De São Jerônimo dos Poções à Paróquia de São Francisco das Chagas
Após mais de uma semana visitando as paróquias de São Gotardo, Dom Manoel partiu rumo às paróquias de São Jerônimo dos Poções, município de Campos Altos e à Paróquia de São Francisco das Chagas, atual Rio Paranaíba. Sem poder voltar à sede do Bispado, devido à distância, de mais de 25 léguas e às dificuldades no transporte as visitas pastorais duravam até três meses. Mesmo distante, Dom Manoel trabalhava para ter em Luz o Poder Judiciário com a implantação de uma Comarca. Contatos com o mundo Jurídico e Político eram feitos em suas viagens contando com o apoio de Capitão Du, Dr. Peri e Dr. Josaphat Macedo. Em todas as visitas às paróquias e capelas Dom Manoel pedia contribuição para a OVS e para a construção da futura catedral diocesana.
São Jerônimo dos Poções
Surgiu nos meados do século XVIII por garimpeiros que descobriram ouro e diamante no Rio Misericórdia. Pequenos roceiros e remanescentes do Quilombo do Ambrósio, cujas ruínas se encontram no distrito de São Jerônimo, ajudaram no aumento populacional do Poções. O nome de São Jerônimo dos Poções se deve ao santo padroeiro do distrito e Poções porque existem vários poços d’água que os moradores denominavam de poções. O padroeiro foi entronizado por Padre Elias atendendo um pedido de seu irmão morador do local. O fazendeiro Leandro Lara doou o terreno e construiu a capela perto de sua casa. Desde que foi criado, o distrito de São Jerônimo pertenceu a Araxá, Ibiá, Carmo do Paranaíba, Rio Paranaíba e quando da visita pastoral pertencia a São Gotardo. Na década de 1940 passou a pertencer a Campos Altos. Serviu de pouso de boiadeiros, passagem de tropeiros procedentes de várias partes do País que traziam em suas bruacas sal, remédios, tecidos e artigos para selaria e sapataria. Possuía várias casas comerciais, escola pública, delegacia e policiamento.
Com a inauguração da estrada de ferro Urubu, em 1913, o povoado tomou novo rumo com a construção de novos armazéns, construção de casarões como os do Dr. Luis de Souza e do Coronel Frederico Franco e com os dormentes não utilizados na estrada de ferro, os negros, mestiços e pobres construíram suas cafuas. O nome Estação do Urubu foi derivado da Serra do Urubu.
E com o passar dos anos passou a se chamar Estação dos Campos Altos. Com o declínio do povoado, a maioria da população mudou-se para Campos Altos.
A visita Pastoral a São Jerônimo
Antes de chegar ao povoado de Poções, Dom Manoel passou pela fazenda da Cachoeirinha, onde era esperado por uma grande multidão. Durante os dois dias que ficou na Cachoeirinha, Dom Manoel atendeu confissões, batizou e fez casamentos. Em São Jerônimo dos Poções uma multidão aguardava Dom Manoel que foi recepcionado pelos senhores José Rochael e José Cândido de Farias. Pela primeira vez um bispo visitava aquele arraial. A riqueza da pequena igreja deixou o senhor bispo entusiasmado pela freguesia. Paramentos novos, tabernáculo de metal, ostensório de prata, lustres e candelabros de metal. O povoado contribuiu para a OVS com 520$000 Réis e a caderneta da OVS atingiu o montante de 16:284$000 Réis. O patrimônio da paróquia era de doze alqueires que foram doados pelo Sr. Leandro Lara. Antes de se tornar paróquia o povoado era assistido por Pratinha e os primeiros padres foram: Padre Raimundo Vieira, Padre Manoel, que um dia desapareceu e não mais voltou. Padre Isidoro e Padre Antônio de Freitas.
As capelas de São Jerônimo e de Nossa Senhora do Rosário foram construídas pelos irmão Leandro e José Pedro Lara, delas só restando as ruínas. Antes o povoado pertencia à Diocese de Uberaba e em 1921 passou para o território da Diocese do Aterrado. Durante a missa de despedida do povoado, após dois dias, Dom Manoel em sua homilia agradeceu a todos a contribuição dada a OVS. Disse ele: “A contribuição de vocês irá ajudar na formação de padre para a nossa diocese. Que Nossa Senhora da Luz ilumine a todos e que São Jerônimo derrame muitas bênçãos sobre vocês.” Na despedida a Banda de Música executou o hino a São Rafael. A missão era se dirigir à Paróquia de São Francisco das Chagas.
São Francisco das Chagas- Rio Paranaíba
Igual a tantos povoados da região, Rio Paranaíba cresceu com os garimpeiros em busca do ouro. No século XVII foi visitado pelo Padre José Pascualine que teve que enfrentar as divergências das famílias Rodrigues e Oliveira para celebrar a primeira missa. Para não haver discórdia a missa foi celebrada entre os limites dos dois fazendeiros, local que é hoje a cidade de Rio Parnaíba. No século XIX o município era composto dos distritos de Carmo do Arraial Novo (Carmo do Paranaíba) Lagoa Formosa, Areado, São Sebastião do Pouso Alegre e contava com uma população de 5.000 pessoas. Dois lugarejos compunham o distrito a Mata da Corda e Mata dos Lages. A população sempre foi assistida por padres que atuavam na região.
Rio Paranaíba pertenceu as Dioceses de Olinda, Mariana, Uberaba e do Aterrado. Frente à Paróquia estiveram os padres: Antônio Ribeiro, Joaquim Antônio, Padre Francisco, Camilo Martins, João Ferreira, Manoel, Silvério, Manoel Macedo, Joaquim Felix, Miguel Querdole, Heriberto Goetterdorfer, Vicente Peres, Francisco Vicente, Gregório Lambrana, Domingos Gonçalves, Inácio Campos, Isidoro Guilmin, Francisco Goulart, Antônio de Ascenção, Pelegrino Guarino, Felipe Abraão. Alguns padres morreram na paróquia e outros foram expulsos por fazendeiros locais que não aceitavam suas pregações.
A visita de Dom Manoel
Após uma viagem cansativa, Dom Manoel e comitiva chegaram à fazenda do Senhor Regino, que mesmo surpreendido o recebeu com alegria e com ótima hospedagem. A Fazenda denominada de Guarda dos Ferreiros possuía uma capela que era visitada pelo padre de São Gotardo. Em brincadeira Dom Manoel dizia: “Passei por Confusão, por Perdição, por Urubu, por Guarita dos Ferreiro até chegar em Rio Paranaíba.“ Ao amanhecer do dia, Dom Manoel despediu-se do Sr. Regino e pôs o pé na estrada. No fordinho, seguiu para São Francisco das Chagas. Escreveu ele: “Um sol ardente que nos obriga a andar de guarda sol. O fino pó das estradas nos obriga a andar em paralela à via principal.” Uma multidão esperava na entrada da cidade a chegada do bispo que se dirigiu para a escola local. Ruas enfeitadas e faixas davam as boas vindas ao ilustre visitante enquanto a Banda de Música executava; “Queremos Deus, Homens Ingratos.”
As Associações do Apostolado da Oração, São Vicente de Paulo e irmandade da Via Sacra organizaram as crismas para mais de 500 pessoas, os batizados, confissões e casamentos. Dom Manoel visitou as capelas do Bom Jesus da Salsa, Capela da Santa Cruz e do Guarda dos Ferreiros. Com um patrimônio de 3:800$000 Réis a paróquia não contribuía para a OVS. Ao visitar Rio Paranaíba Dom Manoel disse: ”Uma região tão rica como essa não pode deixar de contribuir para a OVS e para a formação dos padres.
Conto com a boa vontade de todos.” Ao final da visita, após seis dias de muitas orações, Dom Manoel despediu-se do povo com a oração de São Francisco: “Senhor venho te pedir saúde, paz e sabedoria. Que eu seja bondoso e alegre e guarda minha língua de toda maldade.
Que as bênçãos de Nossa Senhora da Luz e a proteção de São Rafael caiam sobre todos vocês.” A banda de música executou o hino a Nossa Senhora da Luz, Dom Manoel se despediu e foi em busca de outras paragens.(Obs. Rio Paranaíba hoje pertence à Diocese de Patos).
Fonte: Arquivos da Mitra, livro O Pastor de Luz, sites das Prefeituras de Campos Altos e Rio Paranaíba.