Casa em Luz

Propedêutico

A história do Seminário de Luz

 

Por iniciativa de D. Silvério Gomes Pimenta, então arcebispo de Mariana, e do Pe. Joaquim das Neves Parreiras, a Diocese do Aterrado foi criada aos 8/7/1918 (mudada para Diocese de Luz aos 5/12/1960). Dom Manoel, o primeiro Bispo Diocesano de Luz, é sagrado Bispo na capela do Seminário de Diamantina aos 14/11/1920 e chega ao Arraial de Luz do Aterrado aos 10/04/1921 para início do pastoreio, aqui permanecendo até 7/7/1967, quando morre santamente no Palácio Episcopal.

Em sua primeira visita pastoral (1921/1922) Dom Manoel instituiu, nas Paróquias onde não havia, a “Liga pelas Vocações”, composta por zeladores e sócios, instituição que já existia na região, pois Dom Manoel, ao relatar a visita pastoral a Tiros (em 1922) informa que “Já estava fundada na parochia, desde há tempo, a “Liga pelas Vocações” que tomou novo incremento, durante a visita”. Não há menção a seminário diocesano, cuja necessidade de criação para suprir a escassez de clero é mencionada pela primeira vez por D. Manoel no começo da visita pastoral de 1924/1925, em Quartel Geral, assim relatada:

“Sendo de poucos dias (3 somente) a permanência do Sr. Bispo ali falou s. exia, no 2.º dia, sobre a grande necessidade do bispado, que é a escassez do clero, problema insolúvel, enquanto faltar o Seminário para o cultivo das vocações, e pediu, como em todos os lugares, o auxilio do povo em favor do Seminário. Facto ainda sem exemplo em todo o bispado, manifestou de modo admirável a boa vontade daquele povo e a inteligente compreensão da necessidade em questão” .

E registra a entusiasta recepção do povo à campanha em favor da criação do seminário ao longo de toda a visita pastoral, citando o nome das pessoas que mais se destacaram na coleta em favor do seminário e da obra das vocações, e o valor das doações recebidas.

Contudo, na visita pastoral de 1926, a campanha em favor do seminário deu lugar à “formação da caderneta que dá direito a manutenção de um aluno gratuito perpetuamente no seminário”. A bolsa de estudos se destinava aos alunos pobres, que era a maioria; os mais abastados custeavam os próprios estudos.

E foi este o expediente encontrado por D. Manoel para formar padres para a Diocese de Luz. Encaminhava os seminaristas para os seminários de Mariana, Diamantina, Santa Bárbara (Caraça), e, somente um (Mons. Geraldo Mendes Vasconcelos) para Belo Horizonte. Como a formação era demorada e custosa, supletivamente, para enfrentar a escassez de clero, D. Manoel contou com o apoio dos religiosos que atraiu para a Diocese (Franciscanos em Abaeté e Morada Nova, Sacramentinos de Nossa Senhora em Dores do Indaiá e Bom Despacho).

O que teria levado D. Manoel a desistir do projeto de um seminário próprio, embora tivesse ciência de que este seria uma possível solução para a escassez de clero diocesano? Certamente não foi eventual falta de apoio financeiro dos fiéis e das paróquias. Algum apoio sempre havia. D. Manoel não era de desistir ante essa dificuldade. De qualquer forma, a formação inicial dos padres era cara, mas necessária, e D. Manoel assumiu heroicamente a missão de recompor o clero diocesano. Penso que o principal obstáculo para a criação de um seminário próprio, e que D. Manoel não teve condições de superar, residia no modelo de Igreja da época, associado à realidade cultural e escolar da Diocese.

No modelo tridentino de Igreja, fortemente vigente na época, a formação do padre devia ser sólida na doutrina, na apologética, na moral, tornando o padre sábio e santo para assegurar a unidade da Igreja frente às forças de dispersão do mundo moderno. A formação nos Seminários já consagrados, em regime de internato integral, era rígida, bem estruturada, e o padre saía deles apto para a missão. Provavelmente foi o forte zelo pela qualidade da formação que levou D. Manoel a optar por encaminhar os seminaristas para os seminários já existentes ao invés de criar um seminário menor para acolher as vocações na Diocese e em preparação para os estudos superiores de Filosofia e Teologia em seminário maior.

Esta situação perdurou até 1960, quando há um novo momento na vida diocesana, com a chegada de Dom Belchior Joaquim da Silva Neto, CM. Saído da reitoria do Seminário da Prainha, em Fortaleza/CE, e com o carisma da Congregação da Missão para a formação do clero, Dom Belchior chegou a Luz aos 29/5/1960 como Bispo Coadjutor e Administrador Apostólico “sede plenae”. Já no início do ano seguinte, criou o Seminário Diocesano, sob o patrocínio de N. Sra. da Luz, para acolher os seminaristas menores, ainda no 1º e 2º graus, preparando-os para os estudos superiores em outros seminários.

