» Centenário Diocesano
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arrow_drop_downA Caminhada de Dom Manoel
Depois das visitas pastorais pela região do Alto Paranaíba Dom Manoel ficou alguns meses no Aterrado. Nesse período procurou acelerar a implantação da Comarca de Luz, que demorava por questão política, e deu andamentos aos projetos para a construção da nova Catedral. Monsenhor Vicente, seu secretário, já organizava visitas às outras regiões da diocese.
O destino era pela região do São Pedro do Doce (Moema), Bom Despacho e outras paróquias. Para se despedir do senhor bispo estiveram reunidos em frente ao Palácio Episcopal a irmandade do Apostolado da Oração, Mães Cristãs, Filhas de Maria, Congregado Mariano e autoridades entre as quais se fizeram presentes Dr. Pedro Cardoso (Dr. Peri) que acompanhou Dom Manoel até a fazenda do senhor Francisco de Paulo onde descansou da viagem. Do Aterrado até a Capela de São Pedro do Doce era uma viagem de dois dias.
Em todas as visitas Dom Manoel era recebido com festas e os atos religiosos como confissões, crismas, batizados, casamentos e celebrações de missas era o meio de levar a palavra de Cristo ao povo. Eram visitas que duravam de dois a cinco dias nas paróquias ou capelas.
Uma caminhada por toda a região
A distância de quase dez léguas era impossível de ser feita em num único dia. A comitiva atravessou o Rio São Francisco e pelo relato do próprio bispo: “mesmo com o roncar das chuvas, a travessia foi sem problemas.” Ao cair da tarde/noite a comitiva chegou à Fazenda da “Lagoa Verde” e foi recebida pelo senhor Gervásio de Oliveira, onde pernoitou.
Após o almoço seguiu rumo a Capela de São Pedro do Doce e se hospedou na residência do professor Joaquim Lacerda que acompanhou Dom Manoel por todo o povoado numa visita que durou dois dias. De Moema Dom Manoel seguiu para Bom Despacho que na época era a maior paróquia da região. Os povoados de Chapada, Engenho Ribeiro, Capivari e Passagem faziam parte de Bom Despacho que tinha uma população estimada em 15000 habitantes. Para cuidar da paróquia e da construção da Matriz a diocese contava com os serviços dos padres Sacramentinos enquanto a Santa Casa era entregue às Irmãs Vicentinas. Com a construção da Vila Militar a paróquia ganhou a capela de Santa Efigênia administrada pelos padres Sacramentinos.
Durante os cinco dias da visita Dom Manoel contou com o apoio de Faustino Assunção e dos Padres João Velloso, João Braga e Luiz Gonzaga. As Associações dos Vicentinos, Mães Cristãs, Apostolado da Oração, Damas da Caridade e as Filhas de Maria cuidavam dos preparos para os ofícios religiosos. Depois de uma semana em Bom Despacho a comitiva do senhor bispo seguiu para Capivari. Joaquim Euletério se encarregou de hospedar toda a comitiva e ajudou na coleta para a OVS em cerca de 450$000 Réis, uma quantia acima do esperado no pequeno povoado. Durante dois dias a população prestigiou a visita do ilustre visitante com festividades religiosas.
Ao se despedir Dom Manoel disse ao povo:” Que felicidade a minha de ver grandezas de espírito e de religiosidade neste pobre lugar. Deus lhes pague por tudo e que Nossa Senhora da Luz traga muitas bênçãos para vocês e que São Rafael lhes guie por estas paragens.” De Araújos para Saúde era pouco tempo de viagem.
Em Nossa Senhora da Saúde
Araújos e Perdigão eram separadas por pouco mais de duas léguas. Segundo relatos de Procópio Caetano e Maria Firmina escritos antigos mostravam que os padres Teodoro e Martinho haviam morado na região. Única comprovação da existência dos padres era um velho missal na matriz datado de 1789.
A estrada que liga Araujos até Perdigão se transformou numa avenida enfeitada com bandeirolas e arcos de bambu. Estavam presentes as irmandades de Mães Cristãs, Vicentinos e as crianças do catecismo que preparam toda a recepção à comitiva. Desde a primeira visita em 1923 Dom Manoel voltou à paróquia de três em três anos. Entre Araújos e Perdigão nasceu Belchior Joaquim da Silva que, anos depois, se tornaria bispo da diocese de Luz. Depois de cinco dias de intensa visita a Perdigão e capelas, Dom Manoel se despediu com a bênção apostólica e partiu para
Santo Antônio do Monte. Cidade desenvolvida e servida por estrada de ferro que ajudava na rapidez das visitas pastorais.
Como em todos os lugares, a população recebia com festas o bispo. Pelo tamanho da paróquia e as capelas existentes Dom Manoel permaneceu na região por oito dias e colheu os frutos da evangelização feita pelo vigário Monsenhor Otaviano. Foi fundado o Apostolado da Oração e a Liga das Vocações com 300 sócios que contribuíram com mais de 10$000 Réis para a OVS. Cumprida a missão Dom Manoel tomou o rumo de Lagoa da Prata, conhecida como Paróquia de São Carlos do Pântano, numa viagem confortável de trem.
À chegada em Lagoa autoridades e a população esperava o senhor bispo. A visita a Lagoa da Prata se estendeu por três dias onde Dom Manoel acompanhado de Monsenhor Otaviano e Padre Mário Silveira fez as celebrações de costume. Lagoa era um povoado de grande prosperidade material mas, segundo relato do próprio bispo, contribuía pouco para a OVS. Dom Manoel viu em Lagoa da Prata um campo fértil para a evangelização e sugeriu a criação da Conferencia dos Vicentinos, das Mães Cristãs e do Apostolado da Oração. De Lagoa partiu Dom Manoel e comitiva para as visitas às capelas São Carlos, São Simão, Córrego Fundo, Albertos, Capitólio, São João do Glória, São Roque e Pimenta. Retornando ao Aterrado, Dom Manoel parou em Arcos para sua visita pastoral.
Paróquia de Nossa Senhora do Carmo
A Matriz de Nossa Senhora do Carmo existe desde o século XIX e constava em seu patrimônio mais de 20 alqueires de terra doados pelos senhores Manoel Ribeiro e Antônio Joaquim da Silva. Dom Viçoso, bispo de Mariana, criou a paróquia sendo desmembrada de Formiga e a construção da Matriz demorou mais de quarenta anos. Dom Manoel percorreu as capelas do Sagrado Coração no Pau Seco, do Espraiada e a Capela de São Julião que, pela história, foi construída pelo Capitão Manoel Martins.
Foi ao encontro da população da zona rural que aguardava o bispo e os padres. Arcos era uma paróquia rica e sua população explorava as grandes pedreiras de calcário destinados ao mercado de Goiás, Uberaba, Patrocínio e outras. A religiosidade da paróquia se manifestava nas associações existentes: Apostolado da Oração, Vicentinos, Nossa Senhora do Rosário e Mães Cristãs. Segundo relato a contribuição para a OVS não condizia com a riqueza material dos paroquianos, não tendo atingido a quantia de 7:000$ Contos de Réis. Depois de quase quatro meses longe do Aterrado Dom Manoel voltou para a sede episcopal para o merecido descanso.
Obs: Araújos, Capivari e Perdigão pertencem, atualmente, à Diocese de Divinópolis.
Boa leitura!
Fontes: Arquivo da Mitra e fotos Silvio Cézar Chagas (Perdigão)
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arrow_drop_downA Comarca de Luz e as Visitas Pastorais de Dom Manoel
Graças à energia elétrica e à emancipação do Aterrado desmembrado de Dores do Indaiá, a Villa Luz se tornava um centro comercial, industrial e rural atraindo investidores de várias regiões do Estado. Dom Manoel se preocupava com o desenvolvimento econômico e social, pois sabia ele que o bem espiritual deve crescer ao lado do material. Dom Manoel se consolidava como Pastor e Líder, como um grande administrador e um hábil político. Com a criação do município Dom Manoel passou a articular a instalação da primeira Câmara Municipal de Luz e eleição do primeiro prefeito. Percorria os gabinetes dos magistrados em Belo Horizonte para que Luz se tornasse uma comarca. Eram tempos difíceis, mas o Bispo não desanimava e percorria a diocese em suas visitas pastorais como descrito por Dom Belchior em seu livro o Pastor de Luz, lançado em 1984: ”Um Pastor no sentido apostólico da palavra e, naquele tempo, andando a cavalo por este sertão imenso do Oeste Mineiro, percorrendo as cidades da diocese, as paróquias, capelas, aldeias e povoados, realizou a grande missão de semear luz e alegria de viver a fé, pois ele foi um verdadeiro missionário.” Padre Geraldo Mendes nas solenidades do cinqüentenário da ordenação sacerdotal de Dom Manoel assim se expressou: “Conjugam-se em Dom Manoel, de forma harmoniosa, a firmeza da pedra e a doçura do mel.” Dom Manoel não pregou a pobreza: viveu-a plenamente. No silêncio de sua humildade, sem alardes demagógicos, realizou a promoção humana por todas as paróquias da diocese. As palavras de Pio X podem se aplicar a Dom Manoel: “Pauper natus sum, pauper vivi, pauper mori cupio.” Pobre nasci, pobre vivi, pobre quero morrer. Como os Apóstolos, Dom Manoel punha os pés na estrada para levar a Boa Nova aos povos da diocese.
A visita pastoral à Paróquia de Estrela do Indaiá
Dentro de um planejamento, Dom Manoel fazia suas visitas por região para encurtar tempo e ficar mais próximo de seus diocesanos. Dores e Estrela eram visitadas na mesma semana. Em estradas de poeira ou barro, o bispo levava as palavras de Cristo aos fiéis. O caminho mais curto, pouco mais de 25 km, entre Dores e São Sebastião de Estrella (grafia original), era pelo Morro do Palhano. A travessia no rio só era possível por uma barca e havia a cobrança de um pedágio pelas autoridades de Dores do Indaiá. Entre as duas paróquias existiam os povoados do Dr. Zacharias, da Bernarda e do José Simões paradas obrigatórias para café, um bate papo e bênção apostólica. Dependendo do “bom humor e a pressa” de Dom Manoel, ele esperava o “frango com quiabo” enquanto rezava com os moradores o terço. Estrella tinha uma população estimada em 900 moradores, alguns comerciantes, uma máquina de beneficiar café e terras férteis margeando o Rio Indayá onde garimpeiros costumavam “bamburrar” algumas pepitas de diamante e ouro. Por não ter cemitério os sepultamentos eram feitos em Dores trazendo dificuldades para a população local. A morte de Máximo Cardoso, um plantador de algodão e sem condições para levá-lo até Dores, obrigou Antônio Fernandes a enterrá-lo perto de sua residência. O local, após ampliação, se tornou o primeiro cemitério de Estrela e recebeu as bênçãos de Padre Belchior Braga. Uma rodovia que ligava Serra da Saudade, Vale do Caixão, Guarda dos Ferreiros até São Gothardo, antigo Arraial da Confusão além dos Correios e Telégrafos ajudavam na comunicação do distrito. Graças às contribuições para as Obras das Vocações Sacerdotais (OVS), 12:600$ (Doze Mil e Seiscentos Réis) de Estrela e a Capella do Bahú contribuiu com 3:900$ (Três Mil e Novecentos Réis) a capela de Estrella foi elevada à Paróquia e Padre José Baptista se tornou o primeiro vigário que faleceu pouco tempo depois. Os padres Antônio Dias e Francisco Praxedes, que assumiram a paróquia, se empenharam nas construções da Matriz dedicada a São Sebastião e da Casa Paroquial. Em 1941 assumiu a paróquia Padre César Alves de Carvalho que, anos mais tarde, se tornaria o Reitor do Seminário Nossa Senhora da Luz. A visita pastoral durou três dias e Dom Manoel pegou a estrada seguindo rumo à Paróquia de Abaeté.
Paróquia de Abaeté– Um pouco de história e a visita de Dom Manoel
Os primeiros moradores chegaram à região por volta de 1730 e tribos indígenas dos Abaetés já se encontravam no local. Garimpeiros que buscavam diamantes entraram em conflito com os índios e acabaram por dizimá-los. O significado do nome Abaeté tem gerado controvérsias sendo que algumas versões são: “O Bravo”, “Homem de Respeito” “Ilustre”, “Gente Feia”. Para o pesquisador Alves de Oliveira, Abaeté significa “Muita Gente”, numa alusão aos povos indígenas que ocupavam a área. A contribuição dos Jesuítas na catequização fez surgir muitos povoados e capelas pelo interior de Minas. A Paróquia de Morada Nova foi criada em 1852 e assumiu a capela de Marmelada, distrito existente desde 1842. Em 1860 as paróquias de Morada Nova e Dores do Indaiá, foram transferidas do Bispado de Pernambuco ao Bispado de Mariana e posteriormente para a Diocese do Aterrado. O aumento da população do Marmelada e a construção de uma nova igreja ajudaram na elevação da capela do distrito à paróquia consagrada a Nossa Senhora do Patrocínio. O distrito do Marmelada quando se emancipou recebeu o nome de Abaeté.
Os atuais municípios de Paineiras, Biquinhas, Morada Nova, Cedro, Quartel Geral, Dores do Indaiá, Tiros, São Gonçalo do Abaeté e São Gotardo faziam parte de seu território com uma extensão aproximada de dezessete mil quilômetros quadrados. Durante anos foi uma das maiores cidades da Diocese do Aterrado com mais de 42.000 habitantes. Foram seus vigários os padres: Miguel Kerdole, Belchior Braga, José Alves, José Gomes, João Ferreira, Octaviano de Moraes, Miguel Vital, Frei Izarias Leggio, e Frei Mário Cornellison. As capelas existentes: São Sebastião das Paineiras, São José dos Patos, Santo Antônio das Tabocas, São Sebastião da Aldeia, Nossa Senhora do Carmo foram bentas pelo Monsenhor Vicente de Mendonça, que foi alçado ao cargo de Secretário Geral da Diocese do Aterrado substituindo Padre Parreiras, que havia retornado a Mariana. O patrimônio material das capelas constava de 32 hectares de campo e cultura e a Paróquia não possuía nenhum patrimônio em terras.
O Patrimônio Religioso da Paróquia de Abaeté
Em Abaeté Dom Manoel se queixava da pouca contribuição para a OVS. Dizia ele: “Como pode uma região tão rica contribuir com apenas Dez Mil e Quinhentos Réis para as vocações? As capelas contribuíram com Quatorze Mil Réis. Vamos abrir as mãos e contribuir mais.” No encontro com as autoridades locais fez um apelo para a construção da casa paroquial. Depois de muitos anos e muitas visitas a casa paroquial foi construída. A religiosidade na região deixava “animado” o senhor bispo que visitava o Conselho Particular Vicentino, suas nove Conferências e uma Vila dos Pobres. Ao Apostolado da Oração, Pia União das Filhas de Maria, Cruzada Eucarística, Confraria do Rosário, Congregação Mariana pedia orações para aumento das vocações sacerdotais. Em suas homilias incentivava a leitura dos periódicos católicos que circulavam na cidade. Missas, adorações ao Santíssimo e confissões eram realizadas durante as visitas pastorais. Abaeté era bem servida pela Rede Mineira da Viação (RMV), cuja estação terminal era na Barra do Paraopeba. Após uma semana em Abaeté Dom Manoel volta ao Aterrado e continua a luta para elevação de Luz à Comarca.
Boa Leitura!
(Fontes: O Pastor de Luz, Arquivos Mitra Diocesana, Prefeitura de Abaeté e de Estrela – obs. Alguns nomes grafia original da época)
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arrow_drop_downA energia chegou ao Aterrado
Ao tomar posse na Diocese do Aterrado, Dom Manoel trouxe consigo a experiência na construção da casa paroquial e a igreja matriz de Coroaci, o dinamismo, a juventude e a boa vontade para fazer crescer o arraial. Padre Parreiras, por sua experiência em construir o Palácio Episcopal e a Catedral, orientava o Bispo e o levava a conhecer as autoridades e moradores do povoado. Seguindo um planejamento, com o passar dos dias e adaptado à função de bispo, Dom Manoel anotava as necessidades do Aterrado e da diocese. Era um Pastor que cuidava dos bens materiais da diocese sem esquecer o lado espiritual dos fiéis. O Aterrado fazia parte do município de Dores do Indaiá, enquanto o vilarejo de Esteios fazia parte de Santo Antônio do Monte. As dificuldades para se resolverem problemas administrativos, burocráticos e políticos emperravam o crescimento do Aterrado. Dom Manoel, em reunião com os políticos Capitão Dú, Antônio Guimarães Macedo, Pedro Cardoso (Dr. Peri), Washington Gomes, Manoel Delgado e os empresários Ewerton Pereira, Orsini Batista Leite, Miguel Moreira e outros, explicava a necessidade de se implantar a energia elétrica no arraial. Mas como e onde, perguntavam todos. Dom Manoel não desanimava e montado num cavalo percorria os arredores do Aterrado, sempre acompanhado por Capitão Dú e Dr. Peri, para encontrar um lugar que tivesse queda d’água para a instalação de uma usina elétrica. Não encontrando a queda d’água propôs a construção de uma barragem no Ribeirão Jorge Pequeno, perto da atual ponte do Morro do Jorge. Os moradores do Aterrado poderiam, enfim, conhecer a energia elétrica, dar adeus às lamparinas e aos azeites de mamonas.
A construção da barragem
Escolhido o local, era necessário constituir uma empresa para que as obras tivessem início. A princípio, vozes discordantes não acreditavam na viabilidade e viam no projeto “uma loucura” do jovem bispo. Capitão Du, que conheceu usinas de energia em São Paulo e Rio de Janeiro, era uma liderança e entusiasta da ideia. A participação da Mitra Diocesana, através de Dom Manoel, ao entrar com mais de sessenta por cento no capital social da Empresa de Força e Luz do Aterrado, foi decisivo para que os políticos e empresários acreditassem no futuro da energia elétrica no Aterrado. As vozes discordantes começaram a ficar mudas. Era o Aterrado no caminho certo. Enquanto a barragem era construída, Dom Manoel se encarregava de adquirir os motores da marca Westinghouse com capacidade de geração em 100 kw e criar a linha de transmissão do Jorge até o Largo da Catedral. O prazo era curto, mas a ação dos políticos e a firmeza de Dom Manoel tornava tudo possível. Dom Manoel sempre dizia que a energia elétrica era um desafio pequeno para um modesto arraial, de grandiosas aspirações, que conseguiu formar um patrimônio para a criação da diocese, transformou a pequena capela numa catedral e com esforço titânico construiu o elegante palacete episcopal para mostrar às futuras gerações o que é o poder da vontade e o que se pode esperar de uma política séria.
A bênção do maquinário – Primeira parte do empreendimento
Tudo era festa no Arraial do Aterrado, pois chegou o dia tão esperado e sonhado pela população. Sob as bênçãos de Nossa Senhora da Luz, Padroeira da Paróquia, e sob a proteção de São Rafael, Padroeiro da Diocese, o pequeno Arraial do Aterrado caminhava rumo ao progresso e buscava sua emancipação política. Populares se faziam presentes para admirar a grande represa sustentada por um aterro com mais de 200 metros de extensão por 5 metros de altura. Conforme programação, às 16 horas do dia 24 de dezembro de 1922, Dom Manoel, acompanhado de autoridades se dirigiu ao Ribeirão do Jorge Pequeno para a bênção dos maquinários. Coube ao Monsenhor Vicente, secretário diocesano, fazer as orações e dar a bênção às instalações. Foi paraninfo das instalações o senhor Coronel Pio Cardoso, residente em Bom Despacho, grande admirador, entusiasta e proclamador das gigantescas realizações do Arraial do Aterrado. Ao espocar dos fogos e músicas foi executado a primeira parte do empreendimento. Era aguardar a chegada da noite para as luzes serem acesas o que iria acontecer às 20 horas. A ansiedade tomava conta do povo enquanto o relógio da catedral (Santuário) anunciava a aproximação da hora.
