e que São Rafael seja o guia deste povo em suas necessidades.” Despediu-se do povo tirense e seguiu o caminho a outras cidades como o Pastor em busca do seu rebanho. Anos depois Tiros se tornaria terra de dois bispos: Dom José Lima (Sete Lagoas) e Dom José Martins ( Porto Velho). Obs: Tiros hoje pertence à Diocese de Patos.

(Fonte: arquivo da Mitra e fotos da internet).