 

Criação e Instalação

A criação e instalação do Seminário Diocesano vem pontuada no calendário no dia 2/2/1961 e foi comunicada aos diocesanos em “Carta Circular sobre o Seminário e as vocações sacerdotais”, datada de 24/4/1961. Para Reitor, D. Belchior nomeou o então Capelão Militar, Côn. César Alves de Carvalho, que era grande entusiasta da ideia de um seminário diocesano para acolher e estimular as vocações sacerdotais .

Eram tempos difíceis, de expectativa e de cautela. A Igreja preparava o Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII em 1959, e que trouxe profundas mudanças na compreensão da Igreja e no seu relacionamento com o mundo moderno. Este halo de renovação se fez sentir no Seminário nascente, premido pela falta de recursos, foi concebido em regime de semi-internato. Os seminaristas de 5ª e 6º série do Ginásio estudavam no Seminário, mas os de 7ª a 8ª série estudavam no Colégio São Rafael, das irmãs vicentinas. Os seminaristas que concluíam o 1º grau faziam o curso científico (2º grau) na Escola Estadual (posteriormente denominada “Comendador Zico Tobias” em homenagem póstuma ao pai de D. Belchior), estando, depois, aptos para o ingresso no seminário maior.

Esta abertura para a participação de pessoas leigas no processo de formação e a convivência dos seminaristas com ambientes escolares que não o do próprio seminário, foi uma novidade conflitiva e dolorosa. Os seminaristas eram cobrados como modelos de aluno e não podiam ter qualquer falta, deslize ou imperfeição que eram denunciados ao Reitor e repreendidos, inclusive com castigos físicos. Era como se o ambiente de seminário devesse ser estendido no entorno do seminarista, protegendo-o das influências externas. Mas foi também um significativo passo para viabilizar não só o Seminário em si, como também a sua adaptação ao novo contexto de Igreja que estava para vir.

Dos seminaristas desta época (de 1961 a 1970) restou somente o hoje Pe. Sebastião Fernandes Pereira, que ingressou no Seminário de Luz em 1963, indo depois para Mariana, onde cursou Filosofia e Teologia, sendo ordenado Padre aos 12/9/1975, em São Gotardo. É o primeiro Padre originado do Seminário de Luz.

Dom Belchior percebia que as instalações do Seminário eram provisórias e, para o futuro, seriam necessárias outras mais adequadas. Ele próprio relata como se deu a construção do novo prédio, que posteriormente se tornou a Faculdade de Luz:

“Lançamos mão de um terreno da Fazenda do Açudão – patrimônio da mitra – que havíamos conseguido registrar no Cartório de Dores do Indaiá. Loteamos todo aquele “cerrado” de menor cultura, aquela parte não habitada, ociosa, que se estendia depois da Vila Vicentina até o Campo de Aviação. Quando nos objetaram sobre o isolamento em que ia ficar, em Lua, o edifício do Seminário Menor (já em 1961, havíamos começado o Seminário nas dependências do Palácio) respondíamos, de maneira ousada e pretensiosa, que ali havíamos de ter, em breve, o melhor Bairro da Cidade, Bairro que pretendíamos chamar de “Bairro Monsenhor Parreiras”, lembrando o fundador da Diocese, sendo que havíamos de pôr nas ruas os nomes das Paróquias, de todas as Paróquias da Diocese de Luz – o que pudemos fazer, com a aprovação unânime da Câmara Municipal” .

 

A Institucionalização

A mudança para o novo prédio, amplo e ainda em construção à época, se deu no início do ano letivo de 1971 e representou uma nova etapa no Seminário: novas instalações, nova direção, novos seminaristas.

Côn. César deixa a reitoria e retorna à sua querida Estrela do Indaiá. É substituído pelo experiente Pe. José Luiz Saraiva CM, auxiliado no início pelo Pe. Jonas Victor de Morais (ordenado aos 19/12/1970 em Dores do Indaiá) e, a partir do 2º semestre, também pelo Pe. Wellington Costa (ordenado aos 7/8/1971 em Luz).

Os seminaristas na sua maioria (41 deles) eram novatos, selecionados no encontro vocacional promovido pelo Pe. Jonas, em Morada Nova, em dezembro de 1970. 14 eram do 2º grau e os demais (a maioria), do 1º grau.

A novidade introduzida na formação foram as reuniões semanais de revisão de vida, feita por grupos de escolaridade, além das conversas que o Reitor mantinha, reservada e periodicamente, com cada seminarista. Horário rígido. Levantar às 5h30, oração, missa, café e colégio para os do 1º grau (os do 2º estudavam à noite) e estudo ou alguma palestra de formação para os do 2º grau.

Das pessoas diretamente envolvidas no dia a dia do Seminário, nessa época, lembro o Sr. Zico Tobias, pai de D. Belchior, que sempre aparecia para resolver algum problema da obra e acompanhar os trabalhos no Açudão (de onde vinha o leite para o Seminário), o Sr. Lázaro e Dª Fia (cozinheira), eram verdadeiros pais para os seminaristas distantes e saudosos de casa. O trabalho humilde, silencioso e prestativo destas pessoas foi fundamental para o bom funcionamento da casa.

Durante as férias de julho de 1971 os seminaristas do 2º grau (com exceção de José Paulo – que cursava o 3º ano do 2º grau, José Libério e Joaquim Fernandes Pereira – que cursavam o 2º ano do 2º grau) fomos para São Gotardo, sob a reitoria do Pe. Jonas, na Fazendinha, que fora doada à Paróquia pelas Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora com a condição de que lá funcionasse uma obra social.

Assim, o Seminário de Luz passou a ter duas casas de formação. Em Luz, sob a direção do Pe. Saraiva e do Pe. Wellington Costa e em São Gotardo, sob a direção do Pe. Jonas Vitor de Morais, que no final do ano foi substituído pelo Pe. Eustáquio Afonso de Souza (que concluíra o curso de Teologia em Roma e fora ordenado Padre aos 12/9/1971 em Bom Despacho), sendo auxiliado na formação pelo ainda seminarista Pe. José Ferreira da Silva (ordenado Padre aos 12/12/1972, em Campos Altos), ambos auxiliando o Pároco, Pe. José Lima. No começo de 1972, veio também para ajudar na formação o seminarista maior, vindo de Niterói, Dorvalino José da Silva, que em 1973, foi enviado a Petrópolis/RJ para um ano de Teologia. Neste mesmo ano (1973), em julho, Pe. José Lima foi sagrado bispo de Itumbiara/GO e Pe. Eustáquio assumiu a Paróquia como Pároco. Os seminaristas foram morar na Casa Paroquial e, com a conclusão do 2º grau, não prosseguiram. Não vieram novos e a experiência em São Gotardo terminou.

As novidades introduzidas na formação em São Gotardo foram a vivência em um pequeno grupo (éramos 11 seminaristas) e o envolvimento dos seminaristas nas atividades da Paróquia: liturgia, círculos bíblicos, movimento de jovens, Campanha da Fraternidade, além de visitas ao Asilo. Pe. José Lima era muito dinâmico e envolvia os seminaristas nos trabalhos restritos aos finais de semana. Hoje sabemos o quanto a experiência pastoral é importante para os futuros padres.

Prosseguiu o Seminário em Luz, com o Pe. Saraiva, agora auxiliado pelo Pe. Luiz Pereira CM, e seminaristas do 1º e 2º grau. Os seminaristas maiores deste período estudavam em Mariana (Pe. Sebastião) e em Petrópolis (Pe. Dorvalino – ordenado aos 1/6/1974, em Moema, Pe. João Evangelista – ordenado aos 8/7/1978, em Tiros, Pe. Antônio Pires Galvão – ordenado pela Diocese de Itumbiara/GO – todos ingressados diretamente no Seminário Maior, José Paulo e Joaquim Pereira Rocha – que não concluíram o curso). Em 1974, também foram para Petrópolis e concluiram o curso integrado de Filosofia e Teologia em junho de 1979.

Com a vinda da Faculdade para Luz (1975) os seminaristas menores passaram a residir na casa em frente à Faculdade (hoje pertencente à mãe do Pe. João Evangelista). Pe. Saraiva retorna a Petrópolis no 2º semestre de 1975 e os seminaristas passam a residir com os Padres nas Paróquias. Em 1977 foram para Juiz de Fora. O primeiro seminarista da Diocese que concluíra o curso na Faculdade em Luz, Mauro José de Morais Tavares, foi para Belo Horizonte, residindo com o Pe. Henrique de Moura Faria (natural de Dores do Indaiá e colega de Mons. Eustáquio em Roma) na Paróquia Santíssima Trindade (bairro Gutierrez) até 1979, cursando Teologia na Universidade Católica de Minas Gerais.

O Seminário era mantido através da Obra das Vocações Sacerdotais, coordenada pelo Mons. Waldemar Chaves de Araújo, de contribuição das Paróquias em 50% da renda do mês de maio, e com a pouca ajuda das famílias dos seminaristas. As dificuldades financeiras eram enormes, o que refletia na instabilidade do processo de formação.

 

As duas casas do seminário

Em 1980 começa uma nova etapa no Seminário de Luz. Os seminaristas menores que estavam em Juiz de Fora retornam para Luz e os maiores vão para Belo Horizonte, onde, juntamente com o seminarista Mauro José de Morais Tavares, passam a residir em uma casa alugada pela Diocese à rua Xavier da Veiga, no bairro Minas-Brasil, cursando Filosofia e Teologia na Universidade Católica de Minas Gerais. Começa a nova experiência de duas casas, que perdura até hoje.

 

Contato e endereço:

Reitor do Propedêutico: Pe. Pedro Felisberto Ferreira

Rua Nossa Senhora de Fátima – Centro – Caixa Postal 44| 35 595-000 – Luz/MG

Tel.: (37) 3421-4685 – E-mail: [email protected]

Diretor espiritual: 

Pe. João Álisson do Carmo – (Paróquia São José Operário – Luz/MG)

Equipe formativa:

Pe. Marcos Tiago da Silva – (Reitor)
Pe. Pedro Felisberto Ferreira (Vice-reitor)
Pe. Antônio Campos Pereira
Pe. João Veloso Arantes
Pe. Cristiano Caetano Leal
Pe. João Álisson do Carmo
Assessores: psicólogos e professores