A energia elétrica iluminou a Catedral
O largo da Catedral (atual santuário) foi tomado pela multidão que aguardava ansiosa pelo espetáculo da chegada da energia elétrica. Ali se encontrava toda a elite política, comerciantes e fazendeiros. Chegou finalmente a hora programada. Em Gênesis (1,1-31) Dom Manoel buscou inspiração para que o largo da Catedral fosse iluminado e pronunciou “Fiat lux! (Faça-se a luz!) Et facta lux est”! “E a luz foi feita”). Como num relâmpago, o largo da Catedral ficou caprichosamente iluminado. Imediatamente a Banda Lyra Vicentina Aterradense põs-se a executar o Hino Nacional e o povo, em verdadeiro delírio e admiração, ovacionava a luz que acabava de ser ligada. Como em Isaias (9,2-6): ”populus qui ambulabat in tenebris vidit lucem magnam”, isto é: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz”. O largo da Catedral saiu da escuridão da noite e se transformou numa luz do dia. Centenas de pessoas, que não conheciam a luz elétrica, entre lágrimas e aplausos junto ao coral cantavam a Nossa Senhora da Luz: “Mãe amorosa e gentil ilumina este chão da terra da Santa Cruz, com um divino clarão de vosso manto de luz.” O orador oficial da noite foi o médico Dr. Pedro Cardoso (Dr. Peri), que empolgado pelo entusiasmo do momento produziu uma verdadeira peça oratória, nos moldes do Padre Antônio Vieira no Sermão da Sexagésima. Em referência à Parábola disse: “Saiu o semeador, Dom Manoel, a semear e plantou em terras boas que é o Arraial do Aterrado. A semente rendeu o fruto da iluminação do arraial”. Relembrou os personagens que ajudaram o pequeno arraial: Cel José Tomás, Antônio Gomes de Macedo e a figura épica de Padre Parreiras à frente da paróquia desde 1904. Em seguida o Senhor Antônio Guimarães, representando a Cia. Penna & Guimarães, enalteceu àqueles que se esforçaram para dotar o Aterrado com este extraordinário melhoramento. A Missa do Galo, celebrada por Dom Manoel e Monsenhor Vicente foi abrilhantada pelo coral e pela Banda Lyra Aterradense. No sermão, Dom Manoel agradeceu os esforços de todos que se envolveram para que fosse possível trazer a energia elétrica para o Aterrado. Em oração pediu: “Ó Deus, que fizestes esta noite santíssima resplandecer com o fulgor da verdadeira Luz, que é o Cristo, nós vos pedimos, dê-nos força para continuar a levar o Evangelho a todos os povos da Diocese do Aterrado”. Ao final da missa, Dom Manoel anunciou que junto às autoridades do arraial iria lutar pela emancipação do Aterrado. A pujança comercial do Arraial se faz notar pelos anúncios no jornal “Luz do Aterrado”.
. Boa Leitura! (Fonte: Arquivos da Mitra)
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arrow_drop_downA história de um Arraial que se tornou Diocese
A função de um jornal é registrar os fatos que se tornam noticias. Ao longo de seus mais de trinta anos o Jornal de Luz vem cumprindo essa função registrando os acontecimentos que foram e são noticias. Para os luzenses e as pessoas que moram no oeste mineiro, o centenário da Diocese de Luz é um acontecimento relevante, cuja história merece e precisa ser contada nos quatro cantos de Minas e do Brasil. O Jornal de Luz, para contar a história desse centenário, vai buscar informações no acervo material e oral que ainda existem. A Paróquia de Nossa Senhora da Luz teve papel importante na criação da Diocese do Aterrado em 1918. Vamos contar a história que começou com a descoberta de ouro em Goiás.
A Picada de Goiás – Em busca do ouro
Segundo pesquisa do historiador Edelweiss Teixeira (Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais), no livreto de 1941 publicado pela Prefeitura de Luz, relata a chegada dos primeiros desbravadores ao oeste mineiro. A descoberta de ouro nas terras dos índios Goiazes, nas eras de 1727, atraia um caudal humano para a região, todos em busca de riqueza fácil, na tentativa de marcar território e fincar raízes na região. Por falta de estrada para transportar o sal, o gado e os gêneros alimentícios de que necessitavam as populações nômades, a solução era “abrir” o caminho através das matas. Doenças não eram obstáculos para os desbravadores que contraiam a maior epidemia da época conhecida por “auri sacra fames”, expressão latina usada por Virgilio, que significa “execrável fome pelo ouro”. Com o apoio do governo da capitania mineira foi dada a abertura da “Picada de Goiás” partindo da Villa de São João (Del – Rey) passando por Tamanduá (Itapecerica), Formiga, Piumhi, Bambui até atingir a Serra do Salitre em direção a Araxá e Desemboque (perto de Sacramento) onde seria o encontro da “Picada” vinda de São Paulo. Com a abertura da ”Picada de Goiás” foi feito um ramal a partir da margem esquerda do Rio São Francisco até atingir a “Meia Ponte” em Goiás. À medida que a “Picada” avançava arraiais e povoados iam surgindo. O mais famoso arraial era o do “Taboleiro” destruído pelos índios Caiapós, que habitavam o entrocamento entre São Paulo, Goiás e Minas, no que era conhecido como Triângulo Goiano, onde hoje se encontra o Triângulo Mineiro. Quilombos iam se transformando em pequenos povoados e alguns sendo destruídos. O mais famoso “quilombo” era o do “Ambrósio” que para alguns historiadores ficava na região de Ibiá e o “Quilombo de Jacuí” os quais obrigou o governo mineiro a enviar tropas para a destruição definitiva desses quilombos. Para o historiador Herculano Veloso o “Quilombo do Ambrósio” se localizava na região da atual cidade de Cristais (MG) e o segundo “Quilombo do Ambrósio” ficava em Goiás. Ainda segundo Herculano Veloso o Procurador da Vila de São José (atual Tiradentes) tomou posse da “paragem” que vai do Bamboí (Bambuí atual), seguindo pela “picada” do São Francisco que saiu de Pitangui passando pela Serra da Marcela (região de Campos Altos, Luz e Estrela do Indaiá) Serra da Saudade (divisa de Dores do Indaiá e Abaeté) Serra da Canastra na cabeceira do Rio Paranaíba, Quilombo do Ambrósio, Serra do Lourenço Castanho (Paracatu) até Goiás, região já invadida por Bartolomeu Bueno. Segundo o historiador Tarcisio José Martins muitas tentativas foram feitas para que os desbravadores obtivessem controle do território onde moravam os índios “Araxás” que lutavam contra a invasão de suas terras. Na metade do século XVIII Inácio Correa de Pamplona, que tempos depois delatou Tiradentes à Côrte de Portugal, dizimou as tribos dos Indios Araxás que se opunham aos interesses do invasor. O Governo de Minas Gerais conseguiu o controle efetivo da região permitindo assim o povoamento da vasta zona do oeste mineiro e de modo especial a região de Araxá, por causa de suas águas minerais e sulfurosas.
As primeiras capelas surgidas com a “Picada de Goiás”
Com o surgimento dos pequenos povoados e dos quilombos havia necessidade de se construir capelas para os encontros religiosos. As primeiras que se têm notícias foram em São João Nepomuceno, Itapecerica, Serra do Salitre com a chegada do Padre Leonardo Francisco Palhano. Com as notícias da descoberta de ouro nas cabeceiras do “Rio São Francisco na paragem de Piumhi”, a Câmara de São José Del Rei tomava posse desse novo descoberto e foi nomeado o Padre Marcos Pires Correa como administrador. Padre Marcos se dedicou a levantar a primeira igreja da região que foi dedicada a Nossa Senhora do Livramento, ao redor da qual se formou o povoado. Em suas idas e vindas o Mestre de Campo Inácio Corrêa Pamplona, regente de todo o oeste mineiro, fez uma parada na região de Bambui e edificou uma igreja dedicada a Sant’ana de Bambuhy, mãe de Maria Santíssima, contando com doações em esmolas e trabalho dos escravos. O primeiro vigário parece ter sido Padre José Rodrigues de Oliveira. Acredita-se que Pamplona tenha sido o fundador de Bambuí. Nesta região se dava encontro das linhas divisórias das dioceses de Pernambuco, Mariana e Goiás. Bambui e Pium-i pertenciam ao bispado de Mariana, enquanto Nossa Senhora das Dores da Serra da Saudade do Indaiá, Morada Nova e Paracatu, pertenciam ao bispado de Olinda em Pernambuco. A diocese de Goiás confrontava com a diocese de Mariana no meio do arraial de São João Batista da Canastra. No povoada de Desemboque atuava o Padre Doutor Marcos Freire de Carvalho e Padre Félix, ambos vindos de Tamanduá (Itapecerica) que se tornaram famosos nas lutas de fronteiras.
As Sesmarias ao longo da “Picada de Goiás”
Pessoas interessadas em povoar, fincar raízes na região e principalmente cultivar terras no oeste mineiro obtinham da Coroa Portuguesa as sesmarias. O nome de Salvador Jorge, vindo de Paracatu, é o primeiro nome que obteve da Coroa sesmaria na região. Os rios Jorge Grande, Jorge Pequeno e Jorge do Meio tiveram seus nomes associados ao nome de Salvador Jorge. Na região de Dores do Indaiá aparece o nome de Domingos de Brito que obteve uma sesmaria de três léguas com divisas no Ribeirão dos Veados, Serra do Indaiá, Ribeirão do Jorge e cabeceiras do Riacho dos Antas. No inicio do século XIX os fazendeiros que estavam estabelecidos no povoado de “Boa Vista”, atual Dores do Indaiá, construíram uma capela no denominado largo de São Sebastião, com a capela sendo dedicada a Nossa Senhora das Dores, ao redor da qual foram surgindo várias casas. O primeiro vigário nomeado pela diocese de Pernambuco foi Padre Henrique Brandão de Macedo. A cordilheira da Serra da Canastra passou a ter várias denominações locais como: Serra da Marcela, Serra do Urubu, Serra da Saudade, Serra do Indaiá, Serra do Canastrão. Com os vários povoados surgindo e as brigas existentes entre os fazendeiros é de se notar que as contendas desapareciam com a intervenção da igreja. O povoado de Luz do Aterrado se deu por causa de uma intervenção religiosa das mulheres dos grandes fazendeiros Cocais e Camargos, uma história que o luzense conhece e que aconteceu há mais de 200 anos. Como e porque um pequeno arraial se tornou diocese e em 2018 comemora o seu primeiro centenário é assunto para outras colunas. Boa leitura!
Fonte: Jornal de Luz
Prof. Faustino de Oliveira Filho
faustinofilho@uai.com.br -
arrow_drop_downA história sob um olhar diferente
A história da diocese de Luz vem sendo contada há anos de muitas formas. Segundo o escritor José Paulo Paes “Para que as histórias permaneçam vivas é preciso recontá-las” e o colunista tem procurado contar a mesma história da diocese, sob um olhar diferente. No centenário da diocese (1918/2018) se faz necessário contar e recontar para que a história permaneça viva. Após um descanso merecido, por mais de dois meses em Luz, Dom Manoel voltou para suas visitas pastorais e depois das chuvas, que eram intensas no período pascal, se dirigiu a Bambuí. As histórias de Luz e Bambuí se cruzam desde que os donos das fazendas Cocais e Camargos, Coronel Caetano Marques e João Teixeira, colocaram divisas em suas áreas e ergueram uma capela que, anos depois, se tornou Paróquia de Nossa Senhora da Luz. Em sua visita pastoral no ano de 1914 a Bambuí, Dom Silvério consultou Padre José de Paiva sobre a possibilidade de se criar na paróquia a sede episcopal. Padre Paiva não quis assumir o compromisso por ser grande a responsabilidade.
Bambuí – Um pouco da história e a visita de Dom Manoel
A origem do topônimo de Bambuhy registra, entre outros significados de Rio dos Bambus, Rio das Águas Sujas e Rio dos Gravetos Torcidos. Desde o século XVIII a exploração de ouro na região atraia garimpeiros e desbravadores dispostos a tomar posse das sesmarias. Os primeiros exploradores foram o Capitão-mor João Veloso de Carvalho e Antônio Rodrigues Velho que vieram de Pitangui e enfrentaram a resistência dos índios Caiapós e dos escravos que formavam os quilombolas, sendo o mais famoso da região o do “Ambrósio.”
Os povoados que surgiram na região fez com que a Igreja, através dos padres jesuítas, construísse capelas para os cultos religiosos. Reputa-se ao Padre Toledo e ao mestre de campo Inácio Correia Pamplona a expedição oficial que culminou com a conquista da região de Bambui. Os quilombos e os caiapós foram dizimados e alguns historiadores consideram Inácio Pamplona o fundador de Bambui. Na metade do século XVIII Bambui foi elevado a freguesia tendo padroeira Sant’ana, mãe de Maria Santíssima e o primeiro vigário parece ter sido Padre José Rodrigues de Oliveira. No inicio do século XIX padre Manoel Francisco de Sousa, nomeado para a freguesia, tratou de construir uma capela, pois, a primeira missa foi celebrada debaixo de uma gameleira. Ao ser elevada à Paróquia a Capela de Sant’ana incorporou Córrego Dantas, Esteios e Aterrado, esta 1856 se tornou Paróquia de Nossa Senhora da Luz, desmembrando-se de Bambui. Como em todas as visitas o bispo foi recebido com festas pelas autoridades, pelo povo e pelas associações religiosas existentes na paróquia.
A contribuição para a OVS, em favor do seminário, atingiu uma soma significativa. Durante os sete dias que esteve na paróquia de Bambuí, Dom Manoel visitou as capelas de Desempenhado, Medeiros, Rincão e Tapirai. Visitou ainda a construção do Leprosário e Santa Casa dirigida pelas Irmãs Vicentinas. De Bambuí o senhor bispo se dirigiu para Piunhi passando antes por São Roque de Minas. Mesmo debaixo de chuvas, a visita pastoral à Paróquia de São Roque rendeu bons frutos espirituais e materiais. Ao subir a Serra da Canastra, debaixo de chuvas e trovões, Dom Manoel se lembrou de Moisés no Monte Sinai e com seu bom humor disse: “Deus qui tangit montes et fumigant”, “Deus que faz tremer e inflamar os montes manda essa chuva.” Passou por Boqueirão a caminho de Piumhi.
A Capela de Nossa Senhora do Livramento
A paróquia de Piumhi, assim como Campo Belo, se ofereceu a Dom Silvério para ser sede episcopal e criação de uma diocese na região. A proximidade com as dioceses de Pouso Alegre (1900) e de Campanha (1907) fez com que Dom Silvério não aceitasse a oferta. Seguiu Dom Silvério em sua peregrinação pelo Oeste de Minas. A história de Piumhi se reporta ao século XVII com as brigas existentes entre dois grandes fazendeiros: Capitão Luís Antônio Vilela e Fernão Alves dos Santos.
A fixação das divisas era motivo de lutas constantes entre os dois. Com a descoberta de ouro e diamante na região os garimpeiros e faiscadores formaram pequenos povoados a procura do metal, sendo comandados por Manoel Marques de Carvalho. Na região do garimpo, como a maioria dos garimpeiros fosse católicos, Padre Marcos Pires Corrêa propôs aos habitantes que construíssem uma capela e conseguissem o necessário para a celebração dos ofícios divinos.
O local escolhido foi a terra em litígio entre as famílias do Capitão Luis e de Fernão Alves que cederam a área conflitante.
A capela erigida se chamou de Nossa Senhora do o, separando, desta forma, as duas fazendas e ali foi celebrada a primeira missa. Piunhy em língua indígena significa “Rio dos Mosquitos” em alusão às muriçocas e mosquito pólvora, encontrados em grande escala na região.
A visita de Dom Manoel a Piumhi e Capitólio
Antes de chegar a Piumhi Dom Manoel passou por Desempenhado, acompanhado de Padre Augusto, se hospedou na casa do senhor João Julio que o recebeu com alegria. Não faltou o leite cru servido em “cumbuquinhas” e nem o famoso queijo da Canastra, servidos por Tia Luíza. Ao amanhecer do dia o bispo se dirigiu para Piumhi em cima de um carro de boi para vencer os elevados barrancos que rodeiam o Rio São Francisco e a Serra da Canastra. Nos arredores da cidade Padre Mário Silveira e as autoridades esperavam em dois carros a comitiva de Dom Manoel. Como em todas as paróquias a chegada do bispo era motivo de festas e abrilhantado pela corporação musical de Campo Belo.
A paróquia de Nossa Senhora do Livramento, desde a primeira capela, nunca ficou sem assistência religiosa. Eram varias as associações católicas existentes e a casa paroquial era enorme, mais servindo para um colégio, segundo relato de Dom Manoel. A paróquia de Piumhi sempre colaborou com as Obras de Vocações Sacerdotais (OVS) com quase 14:000$000 (Quatorze Mil Contos de Réis).
Durante os cinco dias que permaneceu em Piumhi, visitou as capelas de Araúna, Capetinga e Macaúbas. Ao se despedir de Piumhi agradeceu a recepção e invocou as bênçãos de Nossa Senhora do Livramento, de São Rafael e se dirigiu para a Paróquia de São Sebastião de Capitólio onde uma multidão o aguardava. Foi recepcionado pelo Doutor Recenvindo Gontijo e se hospedou no hotel do Senhor João Lourenço. As principais ruas estavam enfeitadas e faixas com os dizeres: “Salve Dom Manoel!”, “Bem vindo Pastor do Aterrado” entre outras.
A contribuição para a OVS atingiu Doze Contos de Réis, quantia tão grande que assim falou Dom Manoel durante a missa: “Se seis paróquias do tamanho de Capitólio fizessem doações desse vulto, as vocações sacerdotais iriam aumentar. Deus pague a generosidade de todos vocês. Que Nossa da Luz e São Sebastião lhes traga muita saúde.” Nas duas paróquias foram celebradas missas, batizados, crismas, confissões, casamentos e adoração ao Santíssimo que fizeram parte das festividades religiosas. Ao sair de Capitólio Dom Manoel seguiu em direção a Formiga.
Boa leitura!
Fontes: Arquivo da Mitra, livro: O Pastor de Luz, sites prefeituras de Bambui, Piunhi e Capitólio e portal da Canastra.
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arrow_drop_downA instalação da primeira Câmara Municipal da Villa Luz do Aterrado
Com a emancipação do Aterrado, em homenagem à padroeira Nossa Senhora da Luz, o município no inicio se chamou Villa Luz do Aterrado e posteriormente Luz. Começava o empenho político do senhor bispo para a constituição da Câmara Municipal e eleição do prefeito. Dom Manoel, líder religioso e político, fazia reuniões preliminares com seus auxiliares e escolhia os nomes dos futuros componentes para a primeira Câmara Municipal da Villa Luz. Tudo era questão de tempo, negociações, articulações e paciência. As lideranças que haviam conseguido transformar o Arraial do Aterrado em sede episcopal estavam empenhadas na constituição da Câmara Municipal. Depois de meses de negociações o povo preparava uma grande festa cívica e religiosa para a posse dos primeiros vereadores da Villa Luz.
Dia 16 de Março de 1924 – O fim do Arraial do Aterrado
O dia 16 de março era o mais esperado pela população da Villa porque a data encerrava a vida do Aterrado como Arraial e se transformaria no mais novo município do Estado. As festividades tiveram inicio no dia 15 de março com muito brilho e um movimento animador com a chegada de representantes de Dores do Indayá, Córrego das Antas, Esteios, Santo Antônio do Monte, Bambuhy e outras cidades vizinhas. O senhor Eduardo Edmundo Barbosa, vereador de Dores do Indayá, representava o Governador do Estado Raul Soares e o Deputado Francisco Campos. As festividades tiveram inicio às oito horas da noite numa passeata cívica e a participação de centenas de pessoas que aplaudiam os futuros governantes do município. Na denominada Escola Feminina os participantes dos festejos assistiram a posse da diretoria do Centro Litterario e Recreativo tendo como orador o jovem Dr. Joaquim Mendes Junior que expressou em suas palavras: “O Aterrado dá um passo importante rumo ao crescimento econômico e social com sua emancipação. Torna-se um centro religioso porque a partir de hoje a sede da Diocese não se encontra no Arraial do Aterrado, mas na Cidade de Luz, cujo destino será abençoado por Nossa Senhora da Luz e guiado por São Rafael, nosso padroeiro.” Ao amanhecer do dia 16 de março, ao som do Hino Nacional executado pela Lyra Vicentina e o hasteamento da Bandeira no Edifício da Câmara, deu se o início das festividades de posse aos primeiros vereadores da Villa Luz. Dr. Pedro Cardoso (Dr. Peri) em seu discurso agradeceu o empenho do Senhor Bispo Dom Manoel para que o Aterrado se tornasse município. Após o hasteamento da Bandeira os vereadores se reuniram na residência do Senhor Capitão Du para escolha do Presidente da Câmara. Os vereadores eleitos, estudantes e toda população acompanhados da Banda Lyra Vicentina se dirigiram ao prédio da câmara para a posse dos vereadores.
A posse dos primeiros vereadores
Acompanhados de Dom Manoel, Cônego Vicente Mendonça e Dr. Eduardo Barbosa os vereadores adentraram ao recinto da Câmara Municipal para a devida posse. A sessão foi presidida pelo Sr. Alexandre S. de Oliveira Du, que havia sido o vereador mais votado nas eleições. Ao juramento dos vereadores, com as mãos sobre a Bíblia, Capitão Du pronunciou solenemente: “Juro por Deus cumprir fielmente os deveres de vereador especial deste Distrito de Luz” sendo respondido pelos outros edis “Juramos.” Durante as solenidades foram empossados os vereadores: Alexandre S. de Oliveira Du como Presidente da Câmara; Dr.Pedro Cardoso como Vice; Washington Gomes de Macedo como Secretário; José Garcia Ogando, Francisco Caetano Quito, Gentil Americano do Sul e José Pereira Cardoso. Capitão Du agradeceu o apoio recebido para dirigir o município até que se realizasse eleição para prefeito de Luz. Em seu discurso disse: “Vou trabalhar com todos os meus esforços em favor de minha querida terra. Quero deixar um legado às futuras gerações para que elas sintam orgulho do Arraial que se tornou Diocese. Hoje o Aterrado faz parte de um passado de homens que lutaram para que aqui se tornasse sede episcopal. Agradeço ao Senhor Bispo Dom Manoel pelo empenho em transformar o Arraial nesse município. Tenho fé que, sob as bênçãos de Nossa Senhora da Luz e guiado por São Rafael, o Aterrado será conhecido em todos os rincões como a Diocese de Luz. Acreditem em Luz, que é um território promissor e recebeu os que vieram e receberá de braços abertos os que virão para construir o seu futuro e os de seus filhos. Obrigado a todos.” Foi muito aplaudido. Dom Manoel em sua saudação assim se expressou: “Quando aqui cheguei um desânimo tomou conta de minha alma. Arraial sem estrutura e sem um mínimo de conforto para ser uma sede de bispado. Segui o exemplo de Padre Parreiras e ao lado de pessoas dispostas a alavancar o crescimento do arraial partimos para a luta. Hoje o Aterrado se acende de coragem e se transforma no município de Luz. Deixo para todos, em nome de Nossa Senhora e do Arcanjo São Rafael, as bênçãos apostólicas para que a Luz nunca se apague na nossa cidade e em nossos corações. O Advogado Corgosinho Filho, em nome do povo da Villa Luz do Aterrado, presenteou o Presidente da Câmara com uma caneta de ouro e ao discursar disse: “Uma caneta de ouro é para mostrar a importância da instalação desta Câmara de Vereadores. Com ela nossos edis irão assinar o primeiro ato do poder municipal, ora regularmente constituído” As palavras latinas “Ubi Societas, ibi jus, onde há uma sociedade aí está o direito refletem um futuro promissor para nossos cidadãos e a Câmara Municipal ao lado do poder executivo irá trabalhar para o direito dos Aterradenses, de agora em diante apenas Luzenses.” O senhor Eduardo de Almeida Barbosa, representando Dores do Indaiá, deu votos de boas vindas ao novo município, disse ele: “Dores perde um distrito, mas ganha um aliado em busca do desenvolvimento. O primeiro prefeito da Villa Luz terá um grande parceiro em busca de recursos, na pessoa do Deputado Francisco Campos.” Enalteceu ainda a figura do Cel. José Tomás que exerceu o mandato de vereador, representando o Aterrado, em Dores. Usaram da tribuna os senhores: Dr. Joaquim Mendes Junior, Professor Edmundo de Menezes e o senhor Gentil Americano do Sul. Em nome dos vereadores empossados Dr. Pedro Cardoso da Silva pontuou: “A honrosa confiança do eleitorado do município depositada em minha pessoa e nos demais vereadores será correspondida em beneficio dos moradores da Villa Luz e de todo município.” Ao final da posse, sob os aplausos dos presentes, o Presidente Capitão Du encerrou a reunião de posse enquanto a Banda Lyra Vicentina entoava os “Parabéns pra Você”. Com a instalação da Câmara Municipal o Presidente Alexandre S. de Oliveira Du passou a exercer, de forma interina, o mandato de primeiro prefeito de Luz. Durante o almoço oferecido às autoridades Dom Manoel passou a articular a criação da Comarca no município de Luz.
Boa Leitura! (Fontes: Arquivo da Mitra e Câmara Municipal de Luz).
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arrow_drop_downAterrado antes da criação da Diocese
A história da cidade de Luz, desde os tempos do Aterrado, se mistura com a religiosidade de sua população, pequena na verdade, e moradores das vilas, distritos e cidades vizinhas. Tudo começou com a “Picada de Goiás” que atraia pessoas interessadas em procurar ouro na bacia do São Francisco. Com o aumento da população na freguesia do Aterrado, o Bispado de Mariana criou a Paróquia de Nossa Senhora da Luz do Aterrado em maio de 1856, desmembrado da freguesia de Bambuí. O primeiro vigário, como dito em crônica anterior, foi Padre Manoel Martins Ferraz. Não se tem registro se Padre Manoel era um vigário “colado” ou “encomendado”. Para esclarecimentos aos leitores vamos à diferença entre vigário “colado” e “encomendado”. Os vigários “colados” eram sacerdotes indicados para assumir em caráter permanente uma paróquia canônica e legalmente constituída. O cargo existiu durante o período monárquico, quando estava em vigor o sistema do padroado, em que Igreja e Estado compartilhavam responsabilidades na administração da vida religiosa e civil. Os vigários “colados” eram funcionários do Estado, assumiam suas paróquias após prestarem um concurso público e receberem a colação, daí o seu nome. Possuíam uma sólida cultura, não podiam ser removidos a não ser por vontade própria e eram incluídos na folha de pagamento estatal, recebendo um salário chamado “côngrua”, a partir do dízimo recolhido dos fiéis pelo poder civil. Foi extinto com a proclamação da República no Brasil. Vigário “encomendado” era sustentado pelos fiéis, administrava a paróquia em caráter interino sendo submisso ao poder do bispo. Os vigários “encomendados” faziam aumentar o poder dos bispos, que os transferiam constantemente, já que não podiam fazer o mesmo com os colados. Com a criação do município de Santo Antônio do Monte em 1859 a freguesia do Aterrado foi desmembrada de Formiga e anexada ao novo município. A anexação serviu para que muitas famílias de Santo Antônio e Pitangui fizessem investimentos no Aterrado e Esteios. Começava um novo tempo para o Aterrado.
O Aterrado no final do Século XIX
O arraial do Aterrado era pequeno e em suas construções encontravam-se com poucas casas de telhas, todas elas em péssimo estado de conservação. Subindo a estrada em sentido Dores do Indaiá, Olaria e Manda Saia a maioria eram ranchos cobertos de sapé. O mesmo ocorria no sentido do Morro do Jorge e também em direção ao Córrego da Velha. A Capela, que fora construída pelos donos das Fazendas Cocais e Camargos, dera lugar à outra onde era o ponto de encontro dos fiéis durante os cultos dominicais. Coberta de telhas, de duas águas, com cinco janelinhas ao alto, uma cruz de madeira conhecida por cruzeiro em sua frente e um sino numa armação do lado esquerdo. Havia ainda a Capela de Nossa Senhora do Rosário, erguida bem antes do Aterrado se tornar paróquia. Obra dotada de certo gosto artístico, pintada em cores no estilo barroco, ficava nas proximidades do Grupo Sandoval de Azevedo. Provavelmente ali se realizava a festa do congado, embora não haja registro sobre essa festa na época. O local que servia de cemitério, visto que era proibido o sepultamento dentro da igreja, ficava nas imediações do atual Grupo Sandoval de Azevedo, cercado por aroeira e em péssimo estado de conservação. Para dar um sepultamento digno aos fiéis a Igreja construiu um novo campo santo onde hoje se encontra o atual cemitério. A cruz de madeira, que ficava em frente a capela, foi levada e colocada em frente ao novo cemitério. Os corpos que estavam sepultados no antigo cemitério foram transferidos para o novo local sendo abençoados por Padre Fortunato.
Aterrado – o surto do progresso
Com a criação do município de Dores do Indaiá em 1881 o Aterrado e Córrego Danta foram anexados ao novo município, enquanto o distrito de Esteios continuava a pertencer a Santo Antônio do Monte. Atraídos por terras baratas e férteis diversas famílias vieram para o Aterrado e Esteios. A chegada do Cel. José Tomaz de Oliveira (Santo Antônio do Monte), Cel. Antônio Gomes de Macedo (São Gonçalo do Pará), Cel. Joaquim Mendes de Carvalho, Professor Josino Rodarte (Campo Belo) e do professor Joaquim Alves Costa (Prof. Botinha) em Esteios trouxeram ares de progresso e de modernidade para o pequeno povoado. Aos poucos autoridades foram sendo constituídas como Juízes de Paz: Cel. José Tomaz de Oliveira, que foi eleito vereador em Dores do Indaiá representando o Aterrado; Francisco Rezende; Joaquim Pedro da Costa; Escrivão do Registro Civil, Miguel Archanjo Rodrigues; Delegado de Polícia, Alfredo Costa; Delegado Distrital, Francisco Borges; Agente do Correio, Sancho Medeiros de Menezes e Prof. João Calixto de Assumpção. Tudo caminhava para o Aterrado se tornar uma grande cidade por causa das construções, plantações de café, arroz, feijão, milho, criação de bovinos e suínos. A criação da Conferência de São Vicente de Paulo por Faustino Teixeira, de Bom Despacho, veio para ajudar, através dos vicentinos, os pobres do Aterrado. Os primeiros vicentinos foram: Antônio Gomes de Macedo, Miguel Moreira de Macedo (Macedinho), Alexandre de Oliveira Du, Gil Pereira, Joaquim Botinha, José do Egito Cardoso e Ramiro Botinha. Tempos depois foi criado o Apostolado da Oração.
Primeira visita Pastoral de Dom Silvério
Naquela época a visita de um bispo demorava anos para ser feita. A paróquia de Luz do Aterrado pertencia ao Arcebispado de Mariana, cujo Arcebispo era Dom Silvério Gomes Pimenta. A visita pastoral ao Aterrado se deu no ano de 1904 e as autoridades do Aterrado, comandadas por Antônio Gomes de Macedo e Cel. José Tomaz, se fizeram presentes na recepção a Dom Silvério Gomes que chegara à paróquia de Luz pelo Morro do Jorge e as festividades da visita duraram mais de uma semana. A comitiva do Arcebispo era composta por muitos padres, dentre eles se destacava a figura do jovem Padre Joaquim das Neves Parreiras, cuja amizade com Dom Silvério vinha de muito tempo. A paróquia de Luz contava com os serviços espirituais de Padre José Rodrigues Paiva, vigário de Córrego Danta, que uma vez por mês se dirigia ao Aterrado para os atos religiosos como celebrar missas, batizados e casamentos. Reunidos com Dom Silvério as autoridades pediram um padre que pudesse estar presente na paróquia todos os dias e sugeriram o nome de Padre Parreiras para futuro vigário. Dom Silvério atendeu ao pedido dos paroquianos e em dezembro de 1904, Padre Parreiras se tornava vigário do Aterrado. Seu dinamismo logo se fez notar ao percorrer toda a freguesia, visitando casa por casa para conhecer seus paroquianos. Em seus sermões e nas visitas aos meios rurais Padre Parreiras incentivava o plantio da lavoura de cereais, como meio para desenvolver o pequeno Aterrado.
O Arraial do Aterrado aceita o desafio de se tornar diocese
Após dez anos, Dom Silvério volta ao Aterrado para uma nova visita pastoral. A recepção foi mais pomposa do que se podia fazer, como prova de estima e veneração ao ilustre visitante. Os animais foram retirados da liteira e o povo conduziu Dom Silvério nos ombros desde o Ribeirão do Jorge até a casa paroquial, numa distância de mais de um quilômetro. Na frente da recepção estava o incansável Padre Parreiras. Dom Silvério em conversa com Padre Parreiras falou no desejo de dividir a diocese de Mariana. Consultado as várias cidades da região nenhum padre quis aceitar o desafio de se tornar sede do bispado. Parreiras perguntou se era possível um arraial se tornar sede de bispado. Com a resposta afirmativa, desde que se constituísse um patrimônio, Parreiras, em consultas aos amigos e autoridades e recebendo a permissão de seus pares aceitou o desafio para tão grande encargo. Novos ventos de progresso iriam soprar sobre o aterrado. Assunto para outras crônicas.
Boa leitura! (Fontes: Dom Belchior em O Pastor de Luz, Djalma Azevedo em Um Pouco de Luz e Edelweiss Teixeira).
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arrow_drop_downCentenário Diocesano
DIOCESE DE LUZ
JUBILEU DO CENTENÁRIO – 1918 – 08/07 – 2018
Nossa Diocese de Luz foi criada a partir do desejo da Igreja em se fazer presente, de modo eficaz, dinâmico e permanente, “no vasto território do centro-oeste mineiro”, até então pertencente a Mariana, primeira Diocese das Minas Gerais. Somos herdeiros e continuadores desta riquíssima história.
Em 8 de julho de 1918, se acendeu a pequena fagulha de nossa Igreja Particular. Hoje, caminhamos para o Jubileu de seu centenário. Dentro desse caminho comemorativo, a logomarca é um passo necessário, norteador e condutor de bons trabalhos. Esta explicação não esgota seu significado, mas nos convida à contemplação, a oração, expressando, o nosso desejo de continuar a caminho e unidos neste tempo jubilar, como sempre estivemos.
A LOGO DO CENTENÁRIO
A CRUZ: Centro da nossa fé cristã, aparece no centro do desenho, branca e sem o Crucificado, nos recordando o mistério da sua Ressurreição do Senhor. É por ela e com ela que testemunhamos a força libertadora e salvadora da nossa fé (Lc 9,23).
A CHAMA: Da base da Cruz, brota o movimento da chama, que aquece e ilumina. Hoje, não só nas limitações próprias da fragilidade humana, mas na força de nosso testemunho, fruto da graça batismal, somos chamados a ser “luz do mundo” (Mt 5,14). A Diocese traz, em seu nome, esta pequena palavra – LUZ – rica em significados para nossa fé, ponto crucial que nos fez escolher a presença da chama materializada em sua forma, composta por 7 pequenas chamas (número bíblico da perfeição, sete dons do Espírito Santo, sete sacramentos…), relembra a caminhada em busca da plenitude, experimentada desde agora no chão de nossa vida, onde a Cruz foi plantada e que só alcançará a sua completa realização no Reino de Deus.
A CASA COMUM: Dentro da chama, há também, o movimento que lembra as águas e as florestas, assim como suas cores, nos remetendo aos nossos rios, São Francisco, Grande e seus afluentes; nossas represas, Furnas e Três Marias; e demais riquezas naturais. Nossa casa comum, a qual o Papa Francisco, em sua encíclica “Laudato si”, nos exorta a cuidar.
AS CORES: Presentes em diversos matizes recordam ainda as foranias da Diocese. A estrutura pastoral favorece a riqueza da pluralidade de vocações e ministérios eclesiais, para que sejam despertados, acolhidos, formados e fortalecidos no serviço da evangelização.
Celebramos um “Centenário de Luz”, abrindo-nos em busca de outro. Desafiados pelos ventos tempestuosos do “mar da vida e da história”, estamos na pequenina barca que é a Igreja, “santa e pecadora”, mas que é sacramento do Reino. Cada um dos batizados e todos nós, em nossas comunidades cristãs, somos esta chama de esperança, alimentada pelo sopro do Espírito Santo. Espalhemos a “centelha da fé, quais raios luminosos que acendam brasas de humanidade sob as cinzas destes tempos desumanos, para que o mundo creia”!
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arrow_drop_downDa pequena capela à Paróquia do Aterrado
Chegar aos 100 anos é empreender uma travessia pelo mundo lá fora e dentro de si. É da vida: o tempo e a lucidez se encontram com o passar dos anos. Poucas pessoas chegam a completar 100 anos. Algumas instituições vão sofrendo modificações ao longo dos anos e dirigidas por várias gerações até completar um século de existência.
A Diocese de Luz, mesmo dirigida por mãos humanas, passou por esse processo de transformação para atingir um século de vida em pleno vigor físico e espiritual. São cem anos de história e uma data que precisa e merece ser comemorada. Não há como explicar o milagre da longevidade, nem o milagre da multiplicação e nem a lucidez.
A Igreja de Luz pode ser comparada a uma árvore grande, frondosa, bem plantada, firme no chão com suas raízes profundas, seu tronco forte e seus galhos contendo flores e frutos deliciosos. E o resultado não podia ser outro senão uma colheita abundante o que vem acontecendo ao longo de sua trajetória. Consagrada a São Rafael a Igreja de Luz leva as palavras de Cristo a todos os cantos de seu território. A história da Diocese começou bem antes com a “Picada de Goiás” e a descoberta de ouro na bacia do Rio São Francisco.
Entre os séculos XVIII e XIX a Diocese de Mariana já registrava em seus anais a freguesia do Aterrado e ponto de apoio aos bandeirantes. Com o aumento da população no povoado acabou sendo elevada à paróquia com o nome de Nossa Senhora da Luz do Aterrado. O sopro do Espírito Santo já preparava o caminho para uma futura diocese nos oeste mineiro. Voltemos aos séculos XVIII e XIX.
Cocais e Camargos – Latifundiários de Bambuí e do Aterrado
A origem do aterrado se reporta à luta entre dois grandes latifundiários cujas fazendas se denominavam Cocais e Camargos e se estendiam desde a freguesia de Bambuí até a freguesia do Aterrado. Camargo, os portugueses, são ascendentes dos Camargos do Aterrado. Eram escravagistas, predadores de índios no Território das Missões no Sul do País, ricos e poderosos. Os Camargos dominaram a política da Província de São Paulo por mais de cem anos em luta constante contra os membros da família Pires.
Eram dois partidos adversários: o dos Camargos e o dos Pires. Os Camargos são descendentes do pioneiro João Ramalho, figura enigmática dos primeiros tempos da colonização, que se casou com a índia Bartira, filha do cacique Tibiriçá como ele a chamava. Foi “convertida” e batizada com o nome de Isabel Dias pelo jesuíta Padre Nóbrega. Ele também foi catequizado e batizado com o nome de Martim Afonso Tibiriçá, em homenagem ao donatário da Capitania de São Vicente, que desembarcou em Santos em 1532, na praia de Bertioga. De João Ramalho e Bartira nasceram doze filhos entre quais notamos o nome de Francisco Ramalho de Macedo que fez parte da Bandeira que partiu de São Paulo, desbravando Minas Gerais, até chegar a região de Pitangui. Em Pitangui constituiu família que anos depois alguns descendentes mudaram para Luz dando origem à tradicional Família Macedo, cujo patriarca é Antônio Gomes de Macedo. (Fontes: Guaracy de Castro Nogueira e Edelweiss Teixeira).
O nome do Coronel João Teixeira de Camargos, embora não sabemos se é a mesma pessoa, aparece pela primeira vez, no século XVIII, como proprietário da Fazenda Vista Alegre, na região de Contagem e Belo Horizonte. Em sua área havia intensa produção de farinha de mandioca e polvilho. Atualmente a antiga sede da fazenda é tombada e o patrimônio pertence a Fundac (Fundação Cultural de Minas). Provavelmente o guarda mor João Teixeira de Camargos, casado com Maria Antônia Teixeira, veio de Nossa Senhora de Congonhas do Campo, tendo sido morador em sua fazenda na freguesia de Nossa Senhora Santana de Bambui (f.1819). Do casamento nasceram sete filhos e todos herdeiros do pai em 1816 (testamento do Guarda Mor, arquivo do IPHAN, São João Del-Rei, Livro 27- F.76).
O coronel João Teixeira recebeu da coroa portuguesa uma sesmaria de meia légua de terra entre os ribeirões Jorge do Meio e Jorge Pequeno, as fazendas Córrego da Velha, Boa Vista, Limoeiro e Veredas. Seus domínios começavam em Bambui, passando por Córrego Danta até atingir o Aterrado. O seu principal vizinho era o coronel Caetano Marques (Rodrigues?) Tavares conhecido como Coronel dos Cocais, do qual não se tem muitos registros. Sua sesmaria começava nas paragens dos Cocais e Mandassaia e havia ingressado na região por Bambui, conforme carta de requisição de sesmaria da Fazenda Cocais, Freguesia de Santa Ana de Bambui, datada de dezembro de 1799 em Vila Rica e obtida em agosto de 1801. Consta ainda nos registros o nome de Albino José Pinto Coelho, como proprietário da Fazenda dos Cocais. (Fonte: Waldemar de Almeida Barbosa).
Promessa a Nossa Senhora – Uma história que todos conhecem
Por não haver uma divisa definida, já que as terras perdiam de vista, os proprietários das fazendas Cocais, Coronel Caetano Marques (Rodrigues?) Tavares e da Fazenda Camargos, João Teixeira Camargos viviam em constantes brigas por causa dos extravios de gado e outros animais. O descontentamento chegou a tal ponto que a qualquer momento poderia haver morte de um lado ou do outro. A esposa do Coronel João Teixeira, senhora Maria Antônia Teixeira, fez uma promessa a Nossa Senhora para que o conflito fosse solucionado. Foi proposto que o Coronel Camargos e o Coronel Tavares saíssem de suas casas ao amanhecer do dia e se dirigissem a respectiva casa do outro.
No local onde houvesse o encontro seria o marco divisório de suas propriedades, o que ocorreu perto do Ribeirão Jorge Pequeno. Resolvido a pendenga ficou combinado entre os dois coronéis que ali fosse erguida uma capela com o nome de Nossa Senhora da Luz do Aterrado para fazer cumprir a promessa da esposa do Coronel Camargos, senhora Maria Antônia. Ali foi celebrada uma missa em agradecimentos pela paz reinante entre os dois latifundiários. A área compreendida entre o Jorge Pequeno, cabeceiras acima em direção ao Açudão, passando pelo espigão do Serrote ao norte no Refêgo foi doada à Igreja de Bambuí. A dois quilômetros de distância da capela havia um “olho d’água” e um aterro para que se elevasse a água não só para a cultura como para abastecer o povoado que se formava ao redor da capela. Por esse “Aterrado do Açudão” passava a estrada nos terrenos da “Granja do Aterrado” propriedade do Farmacêutico Antônio Gomes de Macedo. Do “Açudão” descia um rêgo de água, após percurso subterrrâneo aflora no Açudinho, onde hoje se encontra a Praça Marcos Evangelista, que era o centro comercial do povoado. Esse “Rêgo” era conhecido como “Córrego do Açudinho” e ia até a “Biquinha” fonte de abastecimento da população. A existência deste “aterro” fez o povoado se chamar “Aterrado” e a freguesia receber a denominação de Nossa Senhora da Luz do Aterrado.
A população do Aterrado no inicio do século XIX era constituída de cerca de 900 habitantes em sua maioria católica. Dom Viçoso, bispo de Mariana observou a necessidade de se colocar mais um marco divisório em sua diocese. Em 1856 a freguesia de Nossa Senhora da Luz do Aterrado se tornou paróquia, desmembrada de Bambuí e Padre Manoel Martins Ferraz foi o seu primeiro pároco. Depois vieram os padres Vigilato, Padre José, Padre Isaias, Padre Fortunato e Padre Vicente. A primitiva capela se localizava onde hoje se encontra o Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Como a Paróquia foi palco para se tornar sede de uma diocese é assunto para outras crônicas.
Fonte: Jornal de Luz
Prof. Faustino de Oliveira Filho
faustinofilho@uai.com.br -
arrow_drop_downDe São Jerônimo dos Poções à Paróquia de São Francisco das Chagas
Após mais de uma semana visitando as paróquias de São Gotardo, Dom Manoel partiu rumo às paróquias de São Jerônimo dos Poções, município de Campos Altos e à Paróquia de São Francisco das Chagas, atual Rio Paranaíba. Sem poder voltar à sede do Bispado, devido à distância, de mais de 25 léguas e às dificuldades no transporte as visitas pastorais duravam até três meses. Mesmo distante, Dom Manoel trabalhava para ter em Luz o Poder Judiciário com a implantação de uma Comarca. Contatos com o mundo Jurídico e Político eram feitos em suas viagens contando com o apoio de Capitão Du, Dr. Peri e Dr. Josaphat Macedo. Em todas as visitas às paróquias e capelas Dom Manoel pedia contribuição para a OVS e para a construção da futura catedral diocesana.
São Jerônimo dos Poções
Surgiu nos meados do século XVIII por garimpeiros que descobriram ouro e diamante no Rio Misericórdia. Pequenos roceiros e remanescentes do Quilombo do Ambrósio, cujas ruínas se encontram no distrito de São Jerônimo, ajudaram no aumento populacional do Poções. O nome de São Jerônimo dos Poções se deve ao santo padroeiro do distrito e Poções porque existem vários poços d’água que os moradores denominavam de poções. O padroeiro foi entronizado por Padre Elias atendendo um pedido de seu irmão morador do local. O fazendeiro Leandro Lara doou o terreno e construiu a capela perto de sua casa. Desde que foi criado, o distrito de São Jerônimo pertenceu a Araxá, Ibiá, Carmo do Paranaíba, Rio Paranaíba e quando da visita pastoral pertencia a São Gotardo. Na década de 1940 passou a pertencer a Campos Altos. Serviu de pouso de boiadeiros, passagem de tropeiros procedentes de várias partes do País que traziam em suas bruacas sal, remédios, tecidos e artigos para selaria e sapataria. Possuía várias casas comerciais, escola pública, delegacia e policiamento.
Com a inauguração da estrada de ferro Urubu, em 1913, o povoado tomou novo rumo com a construção de novos armazéns, construção de casarões como os do Dr. Luis de Souza e do Coronel Frederico Franco e com os dormentes não utilizados na estrada de ferro, os negros, mestiços e pobres construíram suas cafuas. O nome Estação do Urubu foi derivado da Serra do Urubu.
E com o passar dos anos passou a se chamar Estação dos Campos Altos. Com o declínio do povoado, a maioria da população mudou-se para Campos Altos.
A visita Pastoral a São Jerônimo
Antes de chegar ao povoado de Poções, Dom Manoel passou pela fazenda da Cachoeirinha, onde era esperado por uma grande multidão. Durante os dois dias que ficou na Cachoeirinha, Dom Manoel atendeu confissões, batizou e fez casamentos. Em São Jerônimo dos Poções uma multidão aguardava Dom Manoel que foi recepcionado pelos senhores José Rochael e José Cândido de Farias. Pela primeira vez um bispo visitava aquele arraial. A riqueza da pequena igreja deixou o senhor bispo entusiasmado pela freguesia. Paramentos novos, tabernáculo de metal, ostensório de prata, lustres e candelabros de metal. O povoado contribuiu para a OVS com 520$000 Réis e a caderneta da OVS atingiu o montante de 16:284$000 Réis. O patrimônio da paróquia era de doze alqueires que foram doados pelo Sr. Leandro Lara. Antes de se tornar paróquia o povoado era assistido por Pratinha e os primeiros padres foram: Padre Raimundo Vieira, Padre Manoel, que um dia desapareceu e não mais voltou. Padre Isidoro e Padre Antônio de Freitas.
As capelas de São Jerônimo e de Nossa Senhora do Rosário foram construídas pelos irmão Leandro e José Pedro Lara, delas só restando as ruínas. Antes o povoado pertencia à Diocese de Uberaba e em 1921 passou para o território da Diocese do Aterrado. Durante a missa de despedida do povoado, após dois dias, Dom Manoel em sua homilia agradeceu a todos a contribuição dada a OVS. Disse ele: “A contribuição de vocês irá ajudar na formação de padre para a nossa diocese. Que Nossa Senhora da Luz ilumine a todos e que São Jerônimo derrame muitas bênçãos sobre vocês.” Na despedida a Banda de Música executou o hino a São Rafael. A missão era se dirigir à Paróquia de São Francisco das Chagas.
São Francisco das Chagas- Rio Paranaíba
Igual a tantos povoados da região, Rio Paranaíba cresceu com os garimpeiros em busca do ouro. No século XVII foi visitado pelo Padre José Pascualine que teve que enfrentar as divergências das famílias Rodrigues e Oliveira para celebrar a primeira missa. Para não haver discórdia a missa foi celebrada entre os limites dos dois fazendeiros, local que é hoje a cidade de Rio Parnaíba. No século XIX o município era composto dos distritos de Carmo do Arraial Novo (Carmo do Paranaíba) Lagoa Formosa, Areado, São Sebastião do Pouso Alegre e contava com uma população de 5.000 pessoas. Dois lugarejos compunham o distrito a Mata da Corda e Mata dos Lages. A população sempre foi assistida por padres que atuavam na região.
Rio Paranaíba pertenceu as Dioceses de Olinda, Mariana, Uberaba e do Aterrado. Frente à Paróquia estiveram os padres: Antônio Ribeiro, Joaquim Antônio, Padre Francisco, Camilo Martins, João Ferreira, Manoel, Silvério, Manoel Macedo, Joaquim Felix, Miguel Querdole, Heriberto Goetterdorfer, Vicente Peres, Francisco Vicente, Gregório Lambrana, Domingos Gonçalves, Inácio Campos, Isidoro Guilmin, Francisco Goulart, Antônio de Ascenção, Pelegrino Guarino, Felipe Abraão. Alguns padres morreram na paróquia e outros foram expulsos por fazendeiros locais que não aceitavam suas pregações.
A visita de Dom Manoel
Após uma viagem cansativa, Dom Manoel e comitiva chegaram à fazenda do Senhor Regino, que mesmo surpreendido o recebeu com alegria e com ótima hospedagem. A Fazenda denominada de Guarda dos Ferreiros possuía uma capela que era visitada pelo padre de São Gotardo. Em brincadeira Dom Manoel dizia: “Passei por Confusão, por Perdição, por Urubu, por Guarita dos Ferreiro até chegar em Rio Paranaíba.“ Ao amanhecer do dia, Dom Manoel despediu-se do Sr. Regino e pôs o pé na estrada. No fordinho, seguiu para São Francisco das Chagas. Escreveu ele: “Um sol ardente que nos obriga a andar de guarda sol. O fino pó das estradas nos obriga a andar em paralela à via principal.” Uma multidão esperava na entrada da cidade a chegada do bispo que se dirigiu para a escola local. Ruas enfeitadas e faixas davam as boas vindas ao ilustre visitante enquanto a Banda de Música executava; “Queremos Deus, Homens Ingratos.”
As Associações do Apostolado da Oração, São Vicente de Paulo e irmandade da Via Sacra organizaram as crismas para mais de 500 pessoas, os batizados, confissões e casamentos. Dom Manoel visitou as capelas do Bom Jesus da Salsa, Capela da Santa Cruz e do Guarda dos Ferreiros. Com um patrimônio de 3:800$000 Réis a paróquia não contribuía para a OVS. Ao visitar Rio Paranaíba Dom Manoel disse: ”Uma região tão rica como essa não pode deixar de contribuir para a OVS e para a formação dos padres.
Conto com a boa vontade de todos.” Ao final da visita, após seis dias de muitas orações, Dom Manoel despediu-se do povo com a oração de São Francisco: “Senhor venho te pedir saúde, paz e sabedoria. Que eu seja bondoso e alegre e guarda minha língua de toda maldade.
Que as bênçãos de Nossa Senhora da Luz e a proteção de São Rafael caiam sobre todos vocês.” A banda de música executou o hino a Nossa Senhora da Luz, Dom Manoel se despediu e foi em busca de outras paragens.(Obs. Rio Paranaíba hoje pertence à Diocese de Patos).
Fonte: Arquivos da Mitra, livro O Pastor de Luz, sites das Prefeituras de Campos Altos e Rio Paranaíba.
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arrow_drop_downDom Manoel O Pastor de Luz
Fui buscar no livro O Pastor de Luz, autoria de Dom Belchior, lançado em 1984 por ocasião do centenário de nascimento de Dom Manoel, o título para esta crônica. Conheci o primeiro bispo de Luz em 1958 quando passei a ajudá-lo, como coroinha em suas missas, cujas celebrações ocorriam na capela existente ao lado do Palácio Episcopal. Conheci, quando coroinha, vários padres da diocese entre os quais me lembro: Padre José Lara, Cônego Ivo, Padre Jonas Ferreira, Monsenhor Aparecido, Monsenhor Alfredo, Monsenhor Omar, Monsenhor Geraldo, Padre César de Carvalho, Padre José Lima e Padre José Martins, que anos depois se tornariam bispos de Sete Lagoas e Porto Velho. Segundo relato os primeiros sacristãos de Dom Manoel foram: André, Cotegipe, Sebastião da Costa Veloso, Chico Cotegipe e Pedro Coimbra. Quando Sebastião Veloso foi convocado para a Segunda Guerra Mundial visitou Dom Manoel pediu sua bênção e proteção divina para partir para a Europa. Dom Manoel o abençoou e lhe deu as medalhas de São Rafael e da Medalha Milagrosa e disse as seguintes palavras: “Estas duas medalhas lhe protegerá e serão as bênçãos para o seu retorno a Luz com saúde e vitorioso. Que Deus lhe proteja Pracinha Sebastião.” O colunista tentará contar um pouco sobre Dom Manoel, por ocasião do cinquentenário de seu falecimento.
Família Nunes Coelho – Origem de Dom Manoel
om Manoel é descendente de família tradicional da região de São Miguel e Almas (atual Guanhães). O Capitão Francisco Nunes (bisavô de Dom Manoel) era negociante, fazendeiro e tinha uma fábrica de ferragens em sua fazenda. Foi subdelegado, Juiz de Paz e Presidente da Câmara Municipal. Deixou muitos filhos entre os quais se destacou o Tenente Joaquim Nunes Coelho (avô de Dom Manoel), casado com Francisca Eufrásia de Assis, fazendeiro e um dos primeiros colonizadores que aportou em Virginópolis nas eras de 1838. Foi o primeiro Juiz de Paz de Virginópolis. O casal teve muitos filhos entre os quais Miguel Nunes Coelho casado com Dona Ambrosina de Magalhães Barbalho e que se tornaram pais de Manoel Nunes Coelho Sobrinho e de Consuelo Nunes Coelho que anos depois seriam no Aterrado Dom Manoel e Dona Bembém. A família Nunes Coelho é calculada em mais de 10.500 descendentes. (Fonte: livro Arvore Genealógica da Família Coelho, de: Ivânia Batista Coelho)
O Vigário de Sant’ana do Suassuy
Manoel Nunes Coelho Sobrinho nasceu em Virginópolis em 1884. Aprendeu a ler na escola de sua terra natal e por falta de recursos financeiros andava sempre descalço. A sua inteligência em aprender as primeiras letras e incentivado pelo padrinho o levou a estudar no Seminário de Diamantina. Acreditava ele que, como padre, seria um instrumento de Deus para ajudar os pobres de sua terra natal. Com brilhantismo, embora sempre adoentado, cursou Humanidades, Filosofia, Teologia e em todas as etapas recebeu elogio de seus professores, principalmente do Arcebispo de Diamantina Dom Joaquim Silvério. Para se tornar sacerdote o Direito Canônico exigia uma idade mínima de 24 anos. Ao concluir os seus estudos o teólogo Manoel Nunes foi dispensado dessa exigência e no dia 7 de abril de 1907, aos 23 anos, recebeu a ordenação sacerdotal na Basílica do Sagrado Coração de Jesus, em Diamantina, com a presença de sua mãe Dona Ambrosina, o pai havia falecido alguns anos antes e com a participação de seus irmãos e familiares. Pelas mãos de Dom Joaquim Silvério de Sousa o teólogo Manoel Nunes se tornava “Sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedech”, (Sacerdote para sempre) ou simplesmente Padre Manoel Nunes. Sua primeira Missa solene aconteceu em sua terra natal no dia 7 de julho de 1907. Designado para trabalhar na pequena vila de Sant’ana do Suassuy, atual Coroaci, era chamado carinhosamente por
seus paroquianos de Padre Nelo. Seu apostolado em Sant’ana começou pelos pobres com o movimento vicentino organizando as Conferências de São Vicente e Nossa Senhora das Vitórias. Fundou a congregação das Mães Cristãs, Legião de São Joaquim, imprimiu a Folhinha Eclesiástica e a Revista Vesper para ajudar na instrução dos fiéis. Construiu uma Igreja no lugar da antiga capela e uma Casa Paroquial para ser a moradia dos padres. Seu dinamismo o levou a ser convidado pelo Arcebispo de Diamantina a viajar pela Europa, Egito, Terra Santa e participar do Congresso Eucarístico em Lourdes, onde adquiriu bons conhecimentos e experiência apostólica. Pelos bons serviços prestados à Igreja de Sant’ana de Suassuy foi nomeado pelo Papa Bento XV bispo da recém-criada Diocese do Aterrado.
De Sant’ana para o Aterrado
Após ser sagrado bispo, Padre Nelo passou a ser chamado de Dom Manoel Nunes Coelho, tendo sido empossado na Diocese do Aterrado em 10 de abril de 1921. Adotou como lema episcopal “Fragilitati Nostrae Praesidium” (Proteção para Nossa Fraqueza) pedindo a proteção de Nossa Senhora do Carmo, da qual ele era devoto. Dirigiu a Diocese do Aterrado e conduziu o seu rebanho seguindo as palavras de Cristo: ”Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida por suas ovelhas.” (João 10,11). Após 39 frente à diocese e se sentindo fragilizado solicitou ao Vaticano a nomeação de um coadjutor e o escolhido foi Dom Belchior Neto em 1960. Com quase 80 anos submeteu-se a uma cirurgia de próstata, com novos problemas de saúde. Perdeu aos poucos todos os sentidos, a começar pela vista, audição, a fala e a possibilidade de andar. Seus últimos anos de vida foram consumados no sofrimento e sempre dizia: “Deus me deu tudo, tudo pode tirar, que Deus seja louvado.” Em novembro de 1966, após uma crise forte, acreditava que seriam os seus últimos instantes. Recuperou suas forças se dirigiu a Dom Belchior com o pedido: “Eu quero que meu último suspiro seja um muito obrigado a Deus por tudo que Ele me deu… mas acrescentou… não! Guarde bem: Quando vir vários números sete seguidos pode estar certo, é nesse dia que eu vou!” De fato, aos 7/7/1967, Deus o chamou. Faleceu tranquilamente entregando o seu espírito ao Criador, em paz, no mesmo dia e horário em que completava 60 anos de sua primeira Missa Solene. Os sinos da Catedral em tom de tristeza anunciaram para toda a diocese o seu falecimento. Dom Manoel foi um grande apóstolo do bem, um herói da pátria, um grande sacerdote destes que o mundo precisa. Pregou ao seu Clero e ao seu rebanho com exemplo de sua vida e eloquência irresistível. A sua alma foi consumada em todas as virtudes. A sua inteligência foi consumada nas ciências eclesiásticas e o seu coração foi consumado na bondade. Ao seu funeral compareceram autoridades religiosas, políticas e o povo que ele tanto amou. Seu sepultamento, após percorrer as principais ruas da cidade, ocorreu na capela funerária ao lado do presbitério da Catedral. Dom Manoel viveu e morreu na pobreza como Servo de Deus e em seu testamento não deixou bens materiais. Seu legado foi exemplo de simplicidade, humildade, pobreza total na vida e o caminho da santidade. As palavras de Paulo Apóstolo: “Combati o bom combate. Terminei a corrida, Guardei a fé” se aplicam a Dom Manoel. Como bispo ele foi o Pastor de Luz que guiou o seu rebanho pelos campos da seara, realizou a sublime missão que o Senhor lhe confiou e em orações pedia: “Ó Senhor enviai operários para os campos da Messe de Luz.”.
(Fontes: O Pastor de Luz (Dom Belchior) e Flores do meu Caminho (Cônego César Alves de Carvalho)
Prof. Faustino de Oliveira Filho – faustinofilho@uai.com.br -
arrow_drop_downHino do Centenário
“SEJAMOS LUZ” – VENCEDOR DO CONCURSO
Sejamos Luz (2x)! Igreja a caminhar na estrada de Jesus!
1- O Espírito ao Pontífice Romano suscitou / No oeste de Minas Gerais a diocese Ele criou /
Pelo Evangelho um povo ser alcançado / Assumindo, Padre Parreiras o vilarejo do Aterrado.Sejamos Luz (2x)! Igreja a caminhar na estrada de Jesus!
2- Em tempos difíceis nossa Igreja foi nascendo / Por visitas e missões “Deus Conosco” se fazendo /
Paróquias, Catedral, São Rafael, povo consortes / Pois na fragilidade é que nos tornamos fortesSejamos Luz (2x)! Igreja a caminhar na estrada de Jesus!
3- Ares novos, tempos novos para toda a Igreja / Abertura, ministros leigos, uma graça benfazeja /
Cuidado de um Pai que sempre ouve o clamor / O que nos impulsiona é o Cristo, o seu amor!Sejamos Luz (2x)! Igreja a caminhar na estrada de Jesus!
4- Presente de um bom Deus, mais um novo pastor / Participação e comunhão, eis um fio condutor /
Uma Igreja mais humana e mais participativa / Evangelizar todos os povos, é o que nos motiva.Sejamos Luz (2x)! Igreja a caminhar na estrada de Jesus!
5- Viemos de tantos lugares celebrar a comunhão / De uma Igreja viva, de uma Igreja em missão /
Com fé e devoção, na graça e no amor / Doar a nossa vida, sirvamos sem temor!Sejamos Luz (2x)! Igreja a caminhar na estrada de Jesus!
6- Na alegria do Evangelho, de Jesus um novo olhar / Mais um Francisco vem sua Igreja renovar /
A misericórdia é um dos dons mais nobres / Ungidos para levar a boa notícia aos pobres.Sejamos Luz (2x)! Igreja a caminhar na estrada de Jesus!
Letra: Pe. Marcus Vinícius de Paula Silva
Música: Luiz Expedito Calazans -
arrow_drop_downMinistério Extraordinário da Sagrada Comunhão: a caminho do Jubileu de Ouro 1º de janeiro de 1968-2018
Iácones Batista Vargas Associado Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais Cadeira nº 96, Patrono: Sebastião de Affonseca e Silva
Domingo, dia 1º de janeiro de 2017, completaram-se 49 anos da investidura dos 10 primeiros Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão do mundo.
O fato, até então inédito na história da Igreja Católica Apostólica Romana, ocorreu em solene celebração na Catedral de Luz, no primeiro dia do ano de 1968, após especial faculdade concedida pelo Santo Padre, o Papa Paulo VI ao então Bispo Coadjutor de Luz e Administrador Apostólico “sede plena”, Dom Belchior Joaquim da Silva Neto-CM.
No Concílio Vaticano II
Findava o ano de 1965, mês de novembro, e aproximava-se a solenidade de 8 de dezembro, para encerramento do grande Concílio Ecumênico Vaticano II, que reunira em Roma mais de 2.000 prelados do mundo inteiro, convocados, no Natal de 1961, pelo Papa João XXIII, hoje Santo. A igreja vivia o “florescimento espontâneo de uma inesperada primavera”, o momento de abertura das janelas dos velhos templos para a sociedade, que passava por “graves crises”, nos dizeres do augusto pontífice. A ocasião chamava os fiéis leigos a assumirem maior protagonismo na vida eclesial.
Ainda em Roma, o saudoso Bispo de Luz, Dom Belchior, recebe uma longa carta do seu coirmão lazarista Padre José Nunes Coelho-CM (futuro pároco em Bambuí-MG, onde tomaria posse em 5 de março de 1966, conforme registro nº 10, f. 35v, do Livro de Provisões nº II, da Cúria Diocesana de Luz), relatando as dificuldades de exercer os trabalhos pastorais e atender às necessidades espirituais de seus paroquianos, sobretudo na distribuição da sagrada comunhão aos enfermos. Na carta, Padre Nunes indagava “Será que o Concílio não poderá permitir que Leigos ajudem a distribuir a Comunhão?”
O relato sensibilizou Dom Belchior, que, a princípio, se viu impedido de fazer qualquer intervenção na Sala Conciliar, porquanto já há 2 anos estava concluída a constituição “Sacrosanctum concilium”, sobre os Sacramentos e a Liturgia, solenemente aprovada a 4 de dezembro de 1963. Mas o zelo pastoral e, sobretudo, a coragem não deixaram abater o jovem bispo (com apenas 47 anos de idade).
Recusa na Cúria Romana
Para evitar polêmica, sem consultar nenhum outro colega brasileiro, dirigiu-se diretamente à Sagrada Congregação dos Sacramentos, na Cúria Romana, onde fora recebido pelos quatro Monsenhores que ali trabalhavam, um dos quais foi contundente: “para Hóstias consagradas somente mãos consagradas.” “Se o Papa permitir isso, daqui a pouco até mulheres estarão distribuindo a Comunhão!” Seria “expor o Santíssimo Sacramento à profanação!”
As insistências do jovem Bispo de Luz não foram suficientes para convencer os executivos eclesiásticos. Havia “batido em porta errada”, pensou Dom Belchior. “Decepcionado mas não desanimado”, pediu licença para se retirar e foi acompanhado pelo mais jovem daqueles Monsenhores, que generosamente lhe sugeriu apresentar o pleito diretamente ao Sumo Pontífice, que estava “aberto a tudo que se refere ao progresso da Igreja”. Orientou que escrevesse duas cartas: uma em latim para o Papa Paulo VI e outra em português para o Secretário do Santo Padre, o Arcebispo (depois cardeal) Dom Antonio Samoré, italiano que “se gloriava de ser ‘expert’ na Língua Portuguesa”.
Carta ao Santo Padre
Novamente encorajado, Dom Belchior voltou à Domus Mariae, em que se hospedava, escreveu as duas cartas recomendadas e as levou à Secretaria de Estado do Vaticano, onde foram entregues ao secretário particular do Arcebispo Samoré, que, por estar gripado, não pode recebê-lo pessoalmente.
O jovem Bispo voltou esperançoso, pois o secretário do Arcebispo dissera que Dom Samoré iria “delirar” em ler uma carta em português, além de certamente levar a correspondência oficial ao Santo Padre em razão do assunto pastoral tão importante nela tratado.Três Ministros Religiosos
Dom Belchior utilizou de muita sabedoria para conseguir êxito em seu pleito. Sabedor de que, no passado, o Papa Pio XII concedera a não clérigos, Superiores de Casas Religiosas, “em caráter muito especial, para atendimento a enfermos, o especial indulto de se poder levar a comunhão”, de início, fez o pedido especialmente em favor de três irmãos religiosos que trabalhavam na Diocese de Luz, conforme carta datada de 17 de novembro de 1965:
1. o Diretor do Colégio Antero Torres, em Bambuí-MG: Irmão Estevan Perna (coirmão do Irmão Lorenzo, nosso querido e saudoso Professor Guglielmo Necci), da Congregação dos Irmãos de São Gabriel;
2. o Diretor da Escola Profissional na Paróquia de Morada Nova de Minas-MG: Irmão José Eugênio-FDP, da Congregação da Divina Providência, de Dom Orione;
3. o Diretor da Obra da Boa-Imprensa na Diocese de Luz: Frei Pio, da Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, em Dores do Indaiá-MG.
A autorização veio logo, em 24 de maio de 1966, por meio de ato assinado pelo Prefeito da “Sacra Congregatio de Sacramentis” (Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos), Cardeal Benedetto Aloisi Masella, então camerlengo da Cúria Romana e que conhecia bem a realidade da Igreja no Brasil com sua escassez de sacerdotes, pois aqui fora Núncio Apostólico entre 1927 e 1946.
Para tanto, deveriam ser observadas as instruções contidas em carta de 7 de maio de 1966 (Protoc. nº 985/66), emitida pela Nunciatura Apostólica no Brasil, então comandada pelo italiano Dom Sebastiano Baggio.
A investidura desses três primeiros ministros religiosos (não leigos), com vigência para três anos, aconteceu nos dias 9 de julho de 1966, para Frei Pio-SDN (Dores do Indaiá); 20 de fevereiro de 1967, para Irmão José Eugênio (Morada Nova de Minas) e 9 de março de 1967, para Irmão Estevan Perna (Bambuí), conforme registros nº 5, nº 6 e nº 7, feitos por Mons. Omar Nunes Coelho, à f. 37 do Livro de Provisões nº II, da Cúria Diocesana de Luz.Dez Ministros Leigos
Meses depois da experiência com os três religiosos, Dom Belchior remeteu minucioso relatório à Santa Sé. Diante do êxito verificado, o Santo Padre ampliou a faculdade, desta fez a ser exercida por dez homens “de idoneidade comprovada, piedosos e exemplares”. Os fiéis leigos deveriam “ser de idade madura, de sexo masculino, distinguir-se pela vida cristã, fé e moralidade, além de ter uma instrução condizente com tão nobre ofício, e […] receber o mandato com alguma ritual solenidade”, além de usarem vestimenta especial que os distinguisse no exercício de tão importante ministério (alva eclesiástica ou a opa branca com o emblema eucarístico).
A comunicação oficial, datada de 20 de outubro de 1967, chegou às mãos de Dom Belchior no dia 6 de novembro de 1967, véspera de seu aniversário. No dia seguinte, por meio do Boletim do Clero nº 19, os padres da diocese foram convidados a apresentarem candidatos de “conhecida idoneidade moral” e “de piedade comprovada”, os quais se submeteriam, durante Retiro Espiritual nos dias 30 e 31 de dezembro de 1967, a curso preparatório com especial exortação para a importância da missão que viriam assumir pelo prazo de um ano.
Investidura em 1968
Assim, no dia 1º de janeiro de 1968, em solene celebração, durante a missa das 10h, na Catedral de Luz, Dom Belchior Joaquim da Silva Neto-CM conferiu o Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão aos primeiros fiéis leigos (não religiosos), que, juntamente com os outros ministros religiosos, são considerados os primeiros “Ministros da Eucaristia” do mundo:
1. Lusardo Carvalho: 33 anos, solteiro, chefe de armazém, legionário de Maria em São Gotardo-MG;
2. Hermínio Ribeiro das Neves: 59 anos, casado, pai de 12 filhos, avô de 13 netos, servidor público aposentado, secretário da conferência vicentina e irmão do Santíssimo Sacramento na Capela de Tapira-MG, próxima a Araxá-MG;
3. Antônio Cardoso de Oliveira (“Cardosinho”): 29 anos, solteiro, técnico agrícola e veterinário, vicentino e legionário de Maria em Cachoeirinha, capela de Córrego Danta-MG;
4. Frei Pio-SDN: 58 anos, irmão leigo religioso da Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, Diretor da Obra da Boa Imprensa e da Revista “Luzes”, de Dores do Indaiá-MG;
5. José Delfino dos Santos: 28 anos, solteiro, natural de Luz-MG, vicentino, legionário de Maria e professor em Iguatama-MG;
6. José Cota Sobrinho: 42 anos, casado, confrade vicentino e sacristão em Santo Antônio do Monte-MG;
7. Alzimar Queiroz Galvão: 18 anos, estudante, sacristão em Pimenta-MG;
8. João Raposo: 42 anos, casado, pai de 9 filhos, dentista protético e Diretor da Cáritas Diocesana em Luz-MG;
9. José Luiz da Silva: 25 anos, clérigo lazarista, estudante de Teologia, natural de Moema-MG;
10. Guglielmo Necci: 42 anos, italiano, casado, professor e Diretor do Ginásio Estadual em Luz-MG.
Esse fato histórico (e sua data: 1º de janeiro de 1968) está registrado sob o nº 4 da f. 39 do Livro de Provisões nº II, da Cúria Diocesana de Luz, bem como no Boletim do Clero nº 21, de 2 de janeiro de 1968.
Aspiração ao Diaconato
Além de receber a sagrada comunhão das próprias mãos, de auxiliar o padre na distribuição da eucaristia e de ministrá-la aos enfermos na ausência do padre ou do diácono, os Ministros Extraordinários também estavam autorizados a ministrarem o culto dominical, explicarem a Palavra de Deus, proporcionarem a benção e exposição do Santíssimo Sacramento para adorações, bem como foram investidos para administrarem o batismo e realizarem a Encomendação dos defuntos, com as orações do Ritual das Exéquias.
Nessa época eram considerados em condição próxima “ao Diaconato Leigo”, que Dom Belchior pretendia implantar da Diocese de Luz, consoante orientação conciliar.
A repercussão nacional da investidura inédita foi notícia no jornal “Estado de São Paulo”, edição de 19 de janeiro de 1968, que divulgou “As solenidades da ordenação diaconal dos 10 primeiros ministros da Eucaristia – a primeira no País”.
Novos Ministros
Remetido o devido relatório a Roma, a Santa Sé, tomando conhecimento do bem espiritual obtido, permitiu fazer experiência com mais vinte pessoas idôneas, do sexo masculino, pelo prazo de 3 anos, conforme ato de 26 de junho de 1968. Nessa data, houve expressa recomendação do Subsecretário da “Sacra Congregatio de Sacramentis”, Jos. Casoria, para que não se concedesse a pessoas do sexo feminino a faculdade de administrar a Santíssima Comunhão em igrejas ou oratórios públicos (capelas).
No dia 11 de julho de 1968, na Catedral, após o Retiro do Clero, Dom Belchior renovou a provisão dos dez primeiros e investiu outros cinco novos ministros: 1. Vicente Teixeira do Carmo (São Gotardo-MG), 2. Irmão José Eugênio-FDP (Morada Nova de Minas-MG), 3. Sebastião Antônio de Sousa (Tiros-MG), 4. Belchior Joaquim Zico (Zico Tobias, pai de Dom Belchior, Luz-MG) e 5. Pedro Marques Filho (Abaeté-MG, Cedro).
Em 27 de novembro de 1968, em Bambuí, foram investidos outros dois ministros: José Mendes Sobrinho, de Vila Costina, e Paulo Goulart da Fonseca, de Pains-MG. No ano de 1969, passaram a figurar como ministros: Hilarino Francisco das Neves e Atos Ribeiro Lemos, ambos da Capela de Tapira-MG (28 de junho); José Batista Pereira, de Japaraíba-MG (30 de agosto); Dr. Nicolau Teixeira Leite, de Bom Despacho-MG (12 de outubro); Irmã Maria José Péramo e Libério Eustáquio Ferreira, ambos de Bom Despacho-MG (16 de novembro). Em 31 de janeiro de 1971: José Soares da Silva, de Garças, Iguatama. Todos esses registros são os únicos que constam do Livro de Provisões nº II, da Cúria Diocesana de Luz.
Ministério Universal
A alegria de Dom Belchior se completou em 1970, quando, para seu “grande triunfo”, o Santo Padre permitiu aos Bispos de todas as Dioceses do mundo realizarem a investidura de Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão. Alguns anos depois, os próprios bispos diocesanos passaram a conceder esse ministério também a senhoras paroquianas, que atualmente são um dos “sacrossantos baluartes do Ministério da Eucaristia e da Comunhão frequente na Santa Igreja de Deus”, nas palavras do próprio Dom Belchior.
A primeira mulher leiga a se tornar Ministra Extraordinária da Sagrada Comunhão, na Diocese de Luz e no mundo, foi a Sr.ª Maria Alice de Souza, de Moema-MG, investida em 1972 (ou 1973), a qual tem sua vida registrada no livro “Maria Alice – Breve história de uma humilde serva de Deus”, escrito pela sobrinha Carla Conceição de Mesquita e Souza.
Preservação da Iniciativa
Por quase 30 anos Dom Belchior guardou consigo, discretamente, a autoria da iniciativa na instituição do Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão.
Após ligeiro registro na “Pastoral de Agradecimentos à Diocese de Luz”, escrita por ocasião de sua renúncia ao governo episcopal em razão da idade canônica de 75 anos, somente contou detalhes desse “gesto pioneiro de ousadia incrível” em 1997. Orientado “em consciência” pelo seu particular amigo, Dom João Resende Costa, que o sagrou bispo, escreveu o artigo “Como Nasceram os Ministros da Eucaristia”, publicado na página 5 da edição nº 420 do Jornal de Luz, que circulou a 31 de maio de 1997.
Posteriormente, Dom Belchior concedeu três entrevistas a respeito do tema, as duas primeiras, em agosto de 1999, ao jornal “O Vicentino”, de Batatais-SP, e ao Dr. Wagner Augusto Portugal, e a última à jornalista Vera Bernardes, em programa de televisão gravado em Belo Horizonte, pouco antes de seu falecimento em 24 de maio de 2000.
Entretanto, em todas essas ocasiões, por algum lapso, fez refere ao ano de 1967 (em vez de 1968, conforme registrado nos documentos oficiais arquivados na Cúria Diocesana de Luz, aos quais tivemos acesso durante essa semana).
Livro sobre os Ministros
Por ocasião das celebrações dos 60 anos de sacerdócio e áureo jubileu episcopal de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, em 22 de setembro de 1989, em Uberaba-MG, Dom Belchior havia entregado cópia dos documentos recebidos da Santa Sé a respeito da instituição do Ministério da Comunhão ao Professor Carlos Pedroso, que lhe revelara a intenção de escrever um livro sobre esse importante fato na história da Igreja. Entretanto, em sua humildade, pediu que somente escrevesse após a sua morte, pois era algo que tomara maior vulto do que ele poderia imaginar.
Fiel ao pedido do bispo, por muitos anos o Professor Carlos Pedroso guardou aqueles documentos, que finalmente compuseram o livro “Os 10 primeiros Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística”, publicado em 2013, 13 anos após a morte de Dom Belchior.
50 anos em 2018
Atualmente previsto nos cânones 230, § 3, 910, § 2, e 911 § 2, do Código de Direito Canônico, o Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão constitui importante trabalho exercido por milhares de fiéis leigos, que assumem destacadas funções na Igreja de Deus e na vida em comunidade.
Por meio deste artigo, prestamos carinhosa homenagem à memória do saudoso Dom Belchior Joaquim da Silva Neto e a todos os Ministros da Comunhão, de ontem e de hoje, que voluntariamente trabalham em nossas paróquias e diocese!
Desejamos possam celebrar dignamente os 50 anos do Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão em 1º de janeiro de 2018, dando especial fulgor às comemorações do Jubileu do Centenário da Diocese de Luz!
Deus abençoe todos os Ministros da Eucaristia
e os conserve sempre perseverantes! -
arrow_drop_downO Aterrado rumo à emancipação e as visitas pastorais
A inauguração da energia elétrica trouxe para os habitantes do Aterrado a esperança e certeza que dias melhores viriam. As palavras de Dom Manoel, pronunciadas na missa de natal, que iria lutar pela emancipação política do Aterrado ecoava em todos os cantos da diocese. O Aterrado atraia novos moradores vindos de Pitangui, Santo Antonio do Monte, Dores do Indaiá, São Gonçalo e de outras regiões. O grande lago formado para a geração de energia se tornou ponto turístico do arraial e local de encontro dos jovens, passou a ser conhecido como Usina. O clima de alegria e a confiança de que o desenvolvimento iria chegar contaminava os habitantes locais. Era a hora de ir à luta e procurar apoio político para que a emancipação viesse rapidamente. Em reunião com as lideranças políticas Dom Manoel dava impulso para que o Aterrado se tornasse município e se desmembrasse de Dores do Indaiá. Era uma luta difícil porque, embora fosse sede de bispado, a população local não atingia o mínimo necessário para sua emancipação.
A luta pela emancipação
Dom Manoel começou a luta pela criação do município de Luz logo após a chegada ao Arraial. Procurou o Governador do Estado Dr. Artur Bernardes que prometeu ao senhor bispo criar o município de Luz na primeira oportunidade e que seria servido por estrada de ferro, partindo de Lagoa da Prata até atingir a região de Uberaba. As dioceses de Uberaba e do Aterrado seriam beneficiadas com a linha férrea, linhas de comunicação por telégrafo e abertura de agências dos Correios nas várias cidades da região. Dom Manoel sugeriu que fosse feita uma ligação por via rodoviária ao invés de ferroviária, porque tinha experiências fracassadas como a ligação férrea entre Formiga e Itapecerica que nunca foi concluída. Artur Bernardes disse que instalaria uma ponte metálica para estrada de ferro que poderia ser utilizada tanto pelas locomotivas como por veículos ligando Lagoa e Luz. O tempo passou e Dr. Raul Soares foi empossado como governador mineiro. Tudo voltava à estaca zero com relação à criação do município. Dom Manoel, como bispo da diocese, não poderia assumir sozinho a luta pela emancipação do Aterrado por ter que fazer as visitas pastorais a outras paróquias. A falta de apoio e a resistência de Francisco Campos, deputado da região e do Governador do Estado Raul Soares tornava a missão de Capitão Du, Dr. Peri, Washington Gomes (Achinho) e Dr. Josaphat Macedo mais espinhosa. Numa das folgas de suas visitas pastorais Dom Manoel acompanhado pelas lideranças do Aterrado e ao lado do bispo da capital Dom Antônio dos Santos Cabral procurou Dr. Raul Soares para revindicar a criação do município. A alegação de que o Arraial do Aterrado era sede de bispado, embora não tivesse 20.000 habitantes conforme exigia a lei não comovera o então governador que respondeu: ”Quem mandou criar bispado num lugar desse!” Não se dando por vencido Dom Manoel e sua comitiva se dirigiram para o Rio de Janeiro. Encontraram com o Cardeal Joaquim Arcoverde da Diocese do Rio e foram até o Palácio do Catete, numa audiência com Artur Bernardes que havia assumido a Presidência da República. O Presidente Artur Bernardes tranquilizou a comitiva e que na primeira reunião do Congresso iria enviar o projeto de criação do município. O projeto foi aprovado sem discussão.
O telegrama de confirmação da Villa Luz do Aterrado
Por entre vibrantes manifestações de júbilo recebeu o Aterrado a notícia de sua elevação a município. É do theor o cartão que o illustre representante desta circunscripção eleitoral, Exmo Snr Dr Adelio Dias Maciel, Deputado ao Congresso Mineiro, dirigiu-se ao presidente do Directório Político local: “Ao prezado Amigo e Chefe Coronel Alexandre Dú, Adelio Dias Maciel cumprimenta affentuosamente e felicita pela creação do Município de Luz do Aterrado.” Bello Horizonte, 26/7/1923. Ao espoucar de fogos foram erguidos vivas e muito acclamado os nomes de S. Excia Revma o Snr D. Manoel Nunes Coelho, do Exmo Sr. Dr. Campos e dos ilustres próceres do governo da União, do Estado e do Município. (grafia original da época publicado no jornal Luz do Aterrado) Elevado à categoria de município com a denominação de Luz, pela Lei estadual nº 843, de 07- 09-1923, desmembrado do município de Dores do Indaiá. Constituído dos distritos: Esteios, desmembrado de Santo Antônio do Monte e Córrego Danta, desmembrado de Bambui. (obs: 26/7/1923 criação do município e publicado no Diário oficial em 7/9/1923). Criado o município Dom Manoel voltava à rotina de bispo e ia ao encontro de suas ovelhas.
O Pastor ao encontro das ovelhas- Visita a Dores do Indaiá
Dom Manoel procurou conhecer a diocese, os padres, as paróquias e capelas que compunham o território sob a sua administração nas visitas pastorais. Nos dois primeiros anos (1921-1923) conseguiu percorrer toda a diocese mostrando a importância do bem espiritual e material para cada um. Conclamava os fiéis a frequentar as missas e apoiar o trabalho dos padres. A escassez de sacerdotes levou Dom Manoel a estudar a possibilidade de se criar um seminário para a formação de padres que iriam trabalhar nas paróquias e capelas espalhadas pelas regiões mais longínquas da diocese. Em julho de 1924, Dom Manoel celebrou o 1° Sínodo Diocesano que discutiu vários assuntos entre os quais a divulgação e criação de irmandades e incentivar a leitura de revistas e jornais católicos. Após o sínodo Dom Manoel volta a percorrer a diocese em visitas pastorais. O colunista irá registrar a visita a Dores do Indaiá segundo relato publicado pelo Senhor Bispo em 1941. Dores do Indaiá, sede da paróquia, tinha aproximadamente 15.000 fiéis sendo 7.000 na cidade. Sua matriz consagrada a Nossa Senhora das Dores foi inaugurada em abril de 1921, antes da posse do bispo diocesano. Possuía quatro capelas na sede consagradas a São José e Imaculada Conceição, dirigidas pelas Irmãs Vicentinas diretoras do Pensionato da Escola Normal e da Santa Casa; Capela do Rosário e São Vicente. Havia ainda as capelas de São João Batista no Quartel São João; Divino Espírito Santo em Quartel Geral e Nossa Senhora do Carmo na Serra da Saudade. O seminário diocesano, sonhado por Dom Manoel, foi construído em Dores do Indaiá pelos padres Sacramentinos que funcionava também como Escola Apostólica. A paróquia de Dores do Indaiá foi criada em 1805, pertencendo à diocese de Olinda, Mariana e atualmente a diocese de Luz. Muitas irmandades fizeram e fazem parte das associações católicas: Apostolado da Oração, Filhas de Maria, Mães Cristãs, Vicentinos, Irmandade de Nossa Senhora das Dores, Congregação Mariana e de Nossa Senhora do Rosário. Festas religiosas são comemoradas na cidade entre as quais se destacam: São Sebastião, Nossa Senhora das Dores e Festa do Rosário. Alguns jornais católicos circularam e alguns ainda circulam: A Luz, o Lutador, Lar Católico, Ave Maria, o Diário e o Domingo. A contribuição para a OVS foi compensada pela construção do Seminário Sacramentino, que funcionou durante anos.
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arrow_drop_downO bispo acordou no Paraíso
Durante as visitas pastorais Dom Manoel se viu diante de grandes dificuldades e algumas inusitadas. Ao se despedir de Rio Paranaíba o senhor bispo se dirigiu para Arapuá, a mais nova paróquia da diocese. Padre Lombrana se encarregou de conduzir o bispo até a paróquia em seu fordinho, numa estrada em construção. Num relato de Dom Manoel o carro enguiçava, atolava e anoiteceu com carro atolado. Sem socorro, o Pastor se sentiu como uma ovelha perdida e pôs-se a rezar “Kyrie Eleison, Christe Eleison.” A solução foi dormir dentro do carro, enquanto os dois padres da comitiva dormiram debaixo de uma árvore.
Dom Manoel se lembrou do roceiro quando canta:” Eu nasci naquela serra/ Num ranchinho beira- chão/ Todo cheio de buraco/ Onde a lua faz clarão…” visto que as cortinhas do fordinho eram cheias de buracos. De manhã, como na voz do sertanejo “Quando chega a madrugada/ Lá no mato a passarada/ Principia o barulhão…” foi acordado pelo João de Barro. Dom Manoel e os padres foram tomar café com os vaqueiros que se preparavam para a lida do campo. Perguntou pelo nome do riacho e foi informado que se chamava “Paraíso”, ao que Dom Manoel respondeu: “Passei a noite e acordei no Paraíso.”
O dono da fazenda, ao amanhecer, se desculpou pela falta de socorro e ofereceu almoço para todos. Com uma junta de bois retirou o carro do atoleiro e o arrastou até o alto da serra. Dizem que Dom Manoel abençoou o Riacho Paraíso com a mão canhota e seguiu viagem para Arapuá.
Paróquia de Arapuá
Um enxame de abelhas deu origem ao nome de Arapuá ao pequeno povoado. Com o crescimento do povoado os fazendeiros Luiz Cassiano e Francisco Barbosa doaram terrenos para a construção de uma capela em honra de São João Batista do Arapuá. À chegada em Arapuá o Senhor Bispo foi recebido com festas pelos moradores. Como sempre, Dom Manoel abençoou os fiéis e no dia seguinte celebrou missas, atendeu confissões, fez crismas e casamentos.
Os esforços do Padre Guarino foram decisivos para que Dom Manoel criasse a paróquia de Arapuá e nela trabalharam os vigários: Padre Omar Nunes, João Nonato e Padre Josimas Cerqueira. A paróquia contava com três capelas: Nossa Senhora da Abadia (Pouso Alegre), Nossa Senhora do Carmo (Pimentas) e São José dos Quintinos. Segundo consta, a primeira missa foi celebrada no final do século XIX pelo padre Heriberto Antônio Foedertofes. Dom Manoel já havia visitado Arapuá em 1925,1927, 1937 e 1939. A visita pastoral rendeu muitos frutos com a formação do Apostolado da Oração, Congregação Mariana, Sociedade de São Vicente de Paulo.
O patrimônio de Arapuá constava de uma casa paroquial no valor de 2:000$Réis. As festas religiosas em honra de São João Batista, Nossas Senhora da Abadia, Nossa Senhora do Carmo, São José e São Sebastião atraiam pessoas de toda região e que rendiam contribuições para a OVS cuja caderneta possuía um valor de 18:000$Réis. Como em quase todas as paróquias da diocese os jornais que circulavam eram: A Luz, Lar Católico, O Diário e no povoado existia uma Igreja Evangélica, não existindo Centro Espírita. Na região de Arapuá Dom Manoel visitou: Pimentas, Água Limpa, Nossa Senhora do Carmo da Serra, Jardim.
Como em todas as visitas pastorais uma multidão esperava Dom Manoel. Missas, confissões, Casamentos, Crismas eram realizadas. Escreveu Dom Manoel: “quem viaja por esses sertões tem uma impressão de que está fora do Estado ou até mesmo do País. São pessoas humildes, religiosas e cheias de fé. faltam escolas para a população, embora o governo cobre impostos de todas as pessoas. É vergonhoso o que se passa nesta região.” Em sua caminhada Dom Manoel se dirigiu para as outras paróquias e capelas da região.
De São José dos Quintinos para Areado e Região
Antes de Areado o Senhor Bispo, acompanhado do professor Leôncio Ferreira, passou por São José dos Quintinos onde não havia ninguém a esperá-lo. Ao correr a noticia da presença do ilustre visitante houve a aglomeração do povo e não faltaram convites para um jantar, cafés e para outras visitas. Durante a missa foram crismadas mais de 30 crianças.
Dom Manoel aproveitou a visita para conhecer a plantação de fumo, farta na região, que era conhecido por “Fumo da Capoeirinha” sendo apreciado pelos mineiros. Diz a história que o senhor bispo, embora não fumasse, trouxe algumas cargas de fumo para presentear seus amigos de Luz, entre os quais Dr. Josaphat Macedo.
Ao amanhecer, Dom Manoel partiu rumo a Areado e teve que passar pelos rios São Bento e Areado onde ele e comitiva ser perderam pelo caminho. Um dos guias, que havia ido à frente, notou a demora e saiu à procura do bispo e dos padres. Encontrou-os perdidos. Arranjou um menino, que nunca havia ido à igreja e nem sabia o que era um bispo, para guiá-los até a próxima parada.
Para não atrasar mais ainda a viagem Dom Manoel montou na garupa do menino e seguiu viagem. Disse Dom Manoel: “faltou uma máquina fotográfica para perpetuar tão genial quadro.” No ponto de parada um excelente café esperava a comitiva e almoço para reanimar a todos. Conta que ao servir o almoço e vendo um prato diferente Dom Manoel perguntou: “Que prato é este? Língua de Porco, senhor bispo. Não como nada que sai da língua de animal,” disse Dom Manoel. “Não se preocupe, vou fritar alguns ovos para o senhor.” Respondeu a cozinheira. Após o almoço a comitiva seguiu para Areado onde uma multidão aguardava a chegada do ilustre prelado sendo saudado pelos senhores Estevam Nepomuceno e Arlindo Porto. À noite houve missa e adoração ao Santíssimo. Durante a visita, que durou três dias houve mais de 1.300 crismados, batizados, casamentos e contribuições de quase 1:000$Réis. Ao fim da visita Apostólica de Areado o destino era São Gonçalo. Acompanhado do senhor Henrique Barcellos, maior produtor de fumo da região, pernoitaram na fazenda de Francisco Venâncio, outro produtor de fumo. No dia seguinte, por entre produção de fumo, sob um sol quente e muito pó chegaram a São Gonçalo, onde mais de 100 cavaleiros e um carro de boi, todo enfeitado, levou o bispo até o povoado.
Dom Manoel foi ovacionado pela multidão com flores e muitas crianças presentes. Constantino Dutra, um comerciante do povoado de Moradinha, levou a banda de música para agradecer a visita do bispo. A banda executou: “Coração Santo, Queremos Deus e outras”. Dom Manoel emocionado deu a bênção apostólica, agradeceu a recepção e de cima do carro de boi rezou a oração da Ave Maria, visto que a noite já chegava. Durante a visita, que durou por cinco dias, mais de 6.000 pessoas estiveram presentes no povoado. Foram distribuídas mais de 2.000 comunhões, cerca de 1.500 crismas. O pó da viagem e o cheiro do fumo levaram Dom Manoel a pegar uma grande constipação obrigando o senhor bispo a diminuir o ritmo das visitas.
Depois das visitas à região, que duraram mais de três meses Dom Manoel voltou para Luz e para se recuperar da gripe, uma canja de galinha preparada por sua irmã Dona Bembem, o aguardava. Depois de alguns dias de descanso era hora de se pensar na implantação da comarca na sede do bispado. Outras visitas e a comarca de Luz são assuntos para outras crônicas.(Obs: As capelas e paróquias citadas pertencem hoje à Diocese de Patos).
Fontes: Arquivo Mitra Diocesana e Livro o Pastor de Luz
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arrow_drop_downO primeiro Bispo do Aterrado
Ao ser confirmada a criação da Diocese do Aterrado, Padre Parreiras arregaçou a batina e se empenhou na construção da residência para o Bispo a ser nomeado. Era questão de tempo para se conhecer o nome do futuro ocupante do Palácio da Assumpção. As apostas para o futuro bispo da diocese giravam em torno do nome de Padre Parreiras, porque graças ao seu empenho, apoio das autoridades e dos habitantes do arraial é que foi possível a concretização desse sonho. A diocese do Aterrado no sertão mineiro, como se dizia na época, longe da civilização, implicaria na escolha de um padre jovem, dinâmico que aceitasse o desafio de levar o Evangelho aos diferentes rincões da região. Dom Silvério e Dom Joaquim, bispos de Mariana e Diamantina, levaram em consideração a idade e saúde de Padre Parreiras que à época estava com aproximadamente 60 anos e indicaram Padre Manoel Nunes pelo seu dinamismo e juventude ao Vaticano para ser nomeado bispo do Aterrado. As palavras de Cristo a Pedro “Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam” pode ser aplicada a Padre Manoel que com apenas 36 anos de idade, aceitou a missão de “Edificar a Igreja sobre uma pedra, que é o próprio Cristo, na Diocese de Luz.”.
A posse de Dom Manoel
Após um ano de sua nomeação, finalmente chegou ao Arraial o primeiro bispo da Diocese do Aterrado acompanhado de Dom Silvério Gomes. Padre Parreiras junto às autoridades, padres, Conferência dos Vicentinos e o Apostolado da Oração estavam à sua espera no Morro do Jorge. Bandeirolas e arcos de boas vindas enfeitavam a estrada que ligava Esteios até a Catedral (atual santuário) com a presença da população e da Banda Lyra Vicentina Aterradense que dava os seus primeiros passos. Por suas oratórias, tanto cívica como religiosa, Josaphat Macedo, ainda estudante de medicina, foi escolhido para ser o orador oficial na recepção a Dom Manoel. Josaphat Macedo fez alusão ao lema do jovem Bispo “Fragilitati Nostrae Praesidium”, mostrando a confiança de Dom Manoel em pedir a Nossa Senhora para ser a “Proteção de Nossa Fraqueza”. Ao convidar Capitão Dú para fazer a entrega simbólica das chaves do Arraial a Dom Manoel, Josaphat repetiu as palavras de Josué (14,15) “Ego autem et domus mea serviemus Domino”, expressando o pensamento de todo o povo católico da Diocese: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” em obediência ao bispo, ora empossado. Padre Nicolau Del Luca, decano da diocese de Mariana, em nome dos Padres da nova Diocese assim se expressou: “muitos escandalizados e descrentes não acreditavam na capacidade de Padre Parreiras em transformar o Aterrado em Sede Episcopal”. Continuou ele: “Veni et vide” “Venham para ver com os próprios olhos”, o pequeno e humilde Aterrado sobrepujou-se às demais cidades vizinhas e tornou-se a Metrópole da Diocese. Agradecendo a recepção, Dom Manoel colocou-se à disposição para ajudar a Diocese do Aterrado a crescer em bens materiais e espirituais como em Filipenses (4,13) dizendo: “Omnia possum in eo qui me confortat”, isto é, “Tudo posso naquele que me fortalece” como a dizer “O Senhor me ajudará a conduzir este rebanho”. Com a celebração da Santa Missa por Dom Manoel, Dom Silvério, Padre Parreiras e outros padres presentes, as festividades de posse se encerraram e em procissão os fiéis conduziram o senhor bispo até o Palácio Episcopal. Começava a missão e os desafios para Dom Manoel que era auxiliado por sua irmã Consuelo Nunes Coelho, conhecida por Dona Bembém. Alguns anos depois os sobrinhos Omar Nunes, José Atanásio, Hortência e Conceição vieram morar no Palácio Episcopal.
Padre Parreiras volta para Mariana
Após a posse e passado alguns dias, muitos boatos rondaram o Palácio da Assumpção, como a transferência da sede, visto que o Arraial do Aterrado era tão desconhecido que o Diário Oficial do Estado de Minas publicara a nomeação de Dom Manoel para o Aterrado na Bahia. Desfeito o boato e consultando a Bula Papal consta a Diocese do Aterrado composta das seguintes localidades (grafia reproduzida com o original): Aterrado, Abaede, Arcos, Dores de Judaya, Piumehy, Pimenta, Perobas, S. Joao da Gloria, S. Roque, Bambuhy, S. Gothardo, Tiros, Morada Nova, Porto Real, Arcado, S. Nimo e S, Francisco (obs. Grafia em latim). Para nomear um Vigário Geral alguns padres foram convidados e não aceitaram a missão. Padre Parreiras, por sua humildade e santidade, aceitou o cargo de Vigário Geral em obediência ao senhor Bispo. Em visitas pastorais nas paróquias da diocese, Padre Parreiras escutava o comentário de que ele estava fazendo o papel de “Vigário Geral tapa buraco”, até que fosse nomeado outro para o seu lugar. Sentindo-se humilhado, em carta a Dom Silvério, Parreiras pediu o seu retorno para a Diocese de Mariana. Dom Manoel pagou “caro” pela brincadeira, pois segundo comentários no Aterrado Parreiras havia sido expulso da diocese. Soube-se mais tarde que Dom Silvério, em acordo com Dom Manoel, pediu a sua volta para Mariana onde iria prestar serviços em paróquias e Santas Casas, o que ocorreu por mais de vinte anos. Em sua última missa na catedral Padre Parreiras teve a seguinte premonição: “O Aterrado ainda há de acabar com as lobeiras e formigueiros e irá se transformar na Princesa do Oeste.” Pelos serviços prestados às dioceses de Mariana e do Aterrado, foi elevado a Monsenhor Joaquim das Neves Parreiras. Faleceu aos 80 anos em Ouro Preto, em 1941 e seus restos mortais retornaram a Luz em 1952, tendo sido sepultado na Igreja que ele havia construído, o Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Monsenhor Parreiras foi ”Sacerdos Magnus Qui in diebus sui Placuit Deo”, Sacerdote que em todos os dias de sua vida agradou a Deus.
Os primeiros desafios de Dom Manoel
Quando chegou ao Aterrado, Dom Manoel se viu diante de um grande desafio: transformar o Arraial num grande município. Uma corrida contra o tempo se fazia necessária. O Aterrado necessitava de um impulso que só os grandes homens e a boa vontade das lideranças podiam conseguir. A nomeação de um Vigário Geral e a criação de um Conselho Diocesano foram os primeiros passos para se dotar o arraial de uma estrutura ainda que pequena. Para Vigário Geral, nomeou Cônego Vicente de Mendonça que trabalhava em Abaeté e convocou as lideranças locais, presididas por Capitão Dú e Antônio Guimarães de Macedo, para formar o seu Conselho Diretor. Para a comunicação com os padres montou uma tipografia e fundou o jornal Luz do Aterrado para ser o “Órgão Cathólico da Diocese do Aterrado” em 1922, cujo diretor era Cônego Vicente de Mendonça e funcionava junto ao Palácio. A falta de energia elétrica era um problema a ser enfrentado. Acostumado aos grandes desafios Dom Manoel procurou Dr. Pedro Cardoso (Dr. Peri) e Antônio Guimarães de Macedo e propôs procurar um local para que fosse erigida uma barragem que pudesse fornecer energia para o arraial. A construção da barragem e a vinda de energia elétrica iriam contrariar os comerciantes de querosene, de azeite e os vendedores de lamparinas que diziam: “Este bispo vai arruinar os nossos negócios. Quem vai comprar querosene, azeite e lamparina?” Alguns versos foram criados descrevendo a importância do lampião: ”Senhores do Aterrado/ Eis um negócio da China/ Dou meu cavallo arreiado/ Por um lampeão da esquina”. (Publicado no jornal Luz do Aterrado em 1923) Em 24 de dezembro de 1922, solenidade do |Natal a energia elétrica foi acesa pela primeira vez no Aterrado. A Catedral (atual Santuário) foi todo iluminado como se fosse dia. No sermão, Dom Manoel usou as palavras do Profeta Isaias “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” para falar da importância da energia elétrica.
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arrow_drop_downOração
Bendito sejais, Senhor Deus de Amor, pela graça de sermos Povo de Deus, que há 100 anos vive a Igreja de Luz. Ofertamos a vida de todos aqueles que nos precederam nesta história! Dai-nos a graça de testemunhar, com alegria e coragem, a beleza do Evangelho da Misericórdia, que é vosso Filho Jesus!
Confirmai nosso bispo e padres, os religiosos e consagrados e as lideranças de nossas comunidades, na doação generosa pelo vosso Reino. Despertai novas vocações para o serviço do Povo de Deus! Sustentai-nos no discipulado missionário, “caminhando na estrada de Jesus”.
Fortalecei-nos, sob a proteção de Nossa Senhora da Luz e de São Rafael, para juntos carregarmos as dores e as angústias, as alegrias e esperanças de cada homem e mulher que encontrarmos em nossos caminhos!
Com vosso Espírito Santo, conduzi-nos no aprendizado permanente do diálogo, do serviço, do anúncio e do testemunho de comunhão, para discernirmos os vossos sinais no hoje de nossa vida.
Tornai eficazes nosso SIM orante e nossas ações amorosas, para que, neste tempo propício, sejamos uma Igreja pobre, peregrina e missionária, forte no cuidado com a natureza, no serviço à vida humana e na construção de uma sociedade melhor. Para que o mundo creia no vosso Reino. Amém!
Autor: Pe. Antônio Carlos da Silva
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arrow_drop_downProgramação
principais atividades – centenário da diocese de luz – 1918 – 2018
Data Proposta de Atividades 11/06/2017
Domingo
Confraternização das Comunidades – Campos Altos 24/06/2017
Sábado
Encontro com os comunicadores – Arcos
Igreja e Comunicação: O Desafio de comunicar esperança e confiança em nosso tempo. Pe. Geraldo Gabriel
30/06/2017
Sexta
Final da peregrinação de N. Sra. Aparecida 07/07/2017
Sexta-feira
Sessão Solene de abertura do Ano do centenário;
18h -Lançamento do selo comemorativo e breve chamada do vídeo;
19h- Santa Missa pelos cinqüenta anos de falecimento de Dom Manoel na Catedral com bênção das imagens de São Rafael e N. Sra. da Luz – início das peregrinação
08/07/2017
Sábado
Acolhida das imagens São Rafael e N. Sra. da Luz em Paineiras 16/09/2017
Sábado
Encontro com as lideranças Políticas – Legislativo e Executivo – Formiga
Igreja e Sociedade: A Doutrina Social da Igreja – Uma política a serviço da sociedade do Bem Viver. Dom José Carlos (Bispo de Divinópolis)
20/10 a 01/11/2017 Formação ecológica e visita ao São Francisco – Missão Laudato Si
Dom Mauro Morelli e Família Franciscana.
02/12/2017
Sábado
Encontro com os Poderes judiciário e Policiais civis e militares – Lagoa da Prata. Igreja e Justiça: A cidadania, segurança e paz. 28/01/2018
Domingo
Visita da Forania de Bambuí à Luz – Celebração com os vocacionados Arcebispo de Mariana 23/02/2018
Sexta-feira
Visita da Forania de Piumhi à Luz – Celebração com a vida religiosa – Arcebispo de Diamantina 03/03/2018
Sábado
Encontro Igreja com os professores e profissionais da educação. Igreja, educação e cultura – PUC Arcos 10/03/2018
Sábado
Visita da Forania de Abaeté à Luz – Celebração com os padres filhos da terra que estão fora da Diocese – Arcebispo de BH 28/04/2018
Sábado
Visita da Forania de Formiga à Luz – Celebração com dos conselhos paroquiais – Dom Eurico dos Santos Veloso (3º Bispo de Luz) – Missa as 9h 10/04/2018
Terça-feira
Sessão Solene Assembleia Legislativa – Belo Horizonte 27/05/2018
Domingo
Visita da Forania de Arcos à Luz – Celebração com as famílias – Dom Antônio Carlos Félix (4º Bispo Diocesano) – Missa às 24/06/2018
Domingo
Visita da Forania de Lagoa à Luz – Celebração com Associações, Movimentos e Serviços – Cardeal Presidente da CNBB 03/06/2018
Domingo
Confraternização das Comunidades – Luz 08/07/2018
Domingo
Jubileu – Núncio Apostólico
Santa Missa às 10h
26/08/2018
Domingo
Jubileu dos catequistas 29/09/2018
Sábado
Jubileu do Clero Diocesano em Paineiras 30/09/2018
Domingo
Jubileu das pastorais e religiosidade popular 21/10/2018
Domingo
Jubileu da juventude 11/11/2018
Domingo
Jubileu dos ministros extraordinários (Centenário do nascimento de Dom Belchior) 08/12/2018
Sábado
Ação de Graças pelo Jubileu e Convocação para a
4ª Assembleia Diocesana do Povo de Deus
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arrow_drop_downSaiba mais sobre o Centro de Memória Nossa Senhora da Assunção
O Palácio Episcopal da Assunção é um símbolo do governo diocesano. O nome do prédio é uma homenagem à Arquidiocese de Mariana, nossa Arquidiocese-Mãe, evocativo de sua padroeira.
A construção foi erguida em estilo greco-romano em 1921, pelo padre Joaquim das Neves Parreiras, para servir de residência dos Bispos e para abrigar a Cúria Diocesana de Aterrado. Aqui residiram ou trabalharam todos os cinco bispos de Luz e diversos padres.
Na década de 1980, Dom Belchior Joaquim da Silva Neto deu início à chamada “Galeria Diocesana”, onde reuniu e preservou peças e fotos que contam a história do Bispado.
Tais quais as antigas catacumbas romanas, onde se principiou a profissão da fé cristã, as galerias na parte inferior deste Palácio revelam uma mística especial. Naquele espaço, centenas de homens se reuniam para os retiros espirituais de Dom Manoel Nunes Coelho, foi o primeiro guardião do acervo que ora compõe o Centro de Memória.
Desde 2011, após a restauração do Palácio, o acervo foi recuperado e transferido para a parte superior do prédio, que, aos poucos, foi sendo transformado em museu, posto que restritas as visitações.
No domingo, 25 de fevereiro de 2018, então, foi inaugurado e aberto para ampla visitação pública do “Centro de Memória Nossa Senhora da Assunção”, da Diocese de Luz.
Assim, podemos parafrasear Dom Manoel Nunes Coelho: “Luzenses e diocesanos, olhai para o torreão deste Palácio Episcopal. Daqui deste alto, 100 anos vos contemplam!!!”
Fonte: Iácones Batista Vargas
Pesquisador Luzense.
Associado Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais -
arrow_drop_downSaiba mais sobre os livros da série especial: Centenário da Diocese de Luz
Na comemoração do Jubileu do Bispado, a “Série Centenário da Diocese de Luz” traz de volta a lume, em edição fac-similar, três importantes e raras obras sobre a história e a cultura religiosa de Luz e do Centro-Oeste Mineiro: a revista “O Município de Luz e as comemorações de Setembro de 1941” e os livros “O Bispado de Aterrado” (1941) e “Reminiscências da Peregrinação de Nª. Sª. de Fátima” (1954).
Fruto de parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, o Arquivo Público Mineiro (que gentilmente digitalizou o material), o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, a Diocese de Luz e o Município de Luz (patrocinador da impressão de 500 exemplares da nova publicação), trata-se de um presente cultural que resgata o valioso conteúdo desses trabalhos, há muito esgotados e que vinham se perdendo ao longo de décadas.
A edição fac-similar foi diagramada e impressa pela Grafiluz, da cidade de Luz.
Além de se preservar dados e informações históricas, deseja-se divulgar as publicações para estudantes, pesquisadores e quem mais se interesse pela história e a cultura do povo do Município de Luz, da Diocese Luceatina e do Centro-Oeste Mineiro.
Optou-se por realizar edição fac-similar, conforme costume atualmente utilizado na preservação e divulgação de obras de valor histórico e cultural com raros exemplares disponíveis em bibliotecas. Assim, realizou-se a reprodução fiel de todo o conteúdo das obras exatamente igual aos originais, inclusive no tamanho, acrescendo mensagens das instituições parceiras e breve comentário sobre cada livro.
IX – Primeiro Livro: “O Município de Luz e as comemorações de Setembro de 1941”
A primeira publicação da série chama-se “O Município de Luz e as comemorações de Setembro de 1941”. Documenta as celebrações de inauguração desta Catedral e da 5ª Conferência da Província Eclesiástica de Belo Horizonte, realizadas numa semana histórica quando a cidade de Luz se revestiu de gala em vasta programação sócio-cultural e religiosa.
O então Prefeito Municipal, Capitão Alexandre S. d’Oliveira Dú, idealizou e patrocinou, com recursos pessoais, a publicação dessa revista. Editada em “plaquette”, apresenta uma ideia da situação municipal naquela época, além de divulgar “o que tem sido a sua administração, nesta gleba abençoada por Deus”. É um atrativo convite para se visitar a capital religiosa do Centro-Oeste de Minas.
Impressa pela Tipografia Diocesana, sob responsabilidade do jornalista Arlindo Corrêa da Silva, contém “Noticias e discursos, com documentação fotográfica, das solenidades” e “dos banquetes realizados entre 17 e 21 de Setembro de 1941” na cidade de Luz.
Desta obra, que ora se devolve ao povo luzense com o selo da coleção “Tesouros do Arquivo”, são poucos os exemplares conhecidos. Dois deles são bem preservados pelo Arquivo Público Mineiro, a quem foram doados pelo historiador Edelweis Teixeira.
XII – Segundo Livro: “O Bispado de Aterrado: Dados Históricos e Estatísticos de todas as suas Paróquias, com ilustrações”
Com o mote de perpetuar a época de construção da nova Catedral de Luz e de salvaguardar a história de cada uma das paróquias da Diocese, Dom Manoel Nunes Coelho publicou, também em setembro de 1941, o opúsculo “O Bispado de Aterrado: Dados Históricos e Estatísticos de todas as suas Paróquias, com ilustrações”.
Para tanto, contou com a colaboração do clero, convocado a tal empreendimento pelo próprio bispo. Na Circular expedida em 20 de maio de 1939, o prelado solicitava aos padres responderem “questionário minucioso sobre dados históricos, geograficos e estatísticos de cada paróquia”.
Após alguma insistência com certos colaboradores, o resultado do trabalho foi reunido na monografia impressa pela Tipografia Diocesana. As páginas de “O Bispado de Aterrado” são ilustradas com clichês de todas as capelas e matrizes paroquiais, além de fotografias das principais edificações da Cidade de Luz. A obra é encerrada com o “Mapa da Diocese de N.ª S.ª da Luz do Aterrado”, contendo planta da sede episcopal.
São pouquíssimos os exemplares conhecidos desta obra. Um deles está bem preservado na Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Outro é arquivado na Cúria Diocesana de Luz.
XV – Terceiro Livro: “Reminiscências da Peregrinação de Nª. Sª. de Fátima pelas Paróquias do Bispado de Aterrado de 17 de Abril a 28 de Junho de 1954”
Durante o Ano Santo Mariano de 1954, “comemorativo do primeiro centenário […] do dogma da Imaculada Conceição”, Dom Manuel Nunes Coelho desejou “despertar em todas as almas e corações […] o espírito de afervoramento à devoção” de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que tem em Luz o segundo santuário do mundo a ela dedicado: o primeiro fora o de Portugal.
Durante 71 dias, a imagem peregrina percorreu todas as freguesias do Bispado de Luz, em carro especialmente decorado e “equipado com serviço de alto-falantes”. Os principais acontecimentos da viagem foram registrados por Dom Manoel no livreto “Reminiscências da Peregrinação de Nª. Sª. de Fátima pelas Paróquias do Bispado de Aterrado de 17 de Abril a 28 de Junho de 1954”.
O trabalho original foi impresso em Luz, pela Tipografia “Marí”, de Serafim Alves Moreira, “Fico”. O nome da gráfica é uma homenagem a Maria, Marina, Marivaldo e Marília, filhos do proprietário, que por dois anos editou o jornal “O Espectador”, em parceria com Djalma Alves de Azevedo, saudoso luzense que também integrou o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
Trata-se de obra raríssima, da qual resta apenas um único exemplar conhecido. Suas páginas são ilustradas com os mesmos clichês estampados no livro “O Bispado de Aterrado”, editado 13 anos antes.
Fonte: Iácones Batista VargasPesquisador Luzense.Associado Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais -
arrow_drop_downSão José do Canastrão, Tiros e o Seminário do Jacu
Após a emancipação política em 1923 e a posse dos primeiros vereadores em 1924, finalmente o Aterrado passou a ser conhecido como cidade de Luz. No entanto, para o Vaticano a sede do bispado ainda era Diocese do Aterrado. A batalha política de Dom Manoel era a elevação da cidade à comarca para atrair novos moradores e criar condições para um crescimento econômico e desenvolvimento social. Aos poucos as promessas de Dom Manoel iam sendo cumpridas. Ser bispo não significava apenas cuidar da sede episcopal, mas de toda diocese, cuja extensão territorial era do tamanho de alguns países da Europa. Cada visita durava de três a quatro meses e no retorno ao Aterrado Dom Manoel era recebido com festas, banda de música, saudação pelas crianças, pelo Apostolado da Oração e Vicentinos. A presença das autoridades municipais e eclesiásticas eram registradas, porém, voltar ao Aterrado não significava dias de descanso. Era o momento de reuniões, redigir os relatórios das visitas, editar as cartas apostólicas e imprimi-las no jornal da diocese. Ao seu lado, sempre presente, estava Monsenhor Vicente, Vigário Geral da Diocese. Encontro com os bispos de Belo Horizonte, Diamantina, Uberaba, Campanha e Guaxupé eram feitas anualmente. As visitas pastorais eram feitas por região e a locomoção era feitas pelas conduções disponíveis na época, algumas vezes em automóveis, locomotivas e muitas a cavalo. As dificuldades encontradas por Dom Manoel nunca foram empecilhos em suas visitas. Seguia o exemplo de Padre Parreiras, de Dom Silvério e otimista seguia em frente rezando: “Com Nossa Senhora da Luz e guiado por São Rafael iremos vencer todas as dificuldades.” Voltemos às décadas de 1920/1930 e as visitas pastorais de Dom Manoel passando pelo Campinho, Melo Viana, Serra da Saudade, Vila Funchal e Tiros.
São José do Canastrão
A Serra do Canastrão é ramificação da Serra da Canastra também conhecida por Serra da Marcela, da Saudade, do Indaiá. A primeira visita ao Canastrão, capela da Paróquia de Morada Nova, se deu no mês de junho de 1925. Para atravessar o Rio Abaeté existia uma canoa dirigida pelo hospitaleiro Matusalém Cardoso, o “Matus” como era chamado. Diz a história que ao ser apresentado a Dom Manoel, “Matus” ficou tão emocionado que quase deixou a canoa afundar, pois, nunca tinha visto um bispo. Os senhores João Pio, Francisco de Almeida, Higino de Melo e a senhorita Geralda Pereira recepcionaram Dom Manoel e o conduziram à casa onde ficaria hospedado. Recepcionado pela população local com faixas de boas vindas: “Viva Dom Manoel, Dd Bispo do Aterrado” e outra com os dizeres “Ecee Sacerdos Magnus”. No segundo dia da visita foi realizada a procissão de Corpus Christi abrilhantada pela banda de música local. Durante a visita foram realizadas crismas, confissões, comunhões, batizados, casamentos e outras atividades. A Capela do Canastrão foi construída por iniciativa de José Alves, Reginaldo Lopes e João Bernardes e foi benta pelo Padre Antônio Baptista, que ali veio a falecer. Os padres José Francisco e Miguel Calábria prestaram, durante anos, assistência espiritual aos moradores do Canastrão. Com a contribuição para a OVS em cerca de Doze Mil Réis, doado pelo senhor José Justino, foi possível a criação da Paróquia de São José do Canastrão cuja contribuição ajudou na ordenação de um padre no Seminário de Diamantina. Em sua homilia no encerramento da visita disse Dom Manoel: “Se houvesse em todas as paróquias, como em Canastrão, um grupo de homens abnegados e generosos como o Sr. José Justino, estariam aplainadas todas as dificuldades e o Seminário Diocesano estaria há muitos anos em franca prosperidade.” Distante cerca de 30 km ficava a capela de São José da Rapadura, pertencente ao Canastrão. Ao final da visita, depois de quatro dias, Dom Manoel se despediu com a bênção apostólica pedindo a Nossa Senhora da Luz e a São Rafael proteção aos moradores do Canastrão proferindo: “Benedicat vos omnipotens Deus, Pater et Filius et Spiritus Sanctus”, e se dirigiu à Paróquia de Santo Antônio dos Tiros acompanhado dos senhores Barbosa de Abaeté e Victor Genésio onde se hospedou às margens do Rio Borrachudo.
Seminário de Jacu
Talvez, inspirado pelo Colégio do Caraça, Padre Joaquim de Souza adquiriu um pedaço de terra da Fazenda Jacu,na região de Tiros, e fundou naquele lugar um Seminário que ficou conhecido como Seminário do Jacu. Como pertencia à Diocese de Olinda em Pernambuco e para auxiliar Pe. Joaquim na formação dos candidatos, o bispado de Pernambuco enviou Frei Henrique, especialista em teologia, para lecionar no seminário. Os frutos foram colhidos e em 1858 foram ordenados padres pelas mãos de Dom João da Purificação Marques Perdigão (1831-1864), bispo de Olinda os seminaristas formados em Jacu: Luiz Ferreira da Silva Luz, Miguel José de Morais, Manoel de Morais, Elias e Camilo (sem sobrenome). As ordenações sacerdotais se deram durante a visita pastoral de Dom João da Purificação na Igreja de Tiros. Alguns anos depois assumiram o curato de Tiros os padres: Luiz Ferreira da Silva e Miguel José de Morais que estudaram no Seminário do Jacu.
Paróquia de Santo Antônio dos Tiros
A história registra que o nome Tiros surgiu de um incidente entre garimpeiros vindos para o Rio Abaeté ou para ele se dirigindo e soldados do Quartel D’Assunção, junto a um córrego localizado nas proximidades da atual sede do município. Houve uma grande batalha entre os mineradores e os militares com forte tiroteio, ficando o córrego conhecido como “Ribeirão dos Tiros”, expressão que se estendeu a toda a região. Antes de se tornar um município independente chegou a se chamar Santo Antônio dos Tiros, em homenagem ao seu padroeiro. Se tornou curato no século XVIII e em 1832 se desmembrou de Dores do Indaiá. Foram vigários em Tiros os padres: Manoel Antônio da Silva, José Francisco Lopes, Joaquim de Souza, Olegário Ribeiro Caldas, Luiz Alberto, José Miguel de Morais, Rafael Palmério, Vigilato Pinto Fiúza Miguel Kerdole Dias Maciel. Este devido ao seu dinamismo recebeu elogios de Dom Silvério, Bispo de Mariana, e mais tarde se tornou Deputado Estadual. Padre Salvador Zorgno se destacou na paróquia por sua caridade, pois acolhia em sua casa doentes, pobres como um verdadeiro hospital. São as seguintes capelas na Freguesia de Tiros: Capão Preto, Espinha do Peixe, São Sebastião da Lagoa, Água Limpa, Santa Cruz.
A visita Pastoral de Dom Manoel
Após a visita pastoral ao Canastrão Dom Manoel se dirigiu a Tiros e durante o trajeto ele recebeu o carinho do povo que o esperava nas estradas que passavam pelas fazendas. Tomava café numa casa, almoçava em outra até atingir o Curato de Tiros. A emoção era visível nos rosto da população que não era acostumada com a visita de um bispo. A todos que esperavam nas estradas Dom Manoel parava os abençoava e deixava uma imagem de Nossa Senhora da Luz, em outras ocasiões de São Rafael e pedia a todos que rezassem pelas vocações sacerdotais. Uma comissão especial distante mais de seis quilômetros aguardava o senhor bispo para acompanhá-lo até a vila. À frente da comissão estavam o Padre José Coelho e o jovem professor Leôncio Ferreira, um dos defensores da mudança da vila para um lugar mais seguro. Dom Manoel dirigiu-se à matriz onde foi saudado pelos alunos das escolas e pela Banda de Música que executou o hino: “Tu es Sacerdos in aetenum”. Dom Manoel constatou a bondade e religiosidade do povo Tirense que contribuiu com grandes quantias para as vocações religiosas. Recebeu as diversas associações religiosas: Sociedade São Vicente, Pia União das Filhas de Maria, Mães Cristãs, Apostolado da Oração, Irmandade Nossa Senhora das Vitórias e outras. Verificou que não existe Templo Protestante, Centro Espírita e nem Loja Maçônica. Os jornais que circulam pela cidade são: Correio da Manhã. Folha de Minas, O Lutador, Lar Católico e outros. Ao final da visita, depois de uma semana, na missa de despedida Dom Manoel agradeceu a participação nas festividades religiosas com mais de 2000 comunhões, 1.100 crismas, vários casamentos e batizados. Ao abençoar o povo Tirense rezou: “Ó Nossa Senhora da Luz, derramai a vossa bênção sobre o povo de Tiros e que São Rafael seja o guia deste povo em suas necessidades.” Despediu-se do povo tirense e seguiu o caminho a outras cidades como o Pastor em busca do seu rebanho. Anos depois Tiros se tornaria terra de dois bispos: Dom José Lima (Sete Lagoas) e Dom José Martins ( Porto Velho). Obs: Tiros hoje pertence à Diocese de Patos.
(Fonte: arquivo da Mitra e fotos da internet).
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arrow_drop_downTV Canção Nova produz séries sobre a História da Diocese de Luz – Jubileu 1918 – 2018
A Tv Canção Nova, da Comunidade Católica Canção Nova, de Cachoeira Paulista/SP, promoveu uma série de reportagem sobre o Centenário da Diocese de Luz.
Na expectativa desse ano jubilar a reportagem conta um pouco da história que fez do Arraial do Aterrado, a Diocese de Nossa Senhora da Luz.
Primeiro vídeo – Diocese de Luz vive expectativas
Desde novembro, a Igreja católica está vivenciando o ano do laicato. Por isso vamos falar do importante papel do ministro extraordinário da sagrada comunhão. Trata-se de um leigo a quem é dada permissão de distribuir a comunhão aos fiéis, na ausência de um ministro ordenado.
Reportagem de Mauriceia Silva e Reinaldo Esteves
Segundo vídeo – Conheça quando começou a missão do ministro da sagrada comunhão-CN Notícias
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arrow_drop_downUma Diocese no Arraial
Por causa do regime de padroado e, consequentemente a união entre a Igreja e o Estado, poucas dioceses foram erigidas no Brasil. No período colonial foram criadas somente três novas dioceses: Porto Alegre (1848), Fortaleza e Diamantina (1854). Com a proclamação da República o padroado foi extinto e a liberdade religiosa no Brasil foi garantida. Com a separação entre o Estado e a Igreja Católica foram criadas as dioceses de Pouso Alegre (1900). Uberaba (1900), Campanha (1907), Montes Claros (1910), Araçuaí (1913) e Caratinga (1915) todas elas em Minas Gerais. Dom Silvério, bispo de Mariana, no principio do século XX procurava uma paróquia no Oeste Mineiro para ser elevada à diocese. Em suas visitas pastorais sempre consultava os padres sobre essa possibilidade. Assim aconteceu com os vigários de Santo Antônio do Monte, Formiga, Dores do Indaiá, Pitangui, Piunhy, Bambui e outras. Das paróquias consultadas a maioria dos padres não quis assumir o compromisso e a responsabilidade de uma diocese. Cansado e doente Dom Silvério chegou a desanimar com a criação de uma diocese no oeste mineiro. Após dez anos de sua primeira visita pastoral ao Aterrado, Dom Silvério estava de volta e no decorrer dos dias conversava com seu grande amigo Padre Parreiras. Durante os mais de dez dias que passou na Paróquia Nossa Senhora da Luz, Dom Silvério em conversa com Padre Parreiras e as autoridades do arraial expôs o desejo e a necessidade de se criar uma diocese, desmembrada de Mariana, que fosse mais próxima de Uberaba. Falou sobre a recusa e as dificuldades que os padres consultados colocaram para assumir tamanha responsabilidade. Padre Parreiras, apoiado pelas autoridades do Aterrado, levou o seguinte recado para Dom Silvério: “se um arraial puder se tornar sede de bispado o desafio está aceito.” O Aterrado parecia seguir as palavras do Profeta: “Mas tu Aterrado, de modo algum és a menor entre as principais cidades do Oeste, pois de ti sairá um guia, que como pastor, conduzirá o meu povo.” Dom Silvério voltou para Mariana com a certeza de ter encontrado o lugar e o padre para consolidar a nova diocese mineira. Em contato com o Papa Bento XV em 1915 solicitou a criação da diocese num Arraial. Começava a história do futuro religioso do Aterrado.
Padre Parreiras – O Pastor que conduziu o seu povo
A presença de padre na Paróquia Nossa Senhora da Luz acontecia de sessenta em sessenta dias, quando vinha de Bambui e algumas vezes de Córrego Dantas. Com a população recebendo pouca orientação espiritual os fiéis se afastaram dos atos religiosos. A chegada de Padre Parreiras, em 1904, trouxe novas esperanças aos paroquianos. O jornalista luzense Djalma Azevedo (Djalma do Vié) descreveu Padre Parreiras como: “homem austero, dedicado, fervoroso que conclamava o povo a freqüentar as missas dominicais”. Com muito trabalho e o passar dos dias Parreiras conseguiu cativar a população que, atendendo ao seu chamado, voltou a freqüentar a Igreja, principalmente nos finais de semana. O Apostolado da Oração, presidido por Matilde Pereira de Oliveira (Dona Sinhá) e os vicentinos presidido por Antônio Gomes de Macedo foram peças importantes para que Parreiras conquistasse a afeição dos paroquianos. Segundo o relato de Elias Silvério Pereira, carreiro de Parreiras, ele era um homem simples, humilde, sem vaidades, trabalhador e muito enérgico. Seguia Cristo em suas palavras: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Confiante em tornar o Arraial numa sede de bispado, Padre Parreiras após as missas dominicais levantava a batina, punha um chapéu de palha na cabeça, pegava o carro de boi e se punha a construir a nova igreja no lugar da antiga capela. Todo o material usado na construção vinha da estação ferroviária de Franklin Sampaio, perto de Iguatama. Dizia Padre Parreiras: “Com Deus e Nossa Senhora da Luz a nova igreja ficará pronta”. O Vigário Parreiras, Ewerton Pereira, Capitão Dú, Firmino D’Assunção e Washington Macedo (Achinho) eram os encarregados de auxiliar na construção da Igreja, sonho da população do Aterrado. Com doações dos fazendeiros e dos fiéis em poucos meses as naves da Igreja estavam prontas e com pequenas adaptações se tornaria a futura Catedral diocesana. O trabalho de Parreiras levou Djalma do Vié, em seu jornal “O Espectador” datado de 1952, outorgar ao Padre Parreiras o título de “O Ídolo da Cidade”. A ousadia, a “loucura” e o sonho de Parreiras se tornava realidade.
Trago-vos uma Boa Nova – O Arraial se torna Diocese
“Senhor, se for de vossa vontade e necessário para levar a Boa Nova aos povos da região, que o Aterrado se transforme em sede de bispado” pedia todos os dias Padre Parreiras enquanto rezava no breviário as orações matinais ao redor da nova Igreja. O tempo ia passando e Padre Parreiras continuava à espera de uma carta pastoral de Dom Silvério comunicando a criação da diocese do Aterrado. Notícias do Vaticano para a Diocese de Mariana demorava alguns meses. De Mariana para o Aterrado outros meses se passavam. Parreiras nunca perdeu a esperança. Um dia chegou uma carta, em meados de março de 1919 e nas linhas era comunicado a criação da Diocese do aterrado através da Bula Papal “Romanis Pontificibus” do dia 8 de julho de 1918 e decreto de 6 de janeiro de 1919. Padre Parreiras, provavelmente em 25 derço, dia da Anunciação de Nossa Senhora, fez repicar o sino da Igreja e durante a missa fez o seguinte comunicado em latim, língua oficial da Igreja, “Annuntio vobis magnum gaudium: Diocesis Aterradensis creavit fuit” que significa: “transmito a vocês uma grande notícia o Arraial do Aterrado, através da Bula Papal de Bento XV, foi elevado à sede de bispado”. Era hora de se dotar o arraial com uma casa para servir de moradia para o futuro bispo. Padre Parreiras, com a mesma comissão que construiu a nova igreja, arregaçou a batina e mãos à obra. Foram criadas cadernetas de doações que variavam de $1.000 a $ 100.000 Réis mensais. Aliado à boa vontade do povo, sempre à frente do seu carro de boi, Parreiras com seu dinamismo trabalhou de forma incansável, passou fome no meio do mato ao extrair madeiras, pedras e com sua fé sempre dizia: “Vamos com Deus e Nossa Senhora da Luz.”. Os bois cansados com a carga no carro levantavam, os carreiros iam à frente e a madeira chegava ao seu destino. Assim com muito trabalho o Palácio da Assumpção foi construído em tempo recorde, menos de três anos. Estilo Greco-romano, florões artisticamente coloridos, num barroco suntuoso e atraente, num torreão ao alto donde se podia ver não apenas os abacaxis do pomar da frente, os pés de cocos que embelezavam o caminho que ligava a Catedral, ao Grupo Escolar e à Casa Paroquial. Do Palácio avistava-se todo o Arraial do Aterrado e lá começava a rua que devido à sua extensão ficou conhecida como uma Rua Grande. Em 10 de junho de 1920 foi anunciado o primeiro bispo da Diocese do Aterrado, o Vigário de Coroaci, Padre Manoel Nunes Coelho, ou simplesmente Padre Nelo. Em 10 de abril de 1921, com a chegada e posse de Dom Manoel, o Arraial se tornou oficialmente Diocese do Aterrado. A diocese era constituída por mais de oitenta paróquias entre povoados, distritos e cidades, com uma população estimada em mais de 300.000 almas, desde as imediações de Passos até a longínqua Patos de Minas. Pelo seu trabalho apostólico Padre Parreiras além de se tornar “Idolo da Cidade de Luz,” tornou-se “Benemérito da Diocese”. Esgotado em suas forças físicas e com vigor espiritual Padre Parreiras despediu-se do Aterrado e de seus paroquianos voltando para Mariana onde, por quase vinte anos, anunciou a Boa Nova aos fiéis.
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arrow_drop_downVisitas Pastorais de Dom Manoel de Tiros para São Gotardo
São Gotardo teve inicio com a chegada dos primeiros habitantes da região da Mata da Corda e adjacências, compreendendo também a faixa territorial em que se acha localizado atual município. A fundação do primitivo arraial deriva, certamente, das expedições que penetravam o sertão, não só visando à fiscalização da cata do ouro e comércio de pedras preciosas, como também povoando os lugares por onde passavam, construindo fazendas, erigindo capelas. O nome do município se deve ao seu fundador Joaquim Gotardo de Lima, que chegou à região por volta de 1830 e fixou residência no Arraial das Carrancas. Levou uma vida meio selvagem e morava numa casa coberta de folhas de uricanga, vestia-se e toda a família de grosseiras roupas tecidas em teares antigos. Com o correr dos anos ao redor das terras de Gotardo vieram outras famílias em busca de riqueza e sobrevivência. Como a maioria era católica e como não existiam tantos padres foram até Tiros e convidaram o Padre José Francisco para celebrar uma missa no paiol do Gotardo. Por infelicidade, ao voltar para Tiros, o Padre José Francisco veio a falecer repentinamente, sendo sepultado em Francisco das Chagas.
O povoado do Gotardo ficou sem assistência de padre por mais de oito anos. As famílias de Lopes e Rodrigues chegaram ao povoado e trouxeram os padres Antônio Estêvam e João Paulino que, durante anos, prestaram assistência espiritual aos moradores do povoado. O paiol do Gotardo se tornou uma capela onde as missas, batizados, casamento eram celebrados. Quando Padre João Paulino faleceu, foi substituído pelo Padre Cidrão, que ficou pouco tempo na freguesia e partiu para outra região. Desmembrando-se da Diocese do Pernambuco e sendo anexada à Diocese de Mariana foi então designado padre João Gonçalves de Freitas.
Em 1852 o povoado, devido ao seu crescimento, foi elevado a distrito com o nome de São Sebastião de Pouso Alegre, perdendo o nome de Arraial da Confusão. Dom Viçoso, Bispo de Mariana, em visita pastoral celebrou missas, crismas , confissões no Paiól do Gotardo. Hospedou na casa do Joaquim Gotardo e permaneceu por três dias no povoado. Com os esforços do Padre Miguel Querdóle e influência do bispado de Mariana o nome do distrito passou a ser São Gothardo, em memória de fundador o fazendeiro Gotardo. Segundo o Anuário de Minas em 1908, São Gotardo ganhou uma escola denominada Instituto Minerva, fundada pelo Professor Mario Chaves.
O Instituto foi importante no desenvolvimento de São Gotardo porque agregou muitos alunos de toda a região. São Gotardo foi elevada à cidade em 1915, nas proximidades da Mata da Corda, e seu território faz divisa com Luz, Rio Paranabía, Ibiá, Dores, Tiros.
Em 1921 com a criação da Diocese do Aterrado a Paróquia de São Gotardo foi desmembrada da diocese de Mariana e passou a pertencer à nova diocese.
A visita de Dom Manoel à Paróquia de São Gotardo
Depois de visitar Tiros, Dom Manoel fez o caminho de volta e foi para São Gothardo (grafia original) onde permaneceu por mais de uma semana. Dizia Dom Manoel: “è insuportável o pó por causa do terreno e da quantidade de carro de bois que passam por aqui. Vencer as sete léguas que separam Tiros de São Gotardo e a cavalo só com a ajuda de São Rafael e Nossa Senhora da Luz.” O médico Dr. Cunha Lima colocou o seu carro à disposição do senhor bispo para levá-lo até São Gotardo, amenizando um pouco o seu sofrimento. Assim Dom Manoel ia visitando as paróquias da Diocese. Depois de uma cansativa viagem Dom Manoel foi recebido com festas pela população que havia enfeitada as estradas e as pequenas ruas da cidade.
A banda de música local entoava o hino de São Rafael e o “Ecce Sacerdos Magnus”. Seguiu pela Rua 11 de junho até a casa paroquial onde os fiéis esperavam o senhor bispo para receber a bênção do pastor. Era o Pastor, com todas as dificuldades do caminho, em busca do seu rebanho. Dom Manoel rezou o Pai Nosso e a Ave Maria e a oração de São Rafael pedindo proteção para todos. À noite dirigiu-se à Igreja Matriz onde celebrou a missa com a bênção do Santíssimo acompanhado do coral e da banda de música ao cântico do “Te Deum laudamus”. Durante a visita foram crismadas quase duas mil pessoas, atendidas várias confissões e realizado alguns casamentos. Na homilia durante a missa na Igreja Matriz Dom Manoel dizia aos fiéis: “Uma cidade tão rica como a de São Gotardo precisa de fazer doações melhores para as Obras da Vocações Sacerdotais para aumentar os padres na diocese.” Dom Manoel visitou as capelas de Santa Cruz, Pimentas, da Preta, de Perobas e Santa Rita do Cruzeiro.
Na ocasião da visita a paróquia tinha aproximadamente 18.000 habitantes e Padre José Batista era o vigário e ali trabalhou por mais de cincos anos. Estiveram à frente da Paróquia de 1925 a 1940 os padres: Sinfrônio Batista, Padre Jacinto, Pelegrino Guarino e Padre José Batista. Nesta época eram cinco os cemitérios existentes na paróquia.
As Missões religiosas e Associações Religiosas
Padres Redentoristas fizeram missões na Paróquia e capelas pertencentes a São Gotardo nos anos de 1932 e posteriormente em 1940 comandadas pelos Padres Avelino e Teodósio. As missões foram de grande proveito espiritual para a paróquia. Existiam na ocasião da visita, na década de 1930, as seguintes Associações Religiosas na Paróquia: A Congregação dos Vicentinos fundada em 1923 pelo senhor Major Gontijo presta uma assistência espiritual e material aos pobres da região. A dos Congregados Marianos, Filhas de Maria, Damas do Sagrado Coração de Jesus e Associação de Santa Terezinha que ajudavam na parte espiritual da Igreja, sendo orientadas pelo vigário Padre Omar Nunes.
O Patrimônio da Paróquia e das Vocações Sacerdotais
O patrimônio da paróquia é composto de uma casa paroquial no valor de dez contos de réis; patrimônio na Fazenda Valadares no valor de quatrocentos mil réis; a capela de Perobas tem cinco alqueires que valem três contos de réis; o de Pimentas e o de Preta valem em torno de cento e cinquenta mil réis. As cadernetas das vocações sacerdotais contam com os seguintes valores: Cidade dez mil réis; Pimenta três mil réis e Perobas dois mil e setecentos réís. Segundo ainda relato de Dom Manoel não existe templo protestante na cidade e nem jornais anti-católicos. Circulam na região os jornais: O Diário, O Lutador, Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus e a Luz do Aterrado. As festas religiosas são as de: São Sebastião, Mês de Maria, do Rosário, São Vicente e São Rafael, Nossa Senhora da Abadia, de São José.
Ao final das visitas que aconteciam de quatro em quatro anos, Dom Manoel se despediu dos fiéis com uma missa festiva e os abençoou com a oração: “Sob a proteção de Nossa Senhora da Luz, guiado por São Rafael e protegido por São Gotardo desça sobre vós a Bênção do Pai do Filho e do Espírito Santo”.
A banda de música entoou o hino a São Rafael enquanto Dom Manoel dava o adeus de despedida e seguia viagem para outras paróquias.
Fontes: arquivos da Mitra e Prefeitura de São Gotardo. Atualmente São Gotardo faz parte da Diocese de Patos.