A Caminhada de Dom Manoel

Depois das visitas pastorais pela região do Alto Paranaíba Dom Manoel ficou alguns meses no Aterrado. Nesse período procurou acelerar a implantação da Comarca de Luz, que demorava por questão política, e deu andamentos aos projetos para a construção da nova Catedral. Monsenhor Vicente, seu secretário, já organizava visitas às outras regiões da diocese.

O destino era pela região do São Pedro do Doce (Moema), Bom Despacho e outras paróquias. Para se despedir do senhor bispo estiveram reunidos em frente ao Palácio Episcopal a irmandade do Apostolado da Oração, Mães Cristãs, Filhas de Maria, Congregado Mariano e autoridades entre as quais se fizeram presentes Dr. Pedro Cardoso (Dr. Peri) que acompanhou Dom Manoel até a fazenda do senhor Francisco de Paulo onde descansou da viagem. Do Aterrado até a Capela de São Pedro do Doce era uma viagem de dois dias.

Em todas as visitas Dom Manoel era recebido com festas e os atos religiosos como confissões, crismas, batizados, casamentos e celebrações de missas era o meio de levar a palavra de Cristo ao povo. Eram visitas que duravam de dois a cinco dias nas paróquias ou capelas.

Uma caminhada por toda a região

A distância de quase dez léguas era impossível de ser feita em num único dia. A comitiva atravessou o Rio São Francisco e pelo relato do próprio bispo: “mesmo com o roncar das chuvas, a travessia foi sem problemas.” Ao cair da tarde/noite a comitiva chegou à Fazenda da “Lagoa Verde” e foi recebida pelo senhor Gervásio de Oliveira, onde pernoitou.

Após o almoço seguiu rumo a Capela de São Pedro do Doce e se hospedou na residência do professor Joaquim Lacerda que acompanhou Dom Manoel por todo o povoado numa visita que durou dois dias. De Moema Dom Manoel seguiu para Bom Despacho que na época era a maior paróquia da região. Os povoados de Chapada, Engenho Ribeiro, Capivari e Passagem faziam parte de Bom Despacho que tinha uma população estimada em 15000 habitantes. Para cuidar da paróquia e da construção da Matriz a diocese contava com os serviços dos padres Sacramentinos enquanto a Santa Casa era entregue às Irmãs Vicentinas. Com a construção da Vila Militar a paróquia ganhou a capela de Santa Efigênia administrada pelos padres Sacramentinos.

Durante os cinco dias da visita Dom Manoel contou com o apoio de Faustino Assunção e dos Padres João Velloso, João Braga e Luiz Gonzaga. As Associações dos Vicentinos, Mães Cristãs, Apostolado da Oração, Damas da Caridade e as Filhas de Maria cuidavam dos preparos para os ofícios religiosos. Depois de uma semana em Bom Despacho a comitiva do senhor bispo seguiu para Capivari. Joaquim Euletério se encarregou de hospedar toda a comitiva e ajudou na coleta para a OVS em cerca de 450$000 Réis, uma quantia acima do esperado no pequeno povoado. Durante dois dias a população prestigiou a visita do ilustre visitante com festividades religiosas.

Ao se despedir Dom Manoel disse ao povo:” Que felicidade a minha de ver grandezas de espírito e de religiosidade neste pobre lugar. Deus lhes pague por tudo e que Nossa Senhora da Luz traga muitas bênçãos para vocês e que São Rafael lhes guie por estas paragens.” De Araújos para Saúde era pouco tempo de viagem.

Em Nossa Senhora da Saúde

Araújos e Perdigão eram separadas por pouco mais de duas léguas. Segundo relatos de Procópio Caetano e Maria Firmina escritos antigos mostravam que os padres Teodoro e Martinho haviam morado na região. Única comprovação da existência dos padres era um velho missal na matriz datado de 1789.

A estrada que liga Araujos até Perdigão se transformou numa avenida enfeitada com bandeirolas e arcos de bambu. Estavam presentes as irmandades de Mães Cristãs, Vicentinos e as crianças do catecismo que preparam toda a recepção à comitiva. Desde a primeira visita em 1923 Dom Manoel voltou à paróquia de três em três anos. Entre Araújos e Perdigão nasceu Belchior Joaquim da Silva que, anos depois, se tornaria bispo da diocese de Luz. Depois de cinco dias de intensa visita a Perdigão e capelas, Dom Manoel se despediu com a bênção apostólica e partiu para Santo Antônio do Monte. Cidade desenvolvida e servida por estrada de ferro que ajudava na rapidez das visitas pastorais.

Como em todos os lugares, a população recebia com festas o bispo. Pelo tamanho da paróquia e as capelas existentes Dom Manoel permaneceu na região por oito dias e colheu os frutos da evangelização feita pelo vigário Monsenhor Otaviano. Foi fundado o Apostolado da Oração e a Liga das Vocações com 300 sócios que contribuíram com mais de 10$000 Réis para a OVS. Cumprida a missão Dom Manoel tomou o rumo de Lagoa da Prata, conhecida como Paróquia de São Carlos do Pântano, numa viagem confortável de trem.

À chegada em Lagoa autoridades e a população esperava o senhor bispo. A visita a Lagoa da Prata se estendeu por três dias onde Dom Manoel acompanhado de Monsenhor Otaviano e Padre Mário Silveira fez as celebrações de costume. Lagoa era um povoado de grande prosperidade material mas, segundo relato do próprio bispo, contribuía pouco para a OVS. Dom Manoel viu em Lagoa da Prata um campo fértil para a evangelização e sugeriu a criação da Conferencia dos Vicentinos, das Mães Cristãs e do Apostolado da Oração. De Lagoa partiu Dom Manoel e comitiva para as visitas às capelas São Carlos, São Simão, Córrego Fundo, Albertos, Capitólio, São João do Glória, São Roque e Pimenta. Retornando ao Aterrado, Dom Manoel parou em Arcos para sua visita pastoral.

Paróquia de Nossa Senhora do Carmo

A Matriz de Nossa Senhora do Carmo existe desde o século XIX e constava em seu patrimônio mais de 20 alqueires de terra doados pelos senhores Manoel Ribeiro e Antônio Joaquim da Silva. Dom Viçoso, bispo de Mariana, criou a paróquia sendo desmembrada de Formiga e a construção da Matriz demorou mais de quarenta anos. Dom Manoel percorreu as capelas do Sagrado Coração no Pau Seco, do Espraiada e a Capela de São Julião que, pela história, foi construída pelo Capitão Manoel Martins.

Foi ao encontro da população da zona rural que aguardava o bispo e os padres. Arcos era uma paróquia rica e sua população explorava as grandes pedreiras de calcário destinados ao mercado de Goiás, Uberaba, Patrocínio e outras. A religiosidade da paróquia se manifestava nas associações existentes: Apostolado da Oração, Vicentinos, Nossa Senhora do Rosário e Mães Cristãs. Segundo relato a contribuição para a OVS não condizia com a riqueza material dos paroquianos, não tendo atingido a quantia de 7:000$ Contos de Réis. Depois de quase quatro meses longe do Aterrado Dom Manoel voltou para a sede episcopal para o merecido descanso. 

Obs: Araújos, Capivari e Perdigão pertencem, atualmente, à Diocese de Divinópolis.

Boa leitura!

Fontes: Arquivo da Mitra e fotos Silvio Cézar Chagas (Perdigão